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Movimento de renovação da cultura brasileira, a Tropicália foi criticada e exaltada
Foto: Reprodução/Internet |
Há 50 anos, em meio ao caldeirão efervescente da década de 60 e ao crescimento das ditaduras militares que pipocavam principalmente na América Latina, nascia a Tropicália, movimento pan-cultural que promoveu uma verdadeira revolução estética na cultura e na arte brasileiras.
A Tropicália chegou com tudo, não só para
organizar o movimento e orientar o carnaval, mas também para pôr mais
lenha na fogueira das insatisfações
com a falta de criatividade e a mesmice reinantes no país.
O Movimento Tropicalista evidenciou-se
como um respiro novo diante da
sufocante caretice dos valores morais
intimidadores sustentados por comportamentos limitantes e pelo marasmo da
rotina bem comportada que era a produção artística da época.
A Tropicália promoveu
o isolamento e a incineração da pungência do conservadorismo crescente no Brasil.
Movimento que
teve um papel histórico, na opinião de Chico
Buarque. Uma fase fundamental para a música popular brasileira em termos de
inovação e experimentação, segundo Haroldo
de Campos. Cultura da descolonização, na visão de José Celso Martinez Correa, a Tropicália
inovou, renovou, restaurou, resgatou, chocalhou a música, as artes plásticas e o teatro
nacional.
O Movimento
Tropicalista tornou-se um divisor de
águas entre o antes e o depois daquele
que se tornaria um momentum cultural
único.
A ousadia da Tropicália foi além da
simplicidade do banquinho e um violão da Bossa Nova e do balanço cadenciadamente comportado do Iê-iê-iê da Jovem Guarda.
Os tropicalistas entraram sem pedir
licença para estabelecer novos paradigmas
em relação ao pensar e ao fazer artístico e cultural do Brasil.
ARTE ESSENCIAL
ARTE ESSENCIAL
Ao mesmo tempo em
que tinha arte como essência coletiva, a Tropicália também promovia
a ruptura com velhos padrões ao inserir e adaptar modernos acordes, elementos
sonoros diversos e meios eletrônicos
sofisticados presentes na cultura
mundial às criações artísticas
nacionais que brotavam intensa e psicodelicamente da mente criativa e das mãos de seus artistas.
O resultado foi
uma colcha de retalhos costurada por
tendências diversas, um patchwork multicultural que recriou e
atualizou o canibalismo praticado
por Oswald de Andrade e pelos Modernistas de 1922.
Os tropicalistas
promoveram o diálogo entre o moderno e o pós-moderno, a tradição
e a vanguarda, o erudito e o popular.
Para o jornalista e escritor João Luís Gago,
o maior mérito do Tropicalismo foi inserir
a produção musical no Pós Modernismo. “O elemento paulista - muita
antena, poucas raízes -, aliado à baianidade de Gil, Caetano e Tom Zé,
foi explosivo”, ressalta.
Gago destaca ainda que os arranjos
maravilhosos e vanguardistas de Rogério
Duprat, a técnica e as informações sobre a cultura pop dos irmãos Arnaldo e Sérgio Baptista, dos Mutantes,
mais a influência de Augusto e Haroldo de Campos sobre Caetano Veloso
foram fundamentais para formatar um movimento que era odiado pela esquerda e
pela direita.
De fato, a Tropicália não conseguiu agradar 100% gregos e baianos.
CRÍTICA E EXALTAÇÃO
O Movimento foi exaltado e criticado por artistas, leigos e especialistas da época, apesar de
reunir em seu time uma verdadeira constelação
de estrelas com pensamentos e atitudes nada ortodoxas, como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, Hélio Oiticica, Gal Costa, Nara Leão, Glauber Rocha, José Celso Martinez Correa.
As críticas, em boa parte, vinham da esquerda que se ressentia da ausência de engajamento político por parte dos tropicalistas.
Entretanto, os
artistas se consideravam revolucionários
não necessariamente em relação à causa
política, mas na estética que,
ao não se subjugar aos padrões tradicionais comportados
vigentes no país, era a forma artística
de resistência pela qual eles expressavam
sua ação política por si só.
Mas, nem tudo
foram flores e a Tropicália nunca
navegou em um mar de rosas. Os militares
também não pegaram leve nem pouparam esforços para implodir e esvaziar o Movimento Tropicalista.
Em 1968, sob a alegação de desrespeito aos símbolos nacionais e de insultos ofensivos às Forças Armadas, os militares prenderam Caetano e Gil durante uma
apresentação com os Mutantes, no Rio de Janeiro.
Na noite do
domingo do dia 20 de julho de 1969, Caetano e Gil fizeram o último show em Salvador. Logo
depois, deixaram o país rumo ao exílio na Europa,
sob a ameaça de que se voltassem ao Brasil seriam imediatamente presos.
A Tropicália fechava seu ciclo de produção cultural intensa e transformadora, porém o Tropicalismo prosseguiria fazendo protestos em forma de metáforas.
A Tropicália fechava seu ciclo de produção cultural intensa e transformadora, porém o Tropicalismo prosseguiria fazendo protestos em forma de metáforas.
Dona de divinas
tetas, a Tropicália foi um traço
fora da curva cultural e da vida
cotidiana do Brasil. Teve duração curta, mas o suficiente para dar o seu recado, fazer
história, “derramar o leite bom na nossa cara e o leite mal na cara dos caretas”.
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