15 de jul. de 2016

ARTÍFICE DO TEATRO

Sábato Magaldi, Teatro, Teatro Brasileiro, Academia Brasileira de Letras
Sábato Magaldi: exemplo de amor e dedicação ao Teatro
Foto: Reprodução

O Teatro é uma arte em que no palco, local sagrado onde resultados se evidenciam, os atores reinam absolutos. Entretanto, essencialmente coletivo, o teatro muitas vezes não expõe fisicamente no tablado, apesar de seu alto poder de visibilidade, todos os seres imprescindíveis para sua existência.

Não por ingratidão ou por narcisismo exagerado, mas pelo simples fato de que, em um ato de humildade profunda, alguns seres aparentemente anônimos, por possuírem um amor incondicional pelo que fazem, preferem brilhar nos bastidores.

O mineiro Sábato Magaldi, morto em São Paulo ontem (14) aos 89 anos, era um desses singelos amantes incondicionais do teatro que optaram por brilhar sem pisar fisicamente no palco para que o teatro resplandecesse intensamente.

Peça indispensável na imensa engrenagem que é o fazer teatral, Sábato Magaldi, mas do que Professor, estudioso, investigador apaixonado, crítico e ensaísta, era sobretudo um homem de teatro.

Professor Sábato e o teatro estavam inevitável e intrinsecamente ligados um ao outro. Eram irmãos siameses, incapazes de se desvencilhar. 

O relacionamento deles era repleto de amor e paixão recíprocos.

Foi em 1950 que o teatro grudou no Professor Sábato e não o largou nunca mais. Recém formado em Direito no Rio de Janeiro, Magaldi começou a publicar suas primeiras críticas no Diário Carioca. Daí para frente foram mais de seis décadas de fidelidade absoluta.

Suas armas eram as palavras, seu escudo o pensamento.

Investigou, escreveu e ensinou sobre Teatro com a paixão e o fulgor de um eterno aprendiz.

Pertenceu a uma geração de críticos e estudiosos do teatro difícil de ser superada, da qual também fazem parte Décio de Almeida Prado, Anatol Rosenfeld e Yan Michalski.

Especialista nas obras de Nelson Rodrigues, Sábato Magaldi foi essencial para o entendimento do universo rodrigueano. 

Contribuiu sobremaneira para montagens modernas e vigorosas das peças do autor de Vestido de Noiva e incentivou o surgimento de novos dramaturgos.

Membro da Academia Brasileira de Letras desde 1995, Sábato Magaldi alcançou definitivamente ontem seu lugar no panteão das artes.

Deixa-nos preenchidos por sua obra e comovidos por seu exemplo de amor e dedicação ao Teatro.

Gratidão, Mestre!

Meus sentimentos Edla van Steen.

RIP, Sábato Magaldi!

14 de jul. de 2016

CINEASTA DAS INQUIETAÇÕES

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Hector Babenco foi considerado um dos maiores diretores de cinema
Foto: Reprodução

O cineasta Hector Babenco teve seu primeiro contato com a sétima arte aos sete anos de idade. Nascia ali um misto de paixão e alumbramento recheado de desejos por contar histórias. Esses desejos o acompanharam até ontem, (13/06), quando sua trajetória de sucesso e “tesão pelo cinema” – como costumava afirmar, foi interrompida aos 70 anos por um ataque cardíaco.

De ascendência judaico-ucraniana, Babenco nasceu na turística Mar del Plata, mas não gostava que lhe chamassem de naturalizado brasileiro. “Sou um brasileiro que nasceu na Argentina”, costumava reiterar, apesar de continuar exercitando o sotaque portenho.

Um dos primeiros cineastas brasileiros que alcançou respeito internacional pós Cinema Novo, ao longo de 43 anos de carreira e mais de dez filmes, Babenco vivenciou seu amor pelo cinema também como roteirista e produtor.

Em seus filmes, personagens marginalizados foram destaque e muitas vezes eram maiores do que as situações em que se encontravam. Viviam sempre no limite e pareciam estar constantemente à beira do abismo em luta consigo mesmo e com seu duplo.

Urgência e ruptura marcaram sua filmografia permeada por cenas fortes, mas também repletas de beleza estética como em Pixote, eleito como um dos 100 melhores filmes de todos os tempos.

Inquietação e inconformismo fizeram Babenco exercer com propriedade a máxima repetida por Paulo Autran de que “cinema é arte do diretor”.

Diretor que soube expressar o bom e o ruim presentes na humanidade, Hector Babenco foi um ótimo contador de histórias, como devem ser os cineastas.

Histórias que conseguiram atravessar o tempo e através de sua filmografia continuarão revelando o humano que ele sempre fez questão de desnudar.

R.I.P., Hector Babenco!


12 de jul. de 2016

NOVAS REGRAS IMPÕEM LIMITES PARA PARTIDOS E CANDIDATOS NAS ELEIÇÕES 2016


As medidas fazem parte da mini reforma política sancionada pela presidente afastada Dilma Rousseff

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Novas regras deixam eleições 2016 mais transparentes
Foto: Joaquim Silva Filho

Joaquim Silva Filho
Luiz Felipe Correia

As mudanças aprovadas pelo Congresso Nacional para as eleições municipais 2016 estabeleceram limites para a campanha eleitoral e normatizaram o uso da propaganda gratuita no rádio e na TV.

Com as novas normas a duração da campanha foi reduzida de 90 para 45 dias e a exibição do horário político passou de 45 para 35 dias.

O formato de veiculação das propagandas também será outro. No primeiro turno haverá dois blocos de dez minutos cada, para candidatos ao cargo majoritário.

Os aspirantes a vereador aparecerão apenas em inserções de 30 segundos a 1 minuto, exibidas ao longo da programação normal das emissoras.

Os partidos políticos também foram alvo das mudanças.

De acordo com as novas regras as agremiações partidárias não serão mais punidas. Apenas os candidatos poderão ter o registro suspenso se tiverem as contas da campanha rejeitadas ou se não fizerem a correta prestação de gastos.

Para o vereador e candidato à reeleição pelo Partido Verde de São Paulo, Gilberto Natalini, as mudanças nas regras eleitorais possuem aspectos positivos e negativos para o processo democrático.

Gilberto Natalini destaca como positivo um certo regramento no financiamento de campanha, mas reclama que do ponto de vista do dialogo as mudanças “restrinjam o tempo de campanha e, consequentemente, a possibilidade de debate entre os candidatos e o eleitor”.

De acordo com Natalini, limitar o tempo de exposição dos candidatos não faz bem para a democracia. “Vai facilitar para quem é conhecido e já tem mandato e prejudicar os novos candidatos, já que o espaço será menor”, pontua.

Novos critérios para a produção, criação e realização das propagandas também foram estabelecidos pela mini reforma política.

Na eleição desse ano, montagens, trucagens, computação gráfica, edições e desenho animado não serão mais permitidos.

No dia da votação, os jingles de campanha também estão proibidos de serem veiculados, até mesmo em bicicletas e carroças, mais comuns em cidades do interior.

Na opinião do publicitário e presidente da Associação Brasileira de Consultores Políticos, Carlos Manhanelli, a proibição do uso de recursos áudio visuais mais apurados, como os efeitos especiais, nivela por baixo a qualidade das produções e pasteuriza os programas.

Segundo Manhanelli, a tendência é que, aquilo que já despertava pouco interesse apenas por tratar de política, agora se torne mais intragável para o público em geral.  “O cerceamento nunca é interessante, ainda mais quando feito por pessoas que pouco ou nada entendem de comunicação. Ao praticamente roteirizarem os conteúdos dos programas, corremos o risco de ver formatos muito parecidos e cansativos aos olhos do eleitor”.

Opiniões divididas


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Primeiro Turno das eleições municipais será dia 02 de Outubro
Foto: Divulgação TSE

Criado em 1962 para que os candidatos pudessem expressar suas propostas no rádio e na TV de um modo menos formal, a propaganda eleitoral ainda divide opiniões, apesar de recente pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha apontar que 64% dos paulistas acham necessária sua manutenção.

A manicure Josefa Soares da Costa, 53 anos, é uma das eleitoras que não gosta da propaganda eleitoral gratuita. Para ela, “os candidatos só mentem e mentira não vale a pena assistir”.

Apesar de afirmar que vota por obrigação e de deixar claro que a propaganda eleitoral não influencia seu voto, Josefa acredita que se não existisse o horário gratuito no rádio e na TV talvez houvesse mudanças na eleição dos candidatos, embora não negue que muita gente ainda se deixa iludir com mentiras.

Embora a propaganda política não seja bem vista por muitas pessoas, o sociólogo Joelson Fernandes acredita que a receptividade dos eleitores em relação ao horário político progrediu nos últimos anos.

Fernandes toma como parâmetro para apontar essa progressão o número de votantes no pleito de 2014, que foi mais de 140 milhões frente aos 800 mil em na primeira eleição presidencial.

Mesmo defendendo que houve evolução na aceitação do eleitor pela propaganda política, Fernandes evidencia que há uma tendência ao longo da história de se mostrar o brasileiro como passivo diante da política. “Na verdade, ele não é. Esse distanciamento decorre da crença de que o Estado não vai trazer nenhum benefício no curto ou médios prazos”, pondera.

Para Fernandes, os gastos com propaganda eleitoral são a prova de que ela influencia a decisão do eleitor. Segundo ele, se não influenciasse, os políticos não teriam gastado R$ 74 bilhões na eleição de 2014. “Agora a propaganda tem que atender um número maior de pessoas e precisa chegar em grupos cada vez mais diversificados”.

O lado pitoresco das propagandas é outro aspecto que também chama atenção já que elas se tornaram palco para a exibição de personagens inusitados que vão desde o nordestino e seu jegue ao comediante do momento.

Ao longo de seus 54 anos, a propaganda eleitoral gratuita tem ajudado muito político a se manter no poder e muito artista a voltar a ser celebridade, alguns deles conseguindo ser eleitos com ampla margem de votos, como foi o caso do palhaço Tiririca e do falecido costureiro Clodovil Hernandes.

A versão 2016 da propaganda eleitoral começa dia 16 de agosto na internet. No rádio e na TV a veiculação ocorrerá de 26 de agosto a 30 de setembro.