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Serra e Temer: Bambu ou Juca? Foto: Wilson Dias/Agência Brasil (23/06/2016) |
A saída de José Serra do Ministério das Relações
Exteriores, ao mesmo tempo em que provoca desconforto no governo, cria também
oportunidades para o presidente Michel Temer e indecisão política para o ex-ministro tucano.
O incômodo se dá pelo fato de que saídas voluntárias ou quedas de ministros nunca pegam bem para nenhum governo, já que abrem espaço para especulações em torno dos reais motivos que resultaram no desligamento do ocupante da pasta.
No
caso do governo Temer, a oportunidade ocorre porque a desistência de Serra em permanecer como chanceler faculta ao presidente a possibilidade de fazer uma escolha técnica e não
política no que diz respeito ao novo nome que vai assumir o comando do Itamarati.
Entretanto,
o que é oportunidade pode ser dúvida e gerar dilema: o melhor é escolher para o cargo um diplomata de carreira, alguém que possua
conhecimento prático, ou um político que, mesmo não tendo a formação exigida,
seja um legítimo representante dos ideais presidenciais e um fiel defensor de
sua excelência, o presidente?
Afora
as controvérsias, o fato é que José Serra a frente do Ministério das Relações
Exteriores não estava sendo nenhuma coisa nem outra.
Serra
não é diplomata nem estava à vontade no cargo que ocupava e, por
mais que não expressasse isso verbalmente, deixava claro em suas atitudes e
decisões desconforto e certa falta de tato para o cargo.
José
Serra como chanceler foi uma escola política de Temer. Um gesto instintivo de reconhecimento.
Foi
a maneira mais imediata, embora não a melhor, que o presidente escolheu para agradecer
e recompensar o apoio dado pelo tucano ao seu nome como substituto de Dilma
Rousseff.
Serra
foi um dos políticos que articularam o apoio e o aval dos empresários a Michel
Temer, mas em nenhum momento demonstrou disposição ou interesse pela pasta para qual foi recompensado e que ocupou até ontem, nem paixão por quem o colocou lá.
Com
a saída de José Serra das Relações Exteriores, Michel Temer tem também a ocasião
de devolver ao Ministério a importância e o reconhecimento estratégico dados
por FHC e Lula quando ocuparam a presidência da república, mas que se
enfraqueceu no governo Dilma e foi praticamente extinto no atual governo.
O
Ministério das Relações Exteriores é estratégico para qualquer país. É
ele quem dá vez e voz ao presidente lá fora e quem fomenta e direciona a
política externa estabelecendo novos laços e fortalecendo os já existentes. Durante
o governo Temer, o Ministério das Relações Exteriores tem sido uma mera
formalidade.
Temer
tem, portanto, não só o momento certo para corrigir um erro de estratégia e de
fortalecer um relacionamento internacional que se perdeu nos últimos dois anos,
mas igualmente a chance de melhorar sua imagem que anda queimada lá fora, pelo
menos diante dos jornalistas e formadores de opinião da América Latina.
Será esse um dos motivos que levaram Serra a deixar as Relações exteriores? (Clique aqui e leia o artigo Lá e Cá sobre a pesquisa da Ipsos com os índices de e
aprovação de Temer e 11 presidentes latino-americanos).
No
que diz respeito ao futuro político de Serra, o que se sabe, por enquanto, é
que ele deve voltar para o Senado, o que não lhe basta nem lhe é suficiente,
considerando sua inegável e eterna pretensão presidencial.
De
qualquer forma, as especulações e apostas estão abertas.
Contudo,
o destino do tucano vai depender de sua disposição em convencer o PSDB a
lançá-lo como candidato do partido ao Planalto, do rumo que vão tomar as
denúncias que pesam sob ele na Lava Jato em relação à acusação de favorecimento
de R$ 23 milhões, recebidos como caixa 2 da Odebrecht, e de sua já conhecida
insistência política.
O
fato é que Serra já não depende mais tão somente dele para chegar ao Palácio do Planalto.
Resta
saber se o problema na coluna que o afastou do Ministério das Relações Exteriores
o tornou mais flexível e maleável como o bambu ou se o deixou mais duro, denso
e resistente como o Jucá.
As
respostas logo virão, afinal, tratando-se de José Serra, nada é
surpreendente e tudo é uma questão de pouco tempo.
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