15 de jun. de 2016

ENCUNHALADO

Eduardo Cunha, Crise, Cassação de Eduardo Cunha, Conselho de Ética da Câmara, Congresso Nacional, Crise, Impeachment, PMDB, Corrupção

O jornalista e dramaturgo pernambucano Nelson Rodrigues afirmou certa vez que só o inimigo não trai nunca.

Por mais cruel que pareça, a frase rodrigueana, além de também ser emblemática – serve de exemplo para outras situações - é bastante representativa em relação ao momento atual vivido pelo presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha.

Depois de oito meses de manobras irresponsáveis e pedaladas aéticas e antipolíticas, Cunha bebeu do próprio veneno e sentiu o gosto amargo da traição ao ver sua ascensão política meteórica ser encaminhada para um provável fim antecipado, exatamente por parte de amigos e comparsas até então fieis devotos de sua majestade.

Paradoxalmente admirado e desprezado por correligionários e opositores como um politico ardiloso capaz de agregar pessoas em torno de uma mesma crença e de unificar seguidores sob uma mesma visão corrosiva e devastadora, Cunha foi apunhalado publicamente pela Tia Má Eron (PRB-BA) e pelo Brutus nada solidário Wladimir Costa (SD-PA).
Eduardo Cunha, Crise, Cassação de Eduardo Cunha, Conselho de Ética da Câmara, Congresso Nacional, Crise, Impeachment, PMDB, Corrupção
Conselho de ética da Câmara aprova cassação de Eduardo Cunha
Foto: Lula Marques/AGPT (14/06/2016) Fotos Públicas)

Sem trocadilhos e com todos os trocadilhos, o golpe foi baixo e rasteiro, como os ardis cunhalescos, confirmando a máxima de que quem sai aos seus não degenera.

Entretanto, embora semimorto, Eduardo Cunha ainda respira, e sem ajuda de aparelhos.

Apesar da unanimidade dos que acham que ele já era, Cunha pode surpreender e no limite extenuante de suas forças mover céus e terra antes de seu suspiro final e aprontar mais uma(s).

Aos que torcem por um desfecho mortal para o fundamentalista inconsequente, resta a esperança de que o homem bomba do Câmara dos Deputados tenha um minuto de dignidade e que, em um ato definitivo, cumpra o que o Delcídio do Amaral não cumpriu: leve consigo metade do Congresso Nacional.

Só assim a limpeza, a desinfe(s)tação política será geral e a frase rodrigueana citada no inicio desse artigo não terá sido dita nem reproduzida em vão.

8 de jun. de 2016

(DE)PRESSÃO PÓS GOLPE

Temer, Brasil, Golpe, STF, Política Brasileira, Crise Política
Presidente interino Michel Temer durante cerimônia de posse do Ministro da Transparência
Foto: Lula Marques/Agência PT (2/06/2016) Fotos Públicas

Demorou, mas o mundo de Michel Temer começou a desabar.


De acordo a jornalista da Folha de S. Paulo, Mônica Bergamo, o interino do Brasil está sofrendo de um novo mal que vem atacando a classe política tupiniquim: Exaustão Pós Golpe.

Segundo Mônica, Temer estaria “exaurido” por conta da pressão decorrente de exigências que vem sofrendo dos senadores ainda indecisos sobre o impeachment de Dilma Rousseff.

A vida do presidente provisório não está nada fácil, tanto por ele quanto pelos seus aliados notáveis por excelência.

Temer está exaurido e seu governo desgastado.

Se desgraça pouca é bobagem, barganha em grande quantidade pode provocar sérios danos psicológicos e ser altamente prejudicial à saúde presidencial.

Põe em risco a sobrevivência política e à prova a paciência e a fidelidade devota de amigos e correligionários.

Porém, nem tudo é sofrimento, dor ou chantagem explicita na vida de Temer. Ele tem sido poupado e isentado pela mídia seletiva.

O “prefiro não comentar” substituiu o “eu não sabia de nada” e tornou-se a palavra de ordem no Planalto e nas redações jornalísticas, afinal de contas, em relação ao governo Temer, quando um não quer, a imprensa não briga.

Rodrigo Janot, - espécie de versão melhorada de Sérgio Moro – pelo menos por enquanto - tornou-se também o anti-herói da república. Persona non grata pela unanimidade magistrada e política.

Se bobear, Janot é quem será cassado e preso por abuso de poder, apesar de ter bom diálogo com Temer.

No auge de seu desgaste político e psicológico, Temer corre o risco de ver seu governo provisório definitivamente exaurido e acabar como Dona Maria I: Louco.

A Rainha portuguesa, mãe de Dom João VI, apesar de ter sido intitulada de “A piedosa”, por perdoar conspiradores da Corte, costumava ter crises de alucinações.

Certa vez, ao conclamar que todos voltassem a Portugal, atirou-se ao mar no cais da Praça XV, no Rio de Janeiro, na frente da população. Notabilizou-se pela frase “Maria vai com as outras”.

Que Temer também vá com os seus. Mas antes deixem o Brasil.

4 de jun. de 2016

IMPÁVIDO GIGANTE

Muhammad Ali, Box, Pugilismo, Ali
Robe usado por Muhammad Ali em 1974
Foto: Public.Resource.org, Domínio público,  tirada em 03/11/2004

Após 62 lutas, 57 vitórias – 37 por nocaute – e 5 derrotas nos ringues, ex-boxeador e maior peso pesado da história do pugilismo, Muhammad Ali morreu ontem (03/06), aos 74 anos, nos Estados Unidos, em decorrência de uma infecção generalizada.

Depois de duelar por 32 anos contra o Mal de Parkinson, Ali deixou a vida para entrar definitivamente no hall da história como The Greatest.

Campeão dentro e fora dos ringues, Muhammad Ali nasceu Classius Marcellus Clay Jr. em um sábado de inverno em Lousisville, cidade mais populosa do estado norte-americano de Kentucky.

Descendente de escravos, Ali descobriu aos 12 anos de idade, ao ter sua bicicleta furtada, que não aceitar ser derrotado seria a maior vitória que poderia obter em vida.

Ao longo de sua trajetória como boxer, Ali marcou a história da humanidade como símbolo de resistência ao recusar combater na Guerra do Vietnã, tornando-se ícone do esporte e cidadão do mundo.


Muhammad Ali, The Greatest
Foto: Reprodução

Crente de que o impossível é apenas uma grande palavra usada por gente fraca, que prefere viver no mundo como ele está, ao invés de usar o poder que tem para muda-lo, melhorá-lo, e de que o impossível não existe, que não é um fato, mas uma opinião, Ali foi defensor perpétuo de causas humanitárias.

Viveu, sofreu, combateu o bom combate e sobreviveu por suas convicções.

Era duro e implacável quando se tratava de submissão, racismo e intolerância. Seus golpes rápidos e precisos atingiam em cheio o preconceito, a alienação e o segregacionismo soberbo dos que detinham o poder político e econômico.

Fora dos ringues, suas atitudes eram certeiras; suas palavras, diretas e cortantes, como espada de dois gumes.

“Aquele que vê o mundo aos 50 anos da mesma forma que o via aos 20 anos, desperdiçou 30 anos de sua vida”. “Campeões não são feitos em academias. Campeões são feitos de algo que eles têm dentro de si – um desejo, um sonho, uma visão”, costumava dizer.

Com a certeza de que a força de vontade deve ser mais intensa do que a habilidade, Muhammad Ali não recuava. Mesmo odiando cada minuto dos treinos, dizia para si mesmo: não desista. Sofra agora e viva o resto de sua vida como um vencedor.

Visionário que concretizou seus sonhos, Ali assumiu riscos. Viveu e morreu como campeão. 

Ele, suas lutas e suas lições ficarão para sempre.

RIP, Muhammad Ali!

2 de jun. de 2016

GOL CONTRA

Temer; Golpe; Brasil; Impeachment; Economia; Reajuste dos Servidores; Política; Congresso Nacional; Senado
Foto: Lula Marques/Agência PT (01/06/2016) Fotos Públicas

O presidente provisório Michel Temer, como já se viu, é um mal administrador, mas vem se superando a cada dia. Ao avalizar ontem (02/06) a aprovação do reajuste federal e do Judiciário, Temer deu um gás na sua má performance e confirmou ser também um péssimo jogador: marcou mais um gol contra o Brasil.

O interino da república voltou a se contradizer rasgando seu discurso reformista e descarrilando o trem conduzido por Henrique Meireles que assumiu o Ministério da Fazenda sob a promessa de que recolocaria a economia nos trilhos.

Valor total da travessura? Entre R$ 58 e R$ 100 bilhões nos próximos quatro anos. O teto de reajuste para o funcionalismo passou para R$ 39.293,00.

Michel não tá nem ai pro Brasil. Daqui há quatro anos estará no esquecimento mesmo. Boi sonso é o que arromba o curral, já dizia a vovó.

Para o país, as consequências serão temerescas. Outra vez quem vai pagar o pato não é a Fiesp, mas o povo. Principalmente os mais pobres.

Enquanto os deputados e os senadores - reféns da Lava Jato e rendidos aos caprichos do interino que quer se tornar definitivo - abençoam as maldades econômicas de Michel, o corporativismo deita e rola. 

Isso porque a reforma da previdência e as mudanças no reajuste do salário mínimo ainda nem entraram verdadeiramente na ordem do dia.

O realismo fantástico de Temer e de seu governo provisório subvertem a realidade fiscal do país. Reforma tributária e política para valer nem pensar. Fora de cogitação.

A cara de pau dos congressistas é tanta que os irresponsáveis aprovaram o rombo nas contas do país no mesmo dia em que a imprensa fez alardes sobre o recuo do Produto Interno Bruto.

Inconsequentes! 

Juntam-se as comadres, revelam-se as verdades.

Deixa estar, seus bola fora!

Quem dá as costas para o povo nada mais verá do que a própria sombra.