Blog sobre Política, Comportamento, Cultura. Opinião, entrevistas, análise e interpretação de fatos baseados em dados e na obervação minuciosa da realidade.
Voz rouca e marcante, Angela Maria foi referência e inspiração para várias cantoras. Foto: Arquivo/Estadão Contéudo
A voz rouca e marcante de Angela
Maria, ícone e inspiração para várias gerações de cantoras, silenciou ontem à
noite, aos 89 anos, depois de 34 dias de internação em um hospital da capital
paulista.
Presença marcante
nos palcos brasileiros por mais de sete décadas seguidas, a Sapoti, apelido dado por
Getúlio Vargas por conta da voz doce e do tom de sua pele, eternizou-se como uma das grandes Rainhas do Rádio.
Vinda de família
protestante – o pai era pastor de uma igreja Batista – a fluminense de Macaé, Abelim Maria da Cunha,
seu nome de batismo, foi tecelã e inspetora de lâmpadas antes de despontar para
o sucesso em 1947, através do rádio.
Dos sambas-canção,
passando pelas músicas românticas e de dor cotovelo, Angela conseguiu manter-se
ativa e bem sucedida como cantora e intérprete. Dias antes de ser internada, continuava
lotando casas de shows em todo o país.
Junto com Cauby
Peixoto, amigo e parceiro de palcos, teve uma das carreiras mais admiradas, reconhecidas e
longevas de todos os tempos.
Diva Nacional, Angela
Maria sai de cena vitoriosa, pronta e iluminada para cantar na eternidade. RIP, Angela
Maria!
A MPB perdeu mais uma joia rara de sua
coroa na madrugada dessa sexta-feira. Luiz Melodia, o Pérola Negra, partiu aos
66 anos, vítima de complicações decorrentes de um câncer, deixando uma história repleta de música e simpatia.
Carioquíssimo da
gema, Melodia, que tinha como nome de batismo Luiz Carlos dos Santos, nasceu no
morro de São Carlos, no Estácio.
Adotou o
sobrenome artístico do pai, Oswaldo Melodia, funcionário público e músico
amador boêmio do Estácio, um dos berços do samba carioca. A partir do Estácio, Melodia espalhou para todo o Brasil sua luminosidade através da voz suave empregada em grandes sucessos.
Tímido e de
comportamento reservado, o supercarioca Luiz Melodia trazia a música
impregnada no nome e na vida. Preferia
cantar do que falar.
Era conhecido e
admirado pelos amigos por sua simplicidade e singeleza, características que
soube valorizar e utilizar com reconhecimento em todas as músicas que cantou e
gravou.
Melodia, que quando jovem queria ser jogador de futebol, deixou de
lado o sonho de ser ponta-direita do Vasco para se tornar um craque da MPB.
Ótima troca para
ele e para nós que poderemos, todas as vezes que quisermos, nos alegrar com sua gentileza impregnada no seu Swing, na poesia singular de suas
canções, na sua voz suave e gostosa de se ouvir.
María Eva Duarte,
Evita, continua viva na memória dos argentinos 65 anos após ter morrido.
Foto: Reprodução
Eram 20h45 daquele sábado, 26 de
julho de 1952, quando as emissoras de rádio locais anunciaram que María Eva
Duarte, aos 33 anos de idade, saía da vida para ser eternizada na memória e no
coração do povo argentino como uma das maiores e mais influentes personalidades políticas de todos os tempos.
Evita, após ter
sido derrotada por um câncer diagnosticado alguns anos antes, mas tratado de
forma insuficiente, a partir daquela data passou a
integrar o imaginário afetivo e histórico de uma imensa massa de argentinos.
Imediatamente após
sua morte, as ruas de Buenos Aires viraram o centro da peregrinação de milhares de cidadãos órfãos daquela que fora considerada por muitos mãe, amiga, estadista e líder política.
Muitos
descamisados – era assim que Evita chamava os pobres - se comportaram como se o
país inteiro tivesse apenas uma única cidade e um só destino: Buenos Aires.
Durante duas
semanas, mulheres, homens, idosos e crianças velaram e choraram a morte da
“Madre de los pobres y descamisados.”
Entretanto, 14
dias foram insuficientes para apagar a dor e serenar os corações dos argentinos,
tanto que o corpo de Evita foi embalsamado e ficou exposto à visitação pública
durante pelo menos dois anos.
Em 1955, o corpo
de Evita foi roubado e enterrado na Itália para, somente mais de 20 anos depois,
encontrar sepultura definitiva na Argentina.
Tamanha comoção,
dor e reverência dos descamisados argentinos foi justificada pelo fato de Evita
Perón ter sido considerada a maior figura púbica feminina a dedicar seu carisma, sua
influência política e sua persistência em solidariedade ao povo e às questões
sociais dele.
Vida difícil, ascensão meteórica
Filha de um
relacionamento extraconjugal entre uma costureira e um grande fazendeiro, mal
querida pelos meio-irmãos, Evita aprendeu desde criança a conviver com sentimentos
opostos e a superar adversidades.
Aos 15 anos de
idade mudou-se sozinha para Buenos Aires em busca do sucesso como atriz, mas
nunca obteve reconhecimento considerável da classe artística nem da crítica,
apesar de ter feito participações em filmes, atuado em radionovelas e incursionado
pelo teatro.
Em
1944, ao conhecer Juan Domingo Perón, 24 anos mais velho do que ela, Evita, que
quando adolescente afirmara que só se casaria com um príncipe ou um presidente,
conseguiu realizar seu segundo sonho e viver seu melhor papel: o de
primeira-dama estadista.
Não poupou
esforços para efetivar sua união com Perón a ponto de falsificar os documentos e mudar
seu nome de Eva María Ibarguren para María Eva Duarte.
Apesar de ter
atuado em defesa dos argentinos menos favorecidos e ter ajudado a devolver a
dignidade a muitos cidadãos construindo escolas, hospitais, lares para
mães solteiras, asilos para idosos, distribuído alimentos e roupas através da Fundação Eva Perón, Evita dividiu a opinião dos militantes da
esquerda e da direita argentina.
Mesmo tendo
criado o Partido Peronista Feminino e atuado para que o voto das mulheres passasse a ser considerado um direito em 1947, Eva Perón não foi aclamada pela esquerda da Argentina como uma militante, chegando a ser chamada de
assistencialista e acusada de populista por seus adversários.
Atriz, estadista,
política, mulher destemida e de ascensão rápida e passagem meteórica pela vida,
Evita, a menina decidida e líder de braços sempre abertos para os mais necessitados, ainda continua sendo lembrada tanto pelo o que fez como pessoa pública quanto
pelo que provocou na história da Argentina e dos que ainda reconhecem nela a representação
marcante e intensa de seu povo.
Hoje, passados 65 anos após sua partida, Evita ainda está viva na memória de seu povo como sempre sonhou. Segue
sendo amada e reverenciada além morte. Permanece como um mito ainda não substituído no ideário
político e afetuoso de milhares de argentinos .
FRASES
“Onde há uma
necessidade, nasce um direito.”
“Eu não queria
nem quero nada para mim. A Minha glória é e será sempre Perón, escudo e
bandeira do meu povo. E, enquanto na estrada deixar pedaços da minha vida, sei
que você recolhe meu nome e carrega a bandeira para a vitória.”
“Como mulher
sinto a ternura das pessoas de onde eu vim.”
“É chegada a hora
da mulher que compartilha uma causa pública e a hora da morte da mulher com valor
numérico e inerte dentro da sociedade.”
“De nada valeria
um movimento feminino em um mundo sem justiça social.”
“Se este povo me
pedisse a vida, daria cantando, porque a felicidade de um descamisado vale mais
do que toda minha vida.”
“A pátria não é
patrimônio de nenhuma força. A pátria é o povo e nada pode se sobrepor ao povo
sem que corram perigo a liberdade e a justiça.”
“Nossa pátria não
será mais uma colônia ou a bandeira tremulará sob suas ruínas.”
“Ninguém, senão o
meu povo me chama de Evita. Quando escolhi ser Evita, escolhi o caminho do meu
povo.”
Sargent Pepper’s Lonely Hearts Club Band ainda é o LP mais emblemático da história do Rock
Foto: Reprodução
NO dia 1º de Junho de 1967 os olhos e
os ouvidos dos amantes da música se voltaram atentos para os Estados Unidos. A data marcou o lançamento
do legendário Sargent Pepper’s Lonely
Hearts Club Band pelos Beatles.
Meio século depois, o disco ainda continua
sendo celebrado como um dos maiores e mais emblemáticos
álbuns do quarteto de Liverpool
e da história do Rock.
O Sargent Pepper’s foi sucesso de vendas e confirmou o Beatles como a
banda de rock mais influente de todos os tempos.
O vinil também alcançou pioneirismo ao incorporar uma capa dupla comas letras completas de suas 13
faixas.
O LP histórico reuniu talento, criatividade artística e engenharia
sonora em um experimento que, a principio parecia conceitual, mas que se tornou um dos produtos artísticos mais
populares, ricos e inovadores ao longo dos anos.
O disco junta e
mistura com bom gosto, humor, ousadia, estilos musicais e artísticos diversos
que vão do circo à música clássica em uma viagem exuberantemente psicodélica de sons, cores e sentidos que
resultaram em um tremendo sucesso de venda, público e crítica.
O Sargent Pepper’s surgiu em um momento delicado da carreira dos
Beatles, logo após a banda ter realizado uma série de turnês em que, da mesma
forma que os astros eram reverenciados em alguns países, também eram
hostilizados em outros.
Todo esse descompasso
ocorreu pelo fato do quarteto ter assumido posturas que desagradaram alguns fãs,
e em decorrência de John Lennon ter
afirmado que eles eram mais populares que Jesus
Cristo.
Essas controvérsias foram
a gota d’água para que Paul Mccartney,
John Lennon, George Harrison e Ringo Star
reconsiderassem as viagens do grupo e dessem adeus definitivo às temporadas de turnês, ainda em 1966.
Porém, o Sargent Pepper’s emplacou. O disco
ficou 27 semanas na top parade do Reino Unido e três meses e
meio como número um nos Estados Unidos.
Além das músicas, a capa do disco, aclamado com o mais
importante da história do Rock, e
que em 2011 vendeu mais de 35 milhões de cópias, também é considerada
uma obra de arte, um capítulo à
parte cheio de histórias e simbolismos.
A capa, criada por Peter Blake e Jann Haworth a partir de uma ideia nascida na mente inventiva de Paul Mccartney, que também sugeriu o nome
do disco, reuniu em uma mesma foto gurus,
artistas, jogadoresde futebol e escritores.
A dupla capa, outra
inovação da época, foi a vencedora do Grammy
na categoria de artes gráficas em 1968, mas a empreitada só foi realizada
porque contou também com o trabalho coletivo de pelo menos dez artistas.
Entre as celebridades
que ilustram a capa principal do disco estão, lado a lado, ícones como Paramanhansa
Yogananda, Bob Dylan, Marlon Brando, Marlene Dietrich, Oscar
Wilde, Sonny Liston e Albert Stubbins.
Há relatos de que John
Lennon propôs que as imagens de Jesus
Cristo e de Adolf Hitler também
fizessem parte do grupo de personalidades estampadas na premiada capa, mas a
sugestão foi imediatamente rejeitada por todos os integrantes do projeto.
Anos depois, a capa seria
recriada por artistas gráficos em álbuns de outros astros do mundo da música.
A última recriação
ocorreu no ano passado pelas mãos do artista inglês Chris Backer.
A reprodução trazia estampadas
as imagens de celebridades que morreram em 2016,
e fazia paródia a um dos principais eventos políticos do ano.
No espaço que ocupava o
nome do Beatles foi colocada a expressão Brexit,
referência ao plebiscito que marcou
a saída do Reino Unido da União Européia.
Cinco décadas depois de seu lançamento,
Sargent Pepper’s Lonely Hearts Club Band,
primeiro produto musical a viralizar
em uma época em que não havia redes sociais,
continua insuperável.
Verdadeira overdose criativa e musical, o agora coroa Sargent Pepper’s segue alegrando o
coração solitário dos fãs dos
Beatles, apimentando o Rock, e tem tudo para permanecer artisticamente insuperável
durante os próximos 50 anos.
Artista de criatividade intensa, Belchior morreu aos 70 anos
Foto: Divulgação
De nome comprido e talento de primeira grandeza, o cantor
e compositorAntônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes, o Belchior,morreu hoje
(30), aos 70 anos, aparentemente de
causas naturais, em Santa Cruzdo Sul (RS).
Belchior era o décimoterceiro filho de uma família de 23 irmãos (13 mulheres e 10 homens). A paixão espontânea
pela música desabrochou cedo no
garoto de Sobral, cidade do interior
do Ceará.
O dom, que mais
tarde seria reconhecido como criatividade
à flor da pele, foi influenciado e amparado pelo talento amador do avô que tocava instrumentos musicais, da mãe que eracorista de igreja e de alguns tios, seresteiros e tocadores de violão.
Em 1971, depois de quatro anos cursando medicina, Belchior decidiu transformar
todo seu talento artístico e seu conhecimento sobre filosofia,política, religião, ciência, em música de alta qualidade.
Com “A hora do almoço” venceu o Festival Universitário da Canção, em
1971. Em 1972, abandou o curso de medicina
da Universidade Federal do Ceará para
definitivamente trilhar os caminhos
sem volta da música. Belchior considerava sua músicacontemporânea, nordestina e autobiografica, em determinado nível. Costumava afirmar que
procurava com suas letras e canções apresentar uma vertente verbal e visual nova.
O aspecto visual do concretismo em suas composições iniciais logo foi adotado,
assumido, apoiado, vinculado e misturado à tradição
da música nordestina e cearense, em particular.
Artista de grande talento e reconhecimento nacional, Belchior
sempre buscou em seu trabalho misturar
a novidade com a tradição. Conseguiu, como poucos,
fazê-lo com sucesso e propriedade.
Cantor e
compositor que quase se tornou padre,
Belchior, quando criança, tinha o hábito de fugir de casa. A partir de 2007, começou a sair de cena.
Em 2008, Belchior resolveu se auto-exilar
e fugir definitivamente do campo de visão do cotidiano, do alcance da fama e do
sucesso, ao ponto de não comparecer
ao sepultamento da mãe.
De comportamento intenso e ao mesmo tempo enigmático, Belchior transformou-se em uma esfinge:
todos queriam decifrá-lo, mas ao
mesmo tempo tinham respeito por sua
decisão e pessoa, talvez por medo de
serem devorados por ele.
Autocrítico bem-sucedido de sua geração, Belchior buscou
insistentemente o novo, o momento presente da música
popular brasileira.
Mesmo ausente do show business por uma decisão consciente, ele sempre foi uma presença marcante na MPB através da suas letras, canções e da história
que construiu.
Apesar de sua reclusão determinada e de seu silêncio decidido, Belchior, o rebelde cearense e enigmático rapaz latino-americano, continuará presente no mundo através da intensidade de suas letras,
da sonoridade marcante de suas músicas e da força perene e atemporal de suas canções.
RIP, Belchior!
BELCHIOR POR BELCHIOR
“O meu trabalho
pretende, gostaria de ser, um objeto poético transformador. Que tende para os
interesses da história do homem. Um objeto útil, enfim. Uma arte que sirva, que
não seja ornamental. Uma arma na mão do homem para a conquista de si mesmo,
do universo e dos espaços esquecidos. Tudo isso, claro, aparece como um
universo, novo, jovem e cujo conhecimento só pode ser expresso em palavras
novas. É uma utopia paradisíaca, de transformação pelo que é primitivo no homem”
(Sobre si mesmo e seu trabalho. Em entrevista à Rádio Universitária FM)
“Essa música fala
de uma pessoa do terceiro mundo na esquina do mundo. Na expectativa, dependente
do resto do mundo, mas com uma capacidade tremenda de desdobramento, de
resistência, de rebeldia de espírito, de novidade, de transformação, de poder
novo, enfim. Assume de fato sermos latino-americanos sendo brasileiros, cearenses,
e justamente participantes da fraternidade latino-americana. Fala de “desinsular”
a cultura, de fazer com que a cultura seja penetrante, troque energias com
todos os espaços. Mas, também é uma música irônica, satírica, de humor branco,
negro, amarelo e vermelho sobre a situação das pessoas da Latina América”.
(Sobre a canção Apenas um rapaz latino-americano. Em entrevista à Rádio
Universitária FM)
“O humor cearense
está sempre presente na minha música. É uma ironia característica da nossa
cultura, mas que também contém uma certa graça. Não quero dizer que minha
música contenha naturalmente um humor explícito ou que eu faça uma música
satírica do ponto de vista convencional. Todos esses dados aparecem diluídos no
meu trabalho de um modo muito fino e sutil, o que aumenta cada vez mais o teor
e a carga de ironia. (Sobre o tom humorado de suas letras e canções. Em entrevista à Rádio
Universitária FM).
“Foi uma música
que estava pronta há mais de um ano esperando a gravação de um artista
competente. Foi a que mais marcou a minha vida de artista e cidadão naquele momento.
Foi a música que mais simbolizou o movimento espiritual, todo o momento da juventude
brasileira naquela circunstância e que também teve a sorte e a felicidade de
ser interpretada por Elis, acrescentando ao material por si mesmo rico e
complexo, o poder de sugestão da voz de Elis, o poder de invenção da voz de
Elis. (Sobre
“Como os nossos pais”. Em entrevista à Rádio Universitária FM).
“O meu trabalho
tem uma continuidade, no sentido de que a cada disco eu vou tentando completar
aquilo que está cantado anteriormente. Naturalmente que tudo isso está
acrescido de comportamentos criativos novos, da tentativa de descobrir novas
formas de cantar, de dizer,de pensar o ato de fazer música e de apresentar essa
nordestinidade nova, de uma “cearensidade” aberta para o mundo. O meu trabalho
vem tentado tudo isso de um modo muito amplo, no sentido de abrir uma perspectiva
para o mundo todo mesmo, de tal forma que meu trabalho possa ser ouvido e
interpretado como um trabalho de plena contemporaneidade”. (Sobre o significado
de seu trabalho. Em entrevista à Rádio Universitária FM.).
“O tema básico de
minha música é o espírito de minha geração, a vida cotidiana do cidadão comum.
É uma tentativa de retratar de um modo bastante característico, individual,
pessoal, a vida do homem brasileiro do meu tempo, de tal forma que a fonte de
expressão continua sendo a observação direta e imediata da vida mesmo”. (Sobre
sua fonte de inspiração. Em entrevista a Josué Mariano.).
“É mais o
critério da criatividade, do meu esforço criativo, o momento de liberdade de
criação e de expressão. Como não faço um trabalho voltado imediatamente para o
sucesso, ou o sucesso imediatista, eu uso como critério para escolha das
canções ou para a própria feitura delas, o critério mais artístico, mais
expressional e mais poético, desligado do rádio, da televisão e de se a música
vai fazer sucesso ou não. Me preocupo realmente com o exercício do meu ofício
de artista e de cantor. Se a música fizer sucesso, vem por acréscimo”. (Sobre o critério que usa para compor suas
canções. Em entrevista a Josué Mariano).
“Sou um operário
da minha música e estou ligado ao meu trabalho diariamente. (...) Gosto muito
do exercício do meu ofício porque ele combina o prazer com o fazer e a criação
com o exercício contínuo da vida comum. Tenho uma visão artística ligada mais
com o fazer, com o trabalho, do que com uma visão mais brilhante, que me parece
mais tola”. (Sobre o seu ofício. Em entrevista a Josué Mariano).
“Eu gostaria de
ter uma mensagem muito concreta, muito direta, que pudesse salvar as pessoas,
encaminhá-las, mas eu não tenho essa mensagem sequer para mim, de tal forma que
eu acho que não devem me seguir porque eu também estou perdido. Cada um deve fazer
ou encontrar seu caminho. Sobretudo, não façam como meu, inventem. Ou melhor,
façam como eu: inventem!”. (Sobre qual mensagem deixaria para os fãs. Em
entrevista a Josué Mariano).
Movimento de renovação da cultura brasileira, a Tropicália foi criticada e exaltada
Foto: Reprodução/Internet
Há 50 anos, em meio ao caldeirão
efervescente da década de 60 e ao crescimento das ditaduras militares que pipocavam principalmente
na América Latina, nascia a Tropicália, movimento pan-cultural que promoveu uma verdadeira revolução estética na cultura e na arte brasileiras.
A Tropicália chegou com tudo, não só para
organizar o movimento e orientar o carnaval, mas também para pôr mais
lenha na fogueira das insatisfações
com a falta de criatividade e a mesmice reinantes no país.
O Movimento Tropicalista evidenciou-se
como um respiro novo diante da
sufocante caretice dos valores morais
intimidadores sustentados por comportamentos limitantes e pelo marasmo da
rotina bem comportada que era a produção artística da época.
A Tropicália promoveu
o isolamento e a incineração da pungência do conservadorismo crescente no Brasil.
Movimento que
teve um papel histórico, na opinião de Chico
Buarque. Uma fase fundamental para a música popular brasileira em termos de
inovação e experimentação, segundo Haroldo
de Campos. Cultura da descolonização, na visão de José Celso Martinez Correa, a Tropicáliainovou, renovou, restaurou, resgatou, chocalhou a música, as artes plásticas e o teatro
nacional.
O Movimento
Tropicalista tornou-se um divisor de
águas entre o antes e o depois daquele
que se tornaria um momentum culturalúnico.
A ousadia da Tropicália foi além da
simplicidade do banquinho e um violão da Bossa Nova e do balanço cadenciadamente comportado do Iê-iê-iê da Jovem Guarda.
Os tropicalistas entraram sem pedir
licença para estabelecer novos paradigmas
em relação ao pensar e ao fazer artístico e cultural do Brasil. ARTE ESSENCIAL
Ao mesmo tempo em
que tinha arte como essência coletiva, a Tropicália também promovia
a ruptura com velhos padrões ao inserir e adaptar modernos acordes, elementos
sonoros diversos e meios eletrônicos
sofisticados presentes na cultura
mundial às criações artísticas
nacionais que brotavam intensa e psicodelicamente da mente criativa e das mãos de seus artistas.
O resultado foi
uma colcha de retalhos costurada por
tendências diversas, um patchwork multicultural que recriou e
atualizou o canibalismo praticado
por Oswald de Andrade e pelos Modernistas de 1922.
Os tropicalistas
promoveram o diálogo entre o moderno e o pós-moderno, a tradição
e a vanguarda, o erudito e o popular.
Para o jornalista e escritorJoão Luís Gago,
o maior mérito do Tropicalismo foi inserir
a produção musical no Pós Modernismo. “O elemento paulista - muita
antena, poucas raízes -, aliado à baianidade de Gil, Caetano e Tom Zé,
foi explosivo”, ressalta.
Gago destaca ainda que os arranjos
maravilhosos e vanguardistas de Rogério
Duprat, a técnica e as informações sobre a cultura pop dos irmãos Arnaldo e Sérgio Baptista, dos Mutantes,
mais a influência de Augusto e Haroldo de Campos sobre Caetano Veloso
foram fundamentais para formatar um movimento que era odiado pela esquerda e
pela direita.
De fato, a Tropicália não conseguiu agradar 100%gregos e baianos.
CRÍTICA E EXALTAÇÃO
O Movimento foi exaltado e criticado por artistas, leigos e especialistas da época, apesar de
reunir em seu time uma verdadeira constelação
de estrelas com pensamentos e atitudes nada ortodoxas, como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, Hélio Oiticica, Gal Costa, Nara Leão, Glauber Rocha, José Celso Martinez Correa.
As críticas, em boa parte, vinham da esquerda que se ressentia da ausência de engajamento político por parte dos tropicalistas.
Entretanto, os
artistas se consideravam revolucionários
não necessariamente em relação à causa
política, mas na estética que,
ao não se subjugar aos padrões tradicionais comportados
vigentes no país, era a forma artística
de resistência pela qual eles expressavam
sua ação política por si só.
Mas, nem tudo
foram flores e a Tropicália nunca
navegou em um mar de rosas. Os militares
também não pegaram leve nem pouparam esforços para implodir e esvaziar o Movimento Tropicalista.
Em 1968, sob a alegação de desrespeito aos símbolos nacionais e de insultos ofensivos às Forças Armadas, os militares prenderam Caetano e Gil durante uma
apresentação com os Mutantes, no Rio de Janeiro.
Na noite do
domingo do dia 20 de julho de 1969, Caetano e Gil fizeram o último show em Salvador. Logo
depois, deixaram o país rumo ao exílio na Europa,
sob a ameaça de que se voltassem ao Brasil seriam imediatamente presos.
A Tropicália fechava seu ciclo de produção cultural intensa e transformadora, porém o Tropicalismo prosseguiria fazendo protestos em forma de metáforas.
Dona de divinas
tetas, a Tropicália foi um traço
fora da curva cultural e da vida
cotidiana do Brasil. Teve duração curta, mas o suficiente para dar o seu recado, fazer
história, “derramar o leite bom na nossa cara e o leite mal na cara dos caretas”.
Andy Warhol artista multimídia provocativo
e inovador
Foto: Reprodução Pinterest
Foi em um domingo, há exatos 30 anos, que Andrej Varhola Jr., popularmente
conhecido como Andy Warhol, morreu
em Nova Iorque, aos 58 anos, quando seu coração não
resistiu a uma arritmia cardíaca, um dia após ter-se submetido a cirurgia
de vesícula.
Inovador
e criativo, Warhol criticou o
consumismo e o poder, mas não deixou de retratá-los em suas obras. De personalidade
forte e marcante, recusava a fama e se considerava uma pessoa profundamente
superficial.
Logo
após ter-se graduado em design, começou a trabalhar ainda jovem como ilustrador
de publicações importantes como Vogue,
Harper’s Bazar e The New Yorker e foi um dos fundadores
da revista Interview.
Do
garoto que sofria de uma doença que atingia o sistema nervoso e provocava espasmos
nas extremidades ao homem que, em pouco tempo, alcançou reconhecimento como
artista gráfico, Andy Warhol colecionou muitos prêmios.
Em
1952, fez sua primeira exposição individual em que exibiu
desenhos baseados na obra do escritor e roteirista Truman Capote.
A
partir de 1960 a vida pessoal e a carreira
profissional de Warhol passaram por um upgrade quando ele começou a incorporar conceitos
da publicidade em suas obras para retratar temas do cotidiano e artigos de
consumo.
Andy
Warhol reinventou a Pop Art,
movimento artístico que surgiu na Inglaterra
na década de 50 e que originalmente expunha a massificação da cultura popular capitalista. Ele também foi um dos pioneiros
no uso da colagem, serigrafia e de materiais descartáveis, deixados de lado por outros artistas quando se
tratava de obras de arte.
Suas
criações eram reproduzidas em latas de sopas Campbell e nas garrafas da Coca-Cola.
As
cores vibrantes eram uma marca de seu trabalho e foram utilizadas para retratar
rostos de celebridades como Pelé, Marilyn Monroe, Lyz Taylor, Che Guevara,
Brigite Bardot, Mao, Elvis Presley, Michael Jackson, e obras de arte históricas
como a Mona Lisa.
Homossexual
assumido, mas casado com a televisão e o gravador, como afirmou certa vez, Warhol
era de esquerda e transitou pelo universo
underground experimental como artista multimídia.
Ao
longo da carreira fez afetos e desafetos.
Em
1968, Andy Warhol foi baleado com três
tiros por Valerie Solanas, ativista
feminista, mas sobreviveu depois de passar por uma cirurgia de cinco horas.
Empresariou
a Velvet Underground, banda nova-iorquina
de rock, mas saiu por conta de incompatibilidade com alguns músicos.
Warhol
atuou também como cineasta em mais
de 50 filmes, alguns deles com tempo
corrente superior a oito horas.
Ao
afirmar que no futuro todo mundo teria seus 15
minutos de fama, Warhol antecipou a visibilidade que as redes sociais promoveriam, segundo a
segundo, sem fronteiras, através da Internet,
30 anos após sua morte.
Por
sua história e por sua obra inovadora, Andy Warhol foi um artista
marcante.
Um
cara tímido, curioso e inquieto, mas que preferiu enxergar seu tempo com lentes
de aumento ao invés de ser atropelado por ele.
FRASES
“Acho
que tenho uma interpretação muito livre de trabalho porque penso que estar vivo
já dá tanto trabalho que não queremos fazer mais nada”.
“A
arte suprema é o negócio”
“Um
artista é alguém que produz coisas de que as pessoas não têm necessidade, mas
que ele – por qualquer razão – pensa que seria uma boa ideia dá-las a elas”.
“Dizem
que o tempo muda as coisas, mas você é quem tem de mudá-las”.
“Deveria
haver um curso no primeiro grau de amor”.
“Espaço
vazio é espaço nunca desperdiçado”.
“As
atrações mais excitantes são entre dois opostos que nunca se encontram”.
“Até
mesmo as belezas podem ser pouco atraentes. Se você pega uma beleza na luz
errada na hora certa, esqueça”.
“As
fantasias das pessoas é que criam os problemas delas. Se você não tivesse
fantasias não teria problemas porque aceitaria o que viesse. Mas então você
nunca terá nada romântico, porque romantismo é encontrar fantasia em que não
tem”.
“Com
tudo mudando tão depressa não se tem chance de encontrar a imagem de sua
fantasia quando você está pronto para ela”.
Miguel Arraes até hoje ainda é querido e lembrado por seu povo
Foto: Divulgação
Se estivesse vivo, Miguel Arraes de
Alencar comemoraria hoje 100 anos de nascimento. Político e estadista de importância e
reconhecimento nacional, Arraes construiu uma trajetória política de sucesso focada
no povo e em decisões que beneficiaram as classes menos favorecidas.
Cearense de
nascimento, desde os dezesseis anos Arraes adotou Pernambuco como estado de origem e seu domicilio
eleitoral. A partir dali alcançou notoriedade como deputado estadual por duas
vezes consecutivas, deputado federal por três legislaturas, prefeito, e governador do estado por três vezes.
De orientação
esquerdista, Arraes fez dos ideais socialistas suas diretrizes e viveu toda sua
vida pública e política no estabelecimento e na prática de ações igualitárias e
coletivas.
Por adotar medidas que
colocavam em risco o poder dos coronéis, dos usineiros e donos de engenhos de
cana de açúcar, Miguel Arraes começou a ser mal visto pelas elites sociais e econômicas,
mas caiu nas graças e na aprovação do povo.
Como governador
estendeu o pagamento do salário mínimo aos trabalhadores rurais, bem como a eletrificação e o abastecimento de água para que se livrassem da dependência da oligarquias dos donos de terra. Favoreceu também a
criação de sindicatos, associações comunitárias e ligas camponesas, movimento que defendia e pregava abertamente a reforma agrária e a igualdade de
direitos.
Com o golpe militar
foi “convidado” a renunciar, mas recusou-se “por não trair a vontade dos que me
elegeram”. Foi deposto e peregrinou por algumas prisões. Após ter sido solto,
exilou-se na Argélia por quase 15 anos e foi considerado subversivo pelo (des)governo
militar.
Em 1979, retornou ao
Brasil e voltou para os braços do povo, elegendo-se facilmente deputado federal
e governador pelo PMDB, sempre implantando medidas que beneficiavam os
trabalhadores rurais e as populações urbanas desfavorecidas.
Em 1990 filiou-se ao
PSB voltando a ser eleito governador. Em 1998 perdeu a eleição majoritária e só voltou a atuar politicamente em 2002, elegendo-se deputado federal, mas sem
a facilidade de antes.
Crítico do
personalismo político e opositor dos rótulos e das homenagens fora de lugar,
Miguel Arraes morreu em 13 de agosto de 2005, mesmo dia em que Eduardo Campos,
seu neto e herdeiro político, perdeu a vida em um acidente aéreo enquanto cumpria
agenda como candidato à Presidência da República, em 2014.
Adorado e ovacionado por
admiradores e correligionários, Doutor Arraes, como é respeitosamente chamado, ainda faz parte do imaginário coletivo de pernambucanos, nordestinos e
todos os que continuam a enxergar nele a figura do político correto que tinha o jeito, a alma, os gostos e o cheiro do povo.
FRASES
"Acho
que o personalismo em política é um erro, nós devemos é lutar para que surjam
quadros novos (...). A posição de chefe, em política, é um grave defeito, um
grave erro".
"Nunca
me preocupei com rótulos. O rótulo de radical, conciliador, não tem nenhum
sentido para mim, como não tinha sentido me chamarem de comunista no passado. O
que importa é a prática política; o que importa são os posicionamentos que se
tomam ao lado de determinadas camadas sociais em defesa de teses que interessam
à nação como um todo".
"Minha
vida todo mundo pode saber, pois nunca gostei de dinheiro pra ter muito
dinheiro. Gosto de dinheiro pra gastar. Pra gastar, todo mundo gosta. Mas, pra
ter dinheiro... Dinheiro é uma coisa perigosa. Na mão de um homem público é um
desastre".
"Não
defendemos nem um Estado mínimo nem máximo. Defendemos e lutamos, isso sim, por
um Estado que, a partir de suas peculiaridades, cumpra suas finalidades públicas".
"O
socialismo não precisa ser redefinido. O socialismo é fruto das contradições da
sociedade".
"Eu
acho que a humanidade tem de encontrar um sistema que busque uma solução
satisfatória para todos e pregue a pacificação das relações humanas. O
socialismo seria essa busca da solução satisfatória para todos. O que se viu no
Leste Europeu não era socialismo. Eram regimes de grandes partidos, bastante
assistencialistas. A juventude não foi incorporada, não se identificou com o
processo".
"Irão
dizer que [Luiz Inácio] Lula é incompetente, como se competência viesse dos
livros dos eruditos. Lula é competente porque viveu com o povo e com os
trabalhadores. É aquele que pode trazer tranquilidade para o país porque
aprendeu a negociar nos sindicatos os direitos dos trabalhadores sem
vacilar".
"O
Lula sofreu uma derrota política nas eleições presidenciais, mas continua com o
mesmo discurso de derrotado. Não será jamais ouvido. Quando você é derrotado,
tem de examinar sua derrota, tem de se compor".
"Ele
não parece em nada com o Juscelino, mas com o Dutra, assessorado pelos
americanos. Juscelino se levantou contra o FMI e Prestes foi ao Palácio se
solidarizar com ele. Quando a gente vai se solidarizar com FHC por se opor ao
FMI?", sobre Fernando Henrique Cardoso.
Dom Paulo Evaristo Arns, exemplo de dedicação, altruísmo e sacerdócio
Foto: Divulgação
Porta voz da igualdade,
defensor dos direitos humanos, mensageiro da paz. Todos os
adjetivos que possam expressar a importância e o significado da existência de
dom Paulo Evaristo Arns, que nos deixou ontem, aos 95 anos, não se esgotam em
si.
Porém, o que mais chamava a
atenção nele, além de sua coragem e seu destemor, era a forma carinhosa e dedicada com que tratava a todos.
Dom Paulo soube muito bem, e como
poucos, encarar e superar as adversidades impostas, na maioria das vezes por
humanos, com sensatez, segurança e serenidade.
Sua decisão em fazer um culto ecumênico
em honra ao jornalista Vladimir Herzog, assassinado pelos militares nas salas obscuras da ditadura, foi de uma grandeza de caráter tremenda e de uma visão
humanista incomparável.
Dom Paulo conseguiu transitar pelo
mundo complicado das contradições humanas ao longo dos seus mais de 50 anos de
sacerdócio, completados em 2016, com a diplomacia e a consciência que faltam a
muitos líderes políticos e humanitários.
Dom Paulo Evaristo: líder humanitário sempre receptivo
Foto: Divulgação
Com seu comportamento solidário e
altruísta, dom Paulo foi um exemplo de como o sentimento religioso pode superar o fundamentalismo da religião, frear a intolerância e possibilitar o respeito e a convivência pacifica
entre os diferentes.
Ações como sentar-se à mesa com
os que lhe serviam, criar Comunidades Eclesiais de Base, vender um palácio episcopal
para comprar terrenos em bairros populares para a construção de centros
comunitários através da Operação Periferia, permitiram a ele provar que o
mais simples é sempre um caminho possível e viável.
Em um ano de perdas e rupturas
que vão deixar marcas profundas e cicatrizes registradas para sempre em nossa História, a morte de dom Paulo nos entristece, porém sua luta e sua
trajetória também nos dão alento, ânimo e a certeza de que é possível endurecer sem jamais perder a ternura.