23 de fev. de 2017

BAMBU OU JUCÁ?

JOSE SERRA, MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES, EXTERIORES, DEMISSÃO DE SERRA, MICHEL TEMER, TEMER, ITAMARATI, POLÍTICA, BRASIL
Serra e Temer: Bambu ou Juca?
Foto: Wilson Dias/Agência Brasil (23/06/2016)

A saída de José Serra do Ministério das Relações Exteriores, ao mesmo tempo em que provoca desconforto no governo, cria também oportunidades para o presidente Michel Temer e indecisão política para o ex-ministro tucano.

O incômodo se dá pelo fato de que saídas voluntárias ou quedas de ministros nunca pegam bem para nenhum governo, já que abrem espaço para especulações em torno dos reais motivos que resultaram no desligamento do ocupante da pasta.

No caso do governo Temer, a  oportunidade ocorre porque a desistência de Serra em permanecer como chanceler faculta ao presidente a possibilidade de fazer uma escolha técnica e não política no que diz respeito ao novo nome que vai assumir o comando do Itamarati.

Entretanto, o que é oportunidade pode ser dúvida e gerar dilema: o melhor é escolher para o cargo um diplomata de carreira, alguém que possua conhecimento prático, ou um político que, mesmo não tendo a formação exigida, seja um legítimo representante dos ideais presidenciais e um fiel defensor de sua excelência, o presidente?

Afora as controvérsias, o fato é que José Serra a frente do Ministério das Relações Exteriores não estava sendo nenhuma coisa nem outra.

Serra não é diplomata nem estava à vontade no cargo que ocupava e, por mais que não expressasse isso verbalmente, deixava claro em suas atitudes e decisões desconforto e certa falta de tato para o cargo.

José Serra como chanceler foi uma escola política de Temer. Um gesto instintivo de reconhecimento.

Foi a maneira mais imediata, embora não a melhor, que o presidente escolheu para agradecer e recompensar o apoio dado pelo tucano ao seu nome como substituto de Dilma Rousseff.

Serra foi um dos políticos que articularam o apoio e o aval dos empresários a Michel Temer, mas em nenhum momento demonstrou disposição ou interesse pela pasta para qual foi recompensado e que ocupou até ontem, nem paixão por quem o colocou lá.

Com a saída de José Serra das Relações Exteriores, Michel Temer tem também a ocasião de devolver ao Ministério a importância e o reconhecimento estratégico dados por FHC e Lula quando ocuparam a presidência da república, mas que se enfraqueceu no governo Dilma e foi praticamente extinto no atual governo.

O Ministério das Relações Exteriores é estratégico para qualquer país. É ele quem dá vez e voz ao presidente lá fora e quem fomenta e direciona a política externa estabelecendo novos laços e fortalecendo os já existentes. Durante o governo Temer, o Ministério das Relações Exteriores tem sido uma mera formalidade.

Temer tem, portanto, não só o momento certo para corrigir um erro de estratégia e de fortalecer um relacionamento internacional que se perdeu nos últimos dois anos, mas igualmente a chance de melhorar sua imagem que anda queimada lá fora, pelo menos diante dos jornalistas e formadores de opinião da América Latina.

Será esse um dos motivos que levaram Serra a deixar as Relações exteriores? (Clique aqui e leia o artigo Lá e Cá sobre a pesquisa da Ipsos com os índices de e aprovação de Temer e 11 presidentes latino-americanos).

No que diz respeito ao futuro político de Serra, o que se sabe, por enquanto, é que ele deve voltar para o Senado, o que não lhe basta nem lhe é suficiente, considerando sua inegável e eterna pretensão presidencial.

De qualquer forma, as especulações e apostas estão abertas.

Contudo, o destino do tucano vai depender de sua disposição em convencer o PSDB a lançá-lo como candidato do partido ao Planalto, do rumo que vão tomar as denúncias que pesam sob ele na Lava Jato em relação à acusação de favorecimento de R$ 23 milhões, recebidos como caixa 2 da Odebrecht, e de sua já conhecida insistência política.

O fato é que Serra já não depende mais tão somente dele para chegar ao Palácio do Planalto.

Resta saber se o problema na coluna que o afastou do Ministério das Relações Exteriores o tornou mais flexível e maleável como o bambu ou se o deixou mais duro, denso e resistente como o Jucá.

As respostas logo virão, afinal, tratando-se de José Serra, nada é surpreendente e tudo é uma questão de pouco tempo.

22 de fev. de 2017

ÍCONE UNDERGROUND



Resultado de imagem para andy warhol
Andy Warhol artista multimídia provocativo e inovador
Foto: Reprodução Pinterest

Foi em um domingo, 
há exatos 30 anos, que Andrej Varhola Jr., popularmente conhecido como Andy Warhol, morreu em Nova Iorque, aos 58 anos, quando seu coração não resistiu a uma arritmia cardíaca, um dia após ter-se submetido a cirurgia de vesícula.

Inovador e criativo, Warhol criticou o consumismo e o poder, mas não deixou de retratá-los em suas obras. 

De personalidade forte e marcante, recusava a fama e se considerava uma pessoa profundamente superficial.

Logo após ter-se graduado em design, começou a trabalhar ainda jovem como ilustrador de publicações importantes como Vogue, Harper’s Bazar e The New Yorker e foi um dos fundadores da revista Interview.

Do garoto que sofria de uma doença que atingia o sistema nervoso e provocava espasmos nas extremidades ao homem que, em pouco tempo, alcançou reconhecimento como artista gráfico, Andy Warhol colecionou muitos prêmios.

Em 1952, fez sua primeira exposição individual em que exibiu desenhos baseados na obra do escritor e roteirista Truman Capote.

A partir de 1960 a vida pessoal e a carreira profissional de Warhol passaram por um upgrade quando ele começou a incorporar conceitos da publicidade em suas obras para retratar temas do cotidiano e artigos de consumo.

Andy Warhol reinventou a Pop Art, movimento artístico que surgiu na Inglaterra na década de 50 e que originalmente expunha a massificação da cultura popular capitalista.  

Ele também foi um dos pioneiros no uso da colagem, serigrafia e de materiais descartáveis, deixados de lado por outros artistas quando se tratava de obras de arte.

Suas criações eram reproduzidas em latas de sopas Campbell e nas garrafas da Coca-Cola.

As cores vibrantes eram uma marca de seu trabalho e foram utilizadas para retratar rostos de celebridades como Pelé, Marilyn Monroe, Lyz Taylor, Che Guevara, Brigite Bardot, Mao, Elvis Presley, Michael Jackson, e obras de arte históricas como a Mona Lisa.

Homossexual assumido, mas casado com a televisão e o gravador, como afirmou certa vez, Warhol era de esquerda e transitou pelo universo underground experimental como artista multimídia.

Ao longo da carreira fez afetos e desafetos.

Em 1968, Andy Warhol foi baleado com três tiros por Valerie Solanas, ativista feminista, mas sobreviveu depois de passar por uma cirurgia de cinco horas.

Empresariou a Velvet Underground, banda nova-iorquina de rock, mas saiu por conta de incompatibilidade com alguns músicos.

Warhol atuou também como cineasta em mais de 50 filmes, alguns deles com tempo corrente superior a oito horas.

Ao afirmar que no futuro todo mundo teria seus 15 minutos de fama, Warhol antecipou a visibilidade que as redes sociais promoveriam, segundo a segundo, sem fronteiras, através da Internet, 30 anos após sua morte.

Por sua história e por sua obra inovadora, Andy Warhol foi um artista marcante.

Um cara tímido, curioso e inquieto, mas que preferiu enxergar seu tempo com lentes de aumento ao invés de ser atropelado por ele.

FRASES

“Acho que tenho uma interpretação muito livre de trabalho porque penso que estar vivo já dá tanto trabalho que não queremos fazer mais nada”.

“A arte suprema é o negócio”

“Um artista é alguém que produz coisas de que as pessoas não têm necessidade, mas que ele – por qualquer razão – pensa que seria uma boa ideia dá-las a elas”.

“Dizem que o tempo muda as coisas, mas você é quem tem de mudá-las”.

“Deveria haver um curso no primeiro grau de amor”.

“Espaço vazio é espaço nunca desperdiçado”.

“As atrações mais excitantes são entre dois opostos que nunca se encontram”.

“Até mesmo as belezas podem ser pouco atraentes. Se você pega uma beleza na luz errada na hora certa, esqueça”.

“As fantasias das pessoas é que criam os problemas delas. Se você não tivesse fantasias não teria problemas porque aceitaria o que viesse. Mas então você nunca terá nada romântico, porque romantismo é encontrar fantasia em que não tem”.

“Com tudo mudando tão depressa não se tem chance de encontrar a imagem de sua fantasia quando você está pronto para ela”. 

ESTADO EM ALERTA

Altos índices de violência, aumento de roubos a bancos e constantes ataques a caixas eletrônicos em Pernambuco levaram um grupo de deputados da Assembléia Legislativa (Alepe) a encaminhar ao governador Paulo Câmara (PSB) ofícios em caráter de urgência solicitando o envio da Força Nacional ao estado para garantir a segurança durante o carnaval.

A gota d’água foi o assalto realizado ontem (21) a uma empresa de transporte de valores na região oeste do Recife

Rajadas de metralhadoras seguidas de explosões deixaram moradores em pânico durante a madrugada.

Segundo dados da Secretaria de Defesa Social (SDS) durante o mês de janeiro foram registrados 479 homicídios em todo o estado, incluído o assassinato de um bebê de 1 ano e 2 meses.

O número de estupros contra mulheres também alcançou índices preocupantes e já foram contabilizados 148 casos somente no primeiro mês do ano.

Outros tipos de crimes que vêm se tornando freqüentes são os realizados contra o patrimônio público, extorsão mediante sequestro e roubos com privação de liberdade. Eles totalizaram 10.691 ocorrências ao longo de janeiro. 

Só na Região Metropolitana do Recife as ocorrências ultrapassaram 3.700 registros no mesmo período do ano.

A população de municípios importantes do interior pernambucano, como Caruaru, Carpina e Santa Cruz do Capibaribe, também tem sofrido com a rotina de medo, insegurança, mortes e roubos. Juntas, as três cidades registraram mais de 900 crimes contra o patrimônio público desde o começo de 2017.

O governador Paulo Câmara (PSB) resiste em solicitar o envio de tropas da Segurança Nacional e Forças Armadas, e já entrou em rota de colisão com integrantes da oposição que reclamam da demora dele em tomar atitudes emergenciais e objetivas.

A insatisfação dos policiais militares com o valor dos salários recebidos torna a situação mais vulnerável e aumenta o clima de insegurança, principalmente às vésperas do carnaval.

Pernambuco sofre com o desemprego. 

O estado foi um dos que mais perderam postos de trabalho em 2016 quando foram registradas 48 mil vagas a menos. 

A expectativa é que a taxa de desemprego no estado se mantenha em torno de 10% ao longo de 2017.

21 de fev. de 2017

ESGOTO BRASIL


Saneamento Básico, Esgoto, SNIS, Trata Brasil, Meio Ambiente, Água tratada, Esgoto Brasil, Lei de Saneamento Básico
Foto: Reprodução
Um dos maiores problemas de interesse social, a falta de saneamento básico em boa parte dos mais de 5.500 municípios brasileiros expõe situações de desrespeito à saúde pública e revela as diferenças de tratamento dado aos milhares de cidadãos nas cinco regiões do país.

insuficiência de investimentos e ausência de acompanhamento regular direto comprovam que saneamento público e tratamento adequado de água e esgotos ainda não são prioridade por parte dos governantes brasileiros, favorecendo o surgimento de novas valas a céu aberto onde dejetos correm livremente.

Dados divulgados recentemente pelo Instituto Trata Brasil, organização de interesse público que trabalha para que o saneamento básico seja garantido a todos os cidadãos, revelaram que metade da população brasileira ainda continua sem acesso a um sistema de tratamento de água e esgoto adequado e respeitoso.

O estudo apontou que mais de 100 milhões de cidadãos ainda utilizam procedimentos improvisados e inadequados para descarte de dejetos, muitos deles depositando essas substâncias altamente nocivas e poluentes diretamente nos rios e córregos.

Em 2007 quando a Lei de Saneamento Básico finalmente foi criada, somente 42% dos brasileiros eram atendidos por rede de esgoto e 80,9% eram beneficiados com abastecimento de água.

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Fonte: Instituto Trata Brasil

Passados 10 anos, os avanços foram mínimos e insuficientes e os índices evoluíram apenas 8,3%.

Em estados da região Norte menos de 50% da população é abastecida com água tratada e 7,4% possuem rede de esgoto. 

No Amapá esse índice é ainda absurdamente irresponsável. Lá, apenas 34% dos habitantes são abastecidos por água limpa e 3,8% possuem esgotamento sanitário.

Saneamento Básico, Esgoto, SNIS, Trata Brasil, Meio Ambiente, Água tratada, Esgoto Brasil, Lei de Saneamento Básico
Fonte: Instituto Trata Brasil
Em nosso país, a falta de saneamento básico e de água tratada são sinônimos de desigualdade social gritante. Desmascaram e aprofundam o oceano de desrespeito à dignidade e à pessoa humana.

A teimosia dos governantes em tratar o problema como política de governo, invés de política de estado, subtrai e segrega.

No país em que as misérias e flagelos sociais não são eliminados, mas remediados, a falta de tratamento sanitário básico é um fosso aberto para o (re)surgimento de doenças, para o agravamento de transtornos ambientais e o aumento de prejuízos econômicos.

O Estado brasileiro se contradiz e cria um ambiente acolhedor para a proliferação de moléstias que ele mesmo diz está trabalhando incansavelmente para eliminar.

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Fontes: Instituto Trata Brasil e SNIS
A desumanidade, a falta de propósito e a inabilidade dos governantes com questões tão básicas são a constatação mais óbvia da incompetência e falta de comprometimento de grande parte dos políticos brasileiros. 

Ao insistirem em fazer vistas grossas e pregarem um discurso descolado da prática e da realidade, os homens públicos de fachada vão continuar condenando milhares de brasileiros à morte e fazendo com que o país permaneça boiando na imundície das fossas fétidas que a politicagem brasileira insiste em manter abertas aos olhos do mundo.


19 de fev. de 2017

LÁ E CÁ



Michel Temer está entre os três chefes de estado mais desaprovados por jornalistas e formadores de opinião da América Latina, de acordo com pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos

O índice de reprovação do presidente brasileiro é de 64%. O venezuelano Nicolás Maduro lidera o ranking com 91%, seguido do mexicano Enrique Penã Neto, com 67%.

Entre os governantes com maior aprovação, a liderança ficou com o Juan Manuel Santos, da Colômbia, aprovado por 74% dos entrevistados. O uruguaio Tabaré Vasques (70%) e o argentino Maurício Macri (64%) ocupam a segunda e terceira posições, respectivamente.

De acordo com Alfredo Torres, presidente da Ipsos Publics Affairs América Latina, as avaliações não são representativas das sociedades latino-americanas, mas refletem a análise de profissionais de renome que contribuem regularmente com seus pontos de vista nos principais meios de comunicação. “Cidadãos mais informados e influentes no que diz respeito à opinião pública”, afirmou.

Nessa segunda edição da pesquisa, realizada de 11 de novembro de 2016 a 23 de janeiro de 2017, 295 profissionais que atuam em 14 países, entre eles Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, Equador, México, Peru, e uma amostra representativa de países da América Central e Caribe, responderam como aprovam ou desaprovam a atuação de 11 presidentes.

Torres destacou como pontos interessantes as opiniões sobre a presidente chilena Michelle Bachelet, desprestigiada por 94% dos entrevistados em seu país, mas que teve aprovação nos demais países pesquisados, e os índices registrados em relação ao colombiano Juan Manuel Santos que, mesmo com a popularidade crescendo de 62% em 2015 para 74% em 2017, perdeu pontos entre seus compatriotas.

30 de dez. de 2016

2017: OU VAI OU VAI

Perspectivas 2017, 2017, Brasil em 2017, Política em 2017, Feliz 2017
2017 vai ser o que nós construirmos
Foto: Pixabay Public Domain

2016, o ano em que o Brasil ficou mais temeroso, finalmente acaba amanhã, porém repleto de situações mal resolvidas e com algumas decisões em aberto.
Se o ano todo foi marcado por surpresas desagradáveis, decepções, perdas e rupturas, 2017 poderá ser de definições, mas não sem instabilidades.
Aliás, 2017 começará instável, pelo menos politica e economicamente.
Continuaremos ainda reféns dos humores dos políticos e suas agremiações partidárias e vitimados pelas crises de bipolaridade dos Três Poderes em suas decisões tomadas por capricho.
Resoluções que foram adiadas continuarão a nos rondar e serão empurradas com a barriga, até que o Congresso volte do recesso e os ilustres parlamentares resolvam-se entre si.
Contudo, algumas possibilidades são mais passíveis de serem concretizadas, de modo que certos destinos também se tornam mais prováveis de serem definidos.
Uma dessas probabilidades é a condenação de Lula pela Operação Lava Jato, o que não implica necessariamente imediata prisão.
Se a prisão de Lula ocorrer de fato, será de forma progressiva, depois de todas as prerrogativas serem esgotadas ou, repetindo o senador tucano Aloysio Nunes Ferreira quando se referiu à Dilma Rousseff, depois de fazerem o ex-presidente sangrar até morrer e ter sua candidatura à Presidência em 2018 totalmente inviabilizada.
A aprovação da reformas trabalhista e previdenciária são outras duas apostas, mas não com a integralidade que o governo deseja, menos pela falta de vontade dos congressistas e mais pela força das manifestações populares, que se espera que ocorram.

Perspectivas 2017, 2017, Brasil em 2017, Política em 2017, Feliz 2017
Ao longo de 2017 teremos um caminho longo e decisivo  pela frente
Foto: Pixabay Public Dimain
Outro destino que será definido, tanto para o bem quanto para o mal do país, será o da chapa Dilma/Temer. Entretanto, até o meio do ano, o presidente promovido estará na corda bamba e com a sombra da cassação da coligação partidária PT/PMDB cercando-o por todos os lados.
O que contribuirá sobremaneira para que Temer não chegue a salvo do outro lado do desfiladeiro e caia de vez no abismo serão a força e a intensidade das delações dos executivos da Odebrecht e de Eduardo Cunha, um dos que só está esperando o momento certo para soltar o grito entalado na garganta.

Entretanto, a possibilidade de Michel Temer ser descartado, depois que conseguir fazer aprovar as reformas impopulares, também é potencial, tanto que nomes como o do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e de Nelson Jobim, ex-ministro da Justiça, já são cotados no caso de Temer vir a ser deletado e de haver eleição indireta.

Apesar da democracia representativa esse ano ter sido estuprada por 422 parlamentares com o aval do capital, a força do  povo que acredita e luta continuará viva e vai fazer a diferença em 2017.
Já em relação às questões mundiais, 2017 tem tudo para ser também um ano movimentado e desafiador, o que exigirá diplomacia e muita negociação.

Que 2017 venha, portanto, e que nos encontre cheios de coragem, disposição para lutar e disponibilidade para vencer, lembrando que ele vai ser o que nós construirmos.
Todavia, que não nos falte sabedoria e paciência. Vamos precisar muito delas.
todos os que acompanharam o BLOG DO JOAQUIM, seja apenas lendo, seja lendo e curtindo, seja lendo, curtindo e compartilhando os posts por achá-los úteis e necessários, gratidão e FELIZ 2017!

20 de dez. de 2016

ESTADO DE ALERTA

Donald Trump, Trump, Aquecimento Global, Acordo de Paris, Meio-ambiente
Donald Trump põe em risco Acordo de Paris
Foto: Reprodução Pixabay
O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, sequer assumiu o comando de seu país e volta a preocupar o mundo.
Depois de sua já declarada posição de repúdio e desrespeito às mulheres, negros e imigrantes, o magnata norte-americano agora põe em risco o Acordo de Paris, tratado aprovado e assinado por 195 países em 2015 para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e, assim, dar maior sobrevida ao planeta terra.
A ideia de descumprir o acordo antes era só uma intenção e uma promessa de campanha, mas vem se tornando um risco iminente à medida em que se aproxima a posse de Donald Trump.
O temor de que Trump retire os EUA do bloco dos países que se comprometeram em cumprir metas climáticas e ambientais ficou mais evidente durante a COP22, Cúpula das Nações Unidas sobre a Mudança Climática, ocorrida no final de novembro no Marrocos.
O Acordo de Paris ocorreu depois de muita luta por parte de ambientalistas, ativistas, cientistas, políticos e líderes indígenas para convencerem países declaradamente poluidores aceitarem reduzir o uso de compostos que aumentam o aquecimento global.
A Avaaz, rede de ativistas que se mobilizam em todo o mundo através da internet para garantir que ações políticas, sociais e humanitárias sejam respeitadas e cumpridas, entrou em ação e está enviando abaixo-assinado eletrônico a governantes e empresários norte-americanos solicitando que mantenham o Acordo de Paris, independentemente da decisão de Donald Trump.
A intenção de Trump vai na contramão do mundo e ocorre no momento em que grandes multinacionais resolveram utilizar somente energia renovável em suas operações mundiais a partir de 2017.
Os EUA são o segundo país que mais emitem gases poluentes no planeta. 

A preocupação dos ambientalistas e de líderes mundiais é de que outros países do ranking dos poluidores, como Índia e Rússia, sigam o mesmo caminho, caso a ameaça de Trump se concretize.
Brasil, França e China ratificaram o compromisso de cumprir o acordo e reafirmaram que as decisões tomadas sobre o clima são irreversíveis e irrevogáveis.
Para assinar a petição, basta clicar no link abaixo:

https://secure.avaaz.org/campaign/po/us_climate_heroes_loc/?slideshow

16 de dez. de 2016

FUTURO AMEAÇADO

Reforma da Previdência, Aposentados, Pensionistas, INSS
Reforma da Previdência = Encruzilhada
Foto: Pixabay Public Domain
Na última entrevista da série sobre a Reforma da Previdência, o economista Antônio Bruno Carvalho Morales e a advogada previdenciária Marta Gueller debatem o tema e comentam alguns pontos polêmicos das propostas do governo Temer.

BLOG DO JOAQUIM: Uma das discussões que têm provocado divergências entre o governo e especialistas em relação à reforma e à estrutura da Previdência é se há ou não déficit previdenciário. Qual a opinião dos senhores a respeito?

MARTA GUELLER: No meu ponto de vista esse déficit é uma criação porque alguém tem que pagar a conta. Se você entrar no site da Anfip – Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (www.anfip.org.br) – vai verificar ali que existem os grandes devedores. Por que, se há uma dívida, não se executa os grandes devedores da Previdência Social? As grandes empresas, multinacionais, a União, os estados e municípios, todos eles devem para a Previdência.

BJ: Então falta fiscalização?

MARTA GUELLER: Ora, se há um déficit, ele é causado por falta de execução dessas entidades. Segunda coisa, o déficit é cantado em função de uma capitalização, igual ao regime chileno que não é o nosso. Se computarmos apenas a contribuição do segurado e não incluir outros tributos, ao projetar isso lá para 2050, se nada for feito, aí sim termos um déficit.

BJ: Existem distorções nas leis?

MARTA GUELLER: Sim, existem distorções nas leis. Por exemplo, defere-se auxílios-doença, mas não se tem peritos suficientes para fazer as pericias nas pessoas que estão realmente doentes ou que recebem benefício por invalidez. Às vezes, esses benefícios têm caráter reversivo, eles podem ser cancelados, desde que essas pessoas sejam convocadas periodicamente para que seja verificado se elas estão realmente incapacitadas.

BJ: Se essas distorções não são corrigidas, o que ocorre?

MARTA GUELLER: Se não se faz isso ou se é omisso, claro que vai se estar gerando uma despesa desnecessária. Essas pessoas deixam de contribuir economicamente para a Nação e se transformam em um ônus causado por culpa da inoperância do próprio sistema. Outro exemplo são as pensões por morte. Esses benefícios têm mesmo de ser de 100%, já que houve uma diminuição no número de pessoas naquele lar e, portanto, uma diminuição de despesas? Isso também tem de ser mudado. E não se diminuir um direito social mudando o piso, desvinculando do mínimo. Não há unidade mínima. Outro aspecto é que não se pode impor uma idade mínima igual aos países superdesenvolvidos onde se paga o benéfico quando realmente se aposenta. Aqui no Brasil, não. O aposentado continua trabalhando porque começa a trabalhar muito cedo e tem que continuar trabalhando mesmo depois que alcançou a aposentadoria. Tem que haver um debate com a sociedade antes.

BJ: De que modo isso favorece a afirmação de que a Previdência está quebrada?

MARTA GULLER: Não se pode partir de uma premissa, que não é verdadeira, e que diz que a Previdência está quebrada. Ora, se está quebrada, porque é que eu vou contribuir? Porque sou obrigado. Eles descontam do meu salário. O brasileiro é muito criativo também. Ele cria artifícios. O próprio Poder Legislativo faz leis para desonerar aquele que está contribuindo. Daí ele vai contribuir menos, vai ter um benefício menor. Foi assim que se criou a terceirização no Brasil. Se você vai na Justiça do Trabalho vai ver que há um número enorme de ações para reconhecer um vínculo trabalhista quando essas pessoas trabalharam, geraram economia, mas não contribuíram para a Presidência. Oficializou-se esse tipo de relação. A terceirização virou uma fórmula do empregador não pagar a parte dele.

BJ: Qual a melhor maneira de resolver essa questão?

MARTA GUELLER: Temos que escrever tudo de novo, mas não sem a discussão e a participação ampla da sociedade. Mandar uma reforma escrita para ser aprovada a toque de caixa porque isso seria a salvação da economia brasileira não resolve. O Brasil está inserido no planeta terra e o planeta terra está em crise. Não dá para dizer que a culpa é da Previdência.

ANTÔNIO BRUNO MORALES: Primeiramente, gostaria de ressaltar que eu e a Doutora Marta temos pontos de acordo. De fato, eu também acho surreal a forma de aposentadoria dos militares. Também acho que quando alguém vem a óbito é obvio que tem que se dá auxilio à família, mas talvez nós estejamos conduzindo isso de maneira errada.  Porém, discordo em relação ao que foi falado sobre o déficit. Nós temos um déficit real. Projeções do governo estimam que chegue a R$ 100 bilhões esse ano. Temos um problema econômico pratico, de fato.

BJ: Do ponto de vista legal, com o que é que o senhor também concorda e qual solução vê no curto prazo?

ANTÔNIO BRUNO MORALES: Do ponto de vista legal não estou habilitado a julgar quem deve o que, mas do ponto de vista de um economista que tem que gerar receita, temos que lidar com esse problema. Acredito que, pelo menos a curto prazo, a melhor solução é termos uma idade mínima superior. Talvez não a mesma dos países desenvolvidos, talvez a maneira como isso está sendo conduzido, e aí concordo com a Marta, a sociedade como um todo tem de participar desse processo. Tem que ir às ruas. Concordo também que os que são mais interessados são os que estão se mobilizando. Isso também é fato porque na prática são eles que vão sofrer no curto prazo. Eles já estão aí vendo a discussão como um todo afetando a vida deles e nem tanto a dos mais jovens.

MARTA GULLER: Ainda em relação à idade mínima, no Acre, por exemplo, a expectativa de sobrevida não é essa do IBGE ou a mesma para o sudeste. Lá as pessoas chegam aos 63 anos. Se você puser uma idade mínima de 65 anos, ninguém vai receber benefício nenhum.

BJ: O presidente Temer afirma que todos têm que uma parcela de sacrifício para que a reforma ocorra e para que os problemas da Previdência Social sejam resolvidos. Dá para colocar todo mundo em um mesmo patamar?

ANTÔNIO BRUNO MORALES: Acredito que não. É obvio que quem vai sofrer mais são os mais pobres. Historicamente é assim. O discurso parece que está levando a isso. Como economista fico chateado com esse fato, mas é um fato. Acredito que, usando as palavras da Doutora Marta, deveria haver um certo tipo de desigualdade para gerir isso. De forma melhor e mais humanitária.

MARTA GULLER: Na minha opinião, as mulheres vão pagar com maior sacrifício porque eles querem igualar homens e mulheres. Hoje as mulheres se aposentam com 30 anos de contribuição, os homens com 35 anos. No regime geral, sem idade mínima. No regime próprio, elas se aposentam também com 30 anos e 35, os homens, mas com idade mínima de 55 para as mulheres e de 60 para os homens. Tem que ter os dois requisitos para se obter o benefício. O que acha que vai acontecer no regime geral? Eles vão criar uma idade mínima, que a gente não sabe se vai ser aprovada uma idade mínima de 60 para as mulheres e 65 anos para os homens, mas que vai ter essa desigualdade. A princípio, o que se pretende é igualar homens e mulheres. Há quem vá dizer que elas são iguais para tantas coisas, e elas querem ser iguais aos homens, mas, no mercado de trabalho, não são.

BJ: E em relação à escolaridade?

MARTA GULLER: Em relação à escolaridade você tem menos desigualdade entre salários e oportunidades de emprego para homens e mulheres. Porém, se formos verificar nas camadas mais pobres, os salários são diferentes. As mulheres ganham menos. E ainda tem a questão da tripla jornada. Eu sou a favor de continuarmos com a diferença de idade entre homens e mulheres, apesar de, estatisticamente, as mulheres viverem mais. Porém, vivem mais porque se cuidam mais. Fazem exames preventivos com maior frequência, são mais cuidadosas. Entretanto, por serem mais cuidadosas, não podem pagar mais por isso. Pelos menos enquanto houver essa diferença de tratamento e esse preconceito em relação à mulher que engravida, que se afasta do trabalho.

BJ: Os casais estão tendo menos filho. Qual a possibilidade desse fato também ser considerado e contemplado na reforma previdenciária?

MARTA GULLER: Se nós estamos preocupados com o déficit e a crise da Previdência temos que fazer alguma coisa para incentivar esse crescimento vegetativo que parece que em pouco tempo será negativo, já que hoje cada mulher quando tem filho tem apenas um. Você não pode ter um e meio, então só tem um. O governo deveria prevê na reforma alguma coisa que ajudasse a incentivar as mulheres a terem filhos.  Já que estão nos comparando aos países superdesenvolvidos como a Suécia, lá as mulheres podem ter 24 meses de licença maternidade. Então, porque não colocar isso aqui no Brasil? Alguma coisa tem que ser feita para que a mulher se veja com vontade de ter um filho, um brasileirinho para fazer um país melhor.

BJ: Nos últimos anos, o Mercado tem influenciado muito as decisões adotadas pelos governantes brasileiros. Por outro lado, os interesses políticos têm condicionados os governos, tornando-os reféns dos humores das agremiações partidárias. Qual o peso que o Mercado vai ter na reforma da Previdência?

ANTÔNIO BRUNO MORALES: Principalmente nesse momento é um peso que não é desconsiderável.  É um peso até muito importante. Primeiro porque, um dos principais fatores para nós discutimos, além do déficit, é o fato de estarmos em crise em termos de PIB. Estamos com expectativas de taxas de crescimento negativas, tanto para esse ano quanto para o ano que vem. Isso naturalmente dificulta as contas porque ao crescer menos, arrecadamos menos. Geramos menos renda e isso naturalmente dificulta o processo. Em termos político, isso vai refletir também de forma natural, principalmente porque o governo atual é um governo de transição resultante de um processo de impeachment e o Congresso, o Senado e o Executivo ainda estão se readaptando.

Reforma da Previdência, Aposentados, Pensionistas, INSS
Reforma deixa  a aposentadoria tranquila mais distante
Foto: Pixabay Public Domain


BJ: Como fazer com que o que entra como contribuição sai como benefício sem provocar prejuízos sociais?

MARTA GUELLER: Fazendo as reformas que são necessárias e a lição de casa que o INSS não faz hoje. Contratando peritos, existem estudos que dizem que quando a pessoa está doente ele tem que ficar o menor tempo possível afastada do trabalho porque ela vai voltar à atividade mais rápido. Hoje a pessoa que está doente vai ao SUS que, mediante uma cartinha dada pelo empregador, dá o afastamento por 15 dias e passou disso ele entra na caixa e começa a receber o benefício. No máximo, dependendo da atividade que se exerce, em 30 dias já se pode voltar ao trabalho, mas o hospital, em caso de necessidade de cirurgia, só vai ter disponibilidade só nos próximos dois anos e meio. Então, ele vai ficar 30 meses esperando por uma cirurgia e só voltar para o trabalho somente um mês depois da recuperação. Nem ele nem o empregador vão aceitar um ao outro. Está tudo errado.

BJ: Existem hoje cerca de R$ 370 bilhões que deixam de ser arrecadados pela Previdência. Segundo informações Ministério da Previdência Social, decorrete falta de pagamento da contribuição previdenciária por parte de grandes empresas, clubes de futebol, multinacionais, universidades, prefeituras, conglomerados jornalísticos, etc. Porque esses grupos não são cobrados devidamente pela Previdência?

MARTA GUELLER: Essa é a questão que não quer calar. Eles são cobrados, há uma execução, o Procurador do INSS ajuíza a ação de execução, eles se defendem, o processo de alonga e pode durar até 24 anos. Nesse período vem o Refis, que é o refinanciamento, daí vem uma lei que permite o parcelamento em 20 anos de uma dívida que rolou por quase três décadas e sabe-se lá como vai ser paga.  É esse o problema do Brasil.

ANTÔNIO BRUNO MORALES: Concordo 100%, principalmente em termos de economia política. Parece que, aparentemente, todos esses grupos que foram citados que, por algum motivo que não sei qual, são beneficiados de maneira desigual. O ideal é que fossem cobrados de maneira adequada, mas sabemos que temos lobbys políticos com interesses contrários.

BJ: Qual a melhor expectativa em relação à reforma da Previdência?

ANTÔNIO BRUNO MORALES: A melhor expectativa é que nós, pelo menos, primeiro, comecemos a discutir mais profundamente a reforma em si, o que parece do ponto de vista prático está acontecendo e, segundo, que nós possamos dar um passo bastante grande para resolver esse problema de déficit que não é nada novo, embora ainda vejo com certo pessimismo, mas acredito que, ao levantar o debate, ele torne a situação menos pior.

BJ: O que a população deve fazer para garantir um reforma justa e cidadã?

MARTA GUELER: A população tem que participar e está atenta. Não precisa correr aos postos do INSS porque quem tem direito hoje de requerer o benefício e não requerer, se vier uma mudança, ele tem o que chamamos de Direito Adquirido. Ou seja, já preencheu todos os requisitos para obter o benefício, mas ainda não exerceu o direito. Isso vai ser mantido porque a Constituição atual garante esse direito como uma clausula pétrea, nenhuma emenda constitucional pode mudá-la. No ato jurídico perfeito não se pode mexer na coisa julgada nem no direito adquirido. Nem por isso, pode-se deixar de discutir a reforma, acompanhar e se manifestar. Portanto, cobre do seu representante na Câmara e no Senado uma posição favorável a todos. Hoje é muito fácil se comunicar com os deputados e senadores. Basta entrar nos sites da Câmara e do Senado. Vá e faça sua parte. 

15 de dez. de 2016

ETERNO ÍDOLO POPULAR

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Miguel Arraes até hoje ainda é querido e lembrado por seu povo
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Se estivesse vivo,  Miguel Arraes de Alencar comemoraria hoje 100 anos de nascimento. Político e estadista de importância e reconhecimento nacional, Arraes construiu uma trajetória política de sucesso focada no povo e em decisões que beneficiaram as classes menos favorecidas.

Cearense de nascimento, desde os dezesseis anos Arraes adotou Pernambuco como estado de origem e seu domicilio eleitoral. A partir dali alcançou notoriedade como deputado estadual por duas vezes consecutivas, deputado federal por três legislaturas, prefeito, e governador do estado por três vezes.

De orientação esquerdista, Arraes fez dos ideais socialistas suas diretrizes e viveu toda sua vida pública e política no estabelecimento e na prática de ações igualitárias e coletivas.

Por adotar medidas que colocavam em risco o poder dos coronéis, dos usineiros e donos de engenhos de cana de açúcar, Miguel Arraes começou a ser mal visto pelas elites sociais e econômicas, mas caiu nas graças e na aprovação do povo.

Como governador estendeu o pagamento do salário mínimo aos trabalhadores rurais, bem como a eletrificação e o abastecimento de água para que se livrassem da dependência da oligarquias dos donos de terra.

Favoreceu também a criação de sindicatos, associações comunitárias e ligas camponesas, movimento que defendia e pregava abertamente a reforma agrária e a igualdade de direitos.

Com o golpe militar foi “convidado” a renunciar, mas recusou-se “por não trair a vontade dos que me elegeram”. Foi deposto e peregrinou por algumas prisões. Após ter sido solto, exilou-se na Argélia por quase 15 anos e foi considerado subversivo pelo (des)governo militar.

Em 1979, retornou ao Brasil e voltou para os braços do povo, elegendo-se facilmente deputado federal e governador pelo PMDB, sempre implantando medidas que beneficiavam os trabalhadores rurais e as populações urbanas desfavorecidas.

Em 1990 filiou-se ao PSB voltando a ser eleito governador. Em 1998 perdeu a eleição majoritária e só voltou a atuar politicamente em 2002, elegendo-se deputado federal, mas sem a facilidade de antes.

Crítico do personalismo político e opositor dos rótulos e das homenagens fora de lugar, Miguel Arraes morreu em 13 de agosto de 2005, mesmo dia em que Eduardo Campos, seu neto e herdeiro político, perdeu a vida em um acidente aéreo enquanto cumpria agenda como candidato à Presidência da República, em 2014.

Adorado e ovacionado por admiradores e correligionários, Doutor Arraes, como é respeitosamente chamado, ainda faz parte do imaginário coletivo de pernambucanos, nordestinos e todos os que continuam a enxergar nele a figura do político correto que tinha o jeito, a alma, os gostos e o cheiro do povo.

FRASES
"Acho que o personalismo em política é um erro, nós devemos é lutar para que surjam quadros novos (...). A posição de chefe, em política, é um grave defeito, um grave erro". 

"Nunca me preocupei com rótulos. O rótulo de radical, conciliador, não tem nenhum sentido para mim, como não tinha sentido me chamarem de comunista no passado. O que importa é a prática política; o que importa são os posicionamentos que se tomam ao lado de determinadas camadas sociais em defesa de teses que interessam à nação como um todo". 

"Minha vida todo mundo pode saber, pois nunca gostei de dinheiro pra ter muito dinheiro. Gosto de dinheiro pra gastar. Pra gastar, todo mundo gosta. Mas, pra ter dinheiro... Dinheiro é uma coisa perigosa. Na mão de um homem público é um desastre". 

"Não defendemos nem um Estado mínimo nem máximo. Defendemos e lutamos, isso sim, por um Estado que, a partir de suas peculiaridades, cumpra suas finalidades públicas". 

"O socialismo não precisa ser redefinido. O socialismo é fruto das contradições da sociedade". 

"Eu acho que a humanidade tem de encontrar um sistema que busque uma solução satisfatória para todos e pregue a pacificação das relações humanas. O socialismo seria essa busca da solução satisfatória para todos. O que se viu no Leste Europeu não era socialismo. Eram regimes de grandes partidos, bastante assistencialistas. A juventude não foi incorporada, não se identificou com o processo". 

"Irão dizer que [Luiz Inácio] Lula é incompetente, como se competência viesse dos livros dos eruditos. Lula é competente porque viveu com o povo e com os trabalhadores. É aquele que pode trazer tranquilidade para o país porque aprendeu a negociar nos sindicatos os direitos dos trabalhadores sem vacilar". 

"O Lula sofreu uma derrota política nas eleições presidenciais, mas continua com o mesmo discurso de derrotado. Não será jamais ouvido. Quando você é derrotado, tem de examinar sua derrota, tem de se compor". 

"Ele não parece em nada com o Juscelino, mas com o Dutra, assessorado pelos americanos. Juscelino se levantou contra o FMI e Prestes foi ao Palácio se solidarizar com ele. Quando a gente vai se solidarizar com FHC por se opor ao FMI?", sobre Fernando Henrique Cardoso. 

AMIGO DO POVO, OPERÁRIO DA IGUALDADE

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Dom Paulo Evaristo Arns, exemplo de dedicação, altruísmo e sacerdócio
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Porta voz da igualdade, defensor dos direitos humanos, mensageiro da paz. Todos os adjetivos que possam expressar a importância e o significado da existência de dom Paulo Evaristo Arns, que nos deixou ontem, aos 95 anos, não se esgotam em si.

Porém, o que mais chamava a atenção nele, além de sua coragem e seu destemor, era a forma carinhosa e dedicada com que tratava a todos.

Dom Paulo soube muito bem, e como poucos, encarar e superar as adversidades impostas, na maioria das vezes por humanos, com sensatez, segurança e serenidade.

Sua decisão em fazer um culto ecumênico em honra ao jornalista Vladimir Herzog, assassinado pelos militares nas salas obscuras da ditadura, foi de uma grandeza de caráter tremenda e de uma visão humanista incomparável.

Dom Paulo conseguiu transitar pelo mundo complicado das contradições humanas ao longo dos seus mais de 50 anos de sacerdócio, completados em 2016, com a diplomacia e a consciência que faltam a muitos líderes políticos e humanitários.

Dom Paulo Evaristo Arns, dom Paulo, Religião, Catolicismo, Ditadura  Militar
Dom Paulo Evaristo: líder humanitário sempre receptivo
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Com seu comportamento solidário e altruísta, dom Paulo foi um exemplo de como o sentimento religioso pode superar o fundamentalismo da religião, frear a intolerância e possibilitar o respeito e a convivência pacifica entre os diferentes.

Ações como sentar-se à mesa com os que lhe serviam, criar Comunidades Eclesiais de Base, vender um palácio episcopal para comprar terrenos em bairros populares para a construção de centros comunitários através da Operação Periferia, permitiram a ele provar que o mais simples é sempre um caminho possível e viável.

Em um ano de perdas e rupturas que vão deixar marcas profundas e cicatrizes registradas para sempre em nossa História, a morte de dom Paulo nos entristece, porém sua luta e sua trajetória também nos dão alento, ânimo e a certeza de que é possível endurecer sem jamais perder a ternura. 

RIP, dom Paulo Evaristo Arns!