12 de dez. de 2016

JOGO DURO

Reforma da Previdência, Aposentados, Pensionistas, INSS
Reforma da Previdência: Pouca luz no fim do túnel
Foto: ANPR (14/06/2016) Fotos Públicas
As propostas para a reforma da Previdência finalmente foram divulgadas e enviadas ao Congresso Nacional para serem analisadas e votadas.

O rigor e a dureza das medidas que Michel Temer pretende adotar para essa e às próximas gerações em relação à aposentadoria chamaram a atenção da população e deixaram preocupados trabalhadores e aposentados nos quatro cantos do país.

Segundo o governo, a Previdência se tornou um poço sem fundo e a reforma é a solução inadiável. Porém, a crise política e o descompasso entre os três poderes também têm gerando discussões e especulações variadas em relação ao assunto e podem tumultuar a aprovação das propostas.

Diante das dúvidas e incertezas, os números falam mais alto.

Rombo de R$ 130 bilhões projetado para esse ano, quantidade de idosos crescendo maior do que a de jovens, receita menor do que a despesa, são algumas das justificativas do governo para a necessidade e urgência da reforma.

Dados do IBGE mostram que últimos 20 anos o número de aposentados dobrou e já passa dos 30 milhões, a expectativa de vida melhorou alcançando a média de 74 anos de idade, enquanto a quantidade de nascimentos vem caindo acentuadamente.

Hoje o Brasil tem cerca de 30 milhões de aposentados, o dobro de 20 anos atrás. Nos próximos 25 anos os idosos serão a metade da população brasileira. A proporção hoje é de 09 trabalhadores para 01 aposentado. Nos próximos anos essa proporção será de 04 para 01. 

Nesse cenário em que as contas não fecham a solução mais imediata parece ser a maioria perder para que todos possam ganhar.

Mas será que essa solução também é a mais justa?

Os mais jovens terem que pagar o pato, alguns direitos serem revistos e novas conquistas adiadas é mesmo inevitável?

Será que é preciso tudo isso mesmo?

O BLOG DO JOAQUIM realizou uma série de três entrevistas sobre a reforma da Previdência. Consultou um especialista a favor e outro contrário à reforma e às propostas apresentadas pelo governo Temer.

Nessa primeira entrevista vamos conhecer as opiniões de Antônio Bruno Carvalho Morales, economista favorável à reforma previdenciária e professor do Insper.

Na quarta-feira, a entrevista será com Marta Gueller, Doutora em Direito Previdenciário, contrária à reforma e às propostas apresentadas pelo governo federal.

Na sexta-feira, os dois especialistas debaterão conjuntamente o tema, analisando alguns pontos das propostas.

Reforma da Previdência, Aposentados, Pensionistas, INSS
Antônio Bruno Carvalho Morales, Economista e Professor
Foto: Reprodução


BLOG DO JOAQUIM: Antes mesmo das propostas serem divulgadas em sua totalidade, o que foi vazado na mídia gerou um clima de expectativa e uma discussão mais acalorada entre os defensores e os opositores da reforma previdenciária. O senhor é um dos economistas favoráveis à reforma. Porque ela é necessária?

Antônio Bruno Carvalho Morales: Primeiramente porque nos últimos anos a população brasileira, e mundial, de maneira geral, tem envelhecido e esse envelhecimento, devido ao aumento da expectativa de vida, faz com que menos gente no mercado de trabalho esteja bancando mais gente fora do mercado de trabalho e por mais tempo. Esse problema tem se tornado cada vez mais relevante em termos de orçamento público.

BJ: Se a reforma da Previdência demorar para acontecer, o que pode ocorrer com o Brasil nos próximos anos?

Antônio Bruno Morales: Nós já estamos com um problema de crescimento econômico, o que dificulta bastante a arrecadação. Em termos práticos, o que pode acontecer nos próximos cinco ou dez anos é nós termos cada vez menos gente bancando um contingente muito grande e elevado de pessoas aposentadas. Isso em termos de projeção pode fazer com o governo tenha que aumentar a arrecadação em torno de 10% do PIB, o que seria muito oneroso para o país.

BJ: Desde que a imprensa começou a falar mais sobre a reforma da Previdência, aumentou a procura da população aos postos do INSS para dar entrada nos pedidos de aposentadoria. Até que ponto o temor do brasileiro, e essa procura quase que desesperada da população, fazem sentindo?

Antônio Bruno Morales: O que mais chama atenção é a incerteza quanto a mudança de regimento. As pessoas têm muita dúvida se a idade mínima vai subir. E de fato isso é uma tendência mundial. Países como França têm aumentando a idade mínima para o cidadão se aposentar, de modo que, diante de tantas incertezas internas, as pessoas que já vinham planejando sua aposentadoria ficam mesmo inseguras.

BJ: O aumento da idade mínima é um problema de que natureza?

Antônio Bruno Morales: Isso é basicamente um problema de economia política. Eventualmente uma população para fazer a transição para um regime previdenciário mais saudável, do ponto de vista de contas do governo, vai ter que pagar um pouco mais. O maior medo é que seja a geração de hoje. Quem tem buscado os postos do INSS tem feito isso exatamente porque não quer ser o primeiro a sofrer eventuais baixas em termos de benefícios, por exemplo.

BJ: A reforma da Previdência envolve questões econômicas e políticas, mas também envolve interesses distintos. De que forma esses fatores têm inviabilizado ou atrasado a realização da reforma?

Antônio Bruno Morales: Tem atrasado bastante porque é um tema que em termos políticos ninguém quer colher, nem ter esse custo para si. Nenhum político, por mais que se diga na mídia que precisamos fazer a reforma seja assim ou assado, quer em termos práticos assumir que foi ele quem fez ou ajudou a fazer a reforma previdenciária.

BJ: O que de mais há além disso?

Antônio Bruno Morales: No mais, há um conflito de gerações. Alguma geração vai ter que ser penalizada, seja essa ou a próxima. Nenhum político quer tomar esse ônus para si. Talvez por isso o presidente Temer tem entrando mais firmemente na discussão, dado que ele não foi eleito presidente, ele foi eleito vice-presidente. Por isso ele pode tratar o assunto de maneira mais contundente já que, o fato dele não ter sido eleito, dilui um pouco seu custo político. 

BJ: Até que ponto o fato do Congresso não querer arcar com o ônus e a atual situação política do país podem inviabilizar a aprovação da reforma previdenciária?

Antônio Bruno Morales: Vai depender muito de como a Câmara e o Senado irão se organizar. Depende muito do contexto político. De qualquer forma, as partes que são mais interessadas são as que sofrem mais. Existe um conflito em economia política que diz que as pessoas que vão atrás são as pessoas que estão sofrendo, no caso da reforma é quem está para se aposentar. Por outro lado, as pessoas que seriam as mais beneficiadas no longo prazo, no caso os jovens e até a população como um todo não se mobilizam. Às vezes por desconhecer benefícios que a reforma pode provocar no curto prazo, como por exemplo a queda dos juros.

BJ: Considerando o Congresso Nacional que temos hoje e as propostas que já foram aprovadas e recusadas por ele nesse governo e no anterior, qual a disponibilidade dos congressistas em aprovar ou recusar as propostas da reforma da Previdência?

Antônio Bruno Morales: Acredito que é um ponto difícil e que, com certeza, vai gerar diversos conflitos. Temos que abrir mais o debate de forma mais consistente, tentando mobilizar mais a opinião pública a ter mais acesso ao Congresso e exercer mais pressão.

BJ: Analisando a história de nossa Previdência Social ao longo dos anos, quais são os pontos positivos e os pontos negativos de nosso sistema previdenciário da forma que ele está estruturado atualmente?

Antônio Bruno Morales: Em ternos de sistema, o principal problema é que o contribuinte de hoje paga para o aposentado de hoje, ou seja, é um sistema em que você beneficia quem já está aposentado. O ideal, ou menos oneroso em termos de governo, seria um sistema de capitalização, em que o Estado capta o dinheiro contribuído, via algum título público ou alguma forma de remuneração, e quando o cidadão for se aposentar recebe de volta o dinheiro que ele pagou ou contribuiu. Em termos práticos isso é mais oneroso de se fazer, principalmente porque há um conflito de gerações, como eu já expliquei anteriormente.

BJ: Até que ponto a aposentadoria complementar, uma opção à aposentadoria tradicional, é uma possibilidade positiva, sem esquecermos de considerar a realidade econômica do país e a desigualdade social que ainda é alta no Brasil?

Antônio Bruno Morales: O ponto principal é incentivar as pessoas a pouparem desde cedo. Sempre faço uma analogia como a pessoa que faz regime. A pessoa acorda disposta a começar o regime na segunda-feira, só que, por um acaso, está chovendo e ele resolve não sair e fica na cama. A mesma coisa acontece com as decisões de poupança. Acha-se que se é jovem ainda e que não se precisa poupar agora. O caminho é fazer de forma sistemática as pessoas reagirem a esse incentivo e ajudarem um pouco mais o Estado tomando a decisão de poupar. Em termos práticos, é estimular as pessoas a fazerem a auto aposentadoria.

Reforma da Previdência, Aposentados, Pensionistas, INSS
Pospostas para reformar a Previdência provocam dúvidas e geram incertezas
Foto: ANPR (14/06/2016) Fotos Públicas


BJ: No que diz respeito à reforma previdenciária, o incentivo à aposentadoria complementar não diminui a responsabilidade do governo em relação à Previdência, passando para a iniciativa privada o ganho real e garantido que seria do Estado?

Antônio Bruno Morales: De certa maneira sim. Mas, por outro ponto, a curto prazo, a responsabilidade maior do governo, em termos de soluções, é subir a idade para se aposentar ou desatrelar a aposentadoria do reajuste do salário mínimo, questões que tem que ser discutidas profundamente.

BJ: A aposentadoria complementar na faz parte da cultura de nossas gerações. Qual a possibilidade da Previdência Privada se tornar um hábito para as gerações que vão ter que conviver com um novo regime previdenciário, caso a reforma seja realmente aprovada? Qual a disponibilidade que essas gerações vão ter em investir em uma aposentadoria complementar?

Antônio Bruno Morales: Depende muito de como nós geramos os incentivos paras as pessoas. Os seres humanos, de uma maneira geral, reagem aos incentivos, sejam eles positivos ou negativos. Por alguma razão, especifica ou cultural, por exemplo, o Japão poupa mais do que o Brasil. No nosso caso, acredito que a responsabilidade do governo é criar na população a conscientização de que seria produtivo para o país como um todo que as pessoas poupassem um pouco mais, tanto no sentido do curto prazo, para gerar mais investimento, quanto no sentido da Previdência.

BJ: Temos como fazer uma reforma previdenciária definitiva ou daqui há alguns anos vamos ter que fazer a reforma da reforma?

Antônio Bruno Morales: Aparentemente e infelizmente não existe uma reforma definitiva. Se analisarmos diversos países que enfrentam esse mesmo problema, eventualmente, em dez anos, as condições demográficas mudaram e ele tiveram que lidar com outros problemas. O ponto principal é que já temos um horizonte de 20 ou 30 anos em que sabemos que a população vai envelhecer e nossa base em ternos de população economicamente ativa vai diminuir, no sentido que teremos proporcionalmente menos gente bancando as pessoas aposentadas.

BJ: Em ternos práticos, o que é mais importante agora?

Antônio Bruno Morales: Qualitativamente falando, o pulo que temos que dar é como encarar esse fato que vai acontecer. Isso é o principal agora. Em termos de reforma definitiva acredito que não há. Daqui a 40, 50 anos vamos ter outro tipo de comportamento demográfico. Podemos, através de análises estatísticas, prevê um pouco desse comportamento, mas não sabemos o que realmente vai acontecer e, eventualmente, teremos que nos adaptar a isso.

BJ: Quais são os fatores externos ou não inerentes à situação da Previdência Social que podem atrapalhar a reforma e impedir que ela aconteça de forma efetiva?

Antônio Bruno Morales: Primeiramente o aspecto político. Não vivemos um momento politicamente tranquilo, afinal acabamos de sofrer um processo de impeachment da presidente Dilma. Além disso, a questão da ação coletiva, ou seja, a mobilização de pessoas que em geral seriam melhores beneficiadas. São questões comuns na literatura de economia. Tem um pouco desses dois problemas, mas, no curto prazo, vejo a questão política como uma dificuldade extra, além do baixo crescimento econômico que não vai se resolver em um estalar de dedos. Temos projeções muito ruins para o final desse ano e para 2017. Algo em torno de -3,6% e -3,8% de crescimento. Isso claramente nos atrapalha em ternos de planos para reforma da Previdência.

BJ: Alguém vai ter que pagar pelo ônus da reforma. Quem vai pagá-lo?

Antônio Bruno Morales: Provavelmente, em termos políticos, será o Poder Executivo, no caso o presidente Michel Temer. Acredito que ele parece estar disposto a isso. Porém, especificamente, no que diz respeito à transição de sistemas entre reformas, acho que é a geração que se está para aposentar. Talvez, por isso, as pessoas estejam correndo aos postos do INSS para dar entrada no processo de efetivação de aposentadoria. 


8 de dez. de 2016

VALE TUDO BRASIL

STF, Renan Calheiros, Política Brasileira, Judiciário X Legislativo, Supremo Tribunal Federal, Senado, Câmara, Congresso Nacioanal
STF reunido: Jurisprudência do jeitinho brasileiro
Foto: Agência Senado
Na luta pela sobreposição dos poderes, o Judiciário derrotou o Judiciário e fortaleceu o Legislativo. 

Ao arbitrar em favor da permanência de Renan Calheiros na presidência do Senado, o Supremo Tribunal Federal pôs remendo de pano novo em roupa velha.

O STF errou ao dar uma solução institucional oportunista a um problema político. Atirou no próprio pé, contradisse o discurso anticorrupção, expôs e enfraqueceu alguns de seus ministros, comprometeu a figura do judiciário e favoreceu o vale tudo.

Invés de cumprir o que ele próprio estabeleceu, o STF optou pelo jeitinho brasileiro, criando a jurisprudência institucional do arrumadinho.

A decisão tomada ontem pelo Supremo permitiu que a Câmara e o Senado possam se deliciar à vontade do self servisse nacional que virou a política brasileira, alimentando a fome do Congresso em se tornar autoimune às investidas do Judiciário.

Um dia depois da derrota dos Meritíssimos sobre eles mesmo, a imprensa já vazou a intenção da Câmara e do Senado em articular a criação de uma emenda para blindar seus presidentes de processos no STF.  Porém, só em 2017, depois que a poeira baixar, usando uma expressão calheristica.

Enquanto isso, imagens fortemente divulgadas na mídia e virilizadas nas redes sociais escancaram outra vez a falsa imparcialidade do Juiz Galã, aos risos, afagos e abraços com o, várias vezes acusado, senador come quieto, em evento promovido por um veículo da imprensa não menos imparcial.

STF, Renan Calheiros, Política Brasileira, Judiciário X Legislativo, Supremo Tribunal Federal, Senado, Câmara, Congresso Nacioanal
Aécio, Moro e Cia. Ilimitada: Amizade imparcial
Foto: Reprodução

A foto, além de revelar relação de intimidade entre Morécio, é um retrato do que o Judiciário e a Lava Jato se tornaram nos últimos tempos: instrumentos de favorecimento diferenciado, em que iguais são tratados de forma desigual e dessemelhante.

Invés de admoestar, o STF optou por passar a mão na cabeça de Renan Calheiros, retirando-lhe apenas o direito de entrar na linha sucessória presidencial.

O Supremo agiu como quem acredita que Renan reúne condições políticas e morais para ser presidente do Brasil ou como quem estava convencido de que o desejo de Calheiros é a Presidência da República.

Ser presidente do Brasil para que, se no Senado ele tem a força e o poder que Temer não tem no comando país?

Vamos ter de engoli-lo, sim. Não só esse ano. Em 2017, também, pois Renan sai fortalecido e legitimado pelo STF para continuar à frente do Senado Federal também nos anos vindouros.

Veja: IstoÉ o Brasil de nossa Época. 

Plim Plim pra você!

Já que vale tudo, também vale juntar o Swing de Tim Maia com o bom humor e o molejo de Bezerra da Silva para cantarem a realidade política institucionalizada de nosso país e darem uma desopilada no nosso fígado.

Ouve aí, Malandragem! 

Liberou geral!




5 de dez. de 2016

POETA INCONTINENTE

Ferreira Gullar, Poesia Brasileira, Poeta Subversivo, Poema Sujo
Ferreira Gullar, Poeta incontinente
Foto: Reprodução

O poeta Ferreira Gullar, morto ontem, aos 86 anos, era um homem de palavras e de palavra. Soube manejá-las, dizê-las e cumpri-las com jovial vigor.

Ferreira Gullar Soube navegar como poucos no oceano das paixões tamanhas e passear com propriedade pelo universo diverso das contradições e convergências humanas não menos pequenas. 

Viajou gostoso do erudito ao popular e escreveu versos que se transformaram em música. É dele a letra de O Trenzinho Caipira, melodia de Heitor Villa Lobos.

Exilado pela ditadura militar, não se exilou. Subvertendo a ordem e as ordens, permaneceu guerrilheiro ativo, combatente clandestino, como afirmou em seu Poema Sujo.

Peregrinou a contar e a cantar o Brasil e a América Latina em versos e prosa, em concretimo(s), sem omitir o princípio de realidade nem negar os sonhos diversos de nossas latinidades várias.

Poeta Grande e incontinente, voz dissonante, Ferreira Gullar deixou as palavras e a poesia de luto em uma manhã outonal de um domingo frio quente, não morno, como ele e seus versos, adversários implacáveis das rimas fáceis e das palavras encaixáveis.

Poeta de versos, com olhares diversos sobre um país diverso, Ferreira Gullar vai fazer falta em um mundo em que a verdade e a dúvida são cada vez mais raras e onde as inverdades e a desconfiança abundam.

Evoé, Poeta Grande!

RIP, Ferreira Gullar!




2 de dez. de 2016

DEBATE REFORMA DA PREVIDÊNCIA

PONTO & CONTRAPONTO DEBATE A REFORMA DA PREVIDÊNCIA
FOTO: PIXABAY.COM







O Ponto & Contraponto é um programa de debates que aborda temas atuais para o público em geral. O tema dessa edição foi a Reforma da Previdência.


Debateram  o assunto, o professor do Insper e economista Antônio Bruno Cardoso Morales e a advogada previdenciária Marta Gueller.


O programa foi uma realização conjunta dos jornalistas Tatiane Mello, Luiz Felipe Correia, Vinícius Souza e Joaquim Silva Filho para Uninove - Universidade Nove de Julho - sob a supervisão do  Professor Doutor João Luiz Gago.

NO FIO DA NAVALHA

Disputa entre os três poderes no Brasil, Três Poderes, STF, Senado, Política Brasil, Renan Calheiros, Lava  Jato
Foto: Reprodução Pixabay Public Domain


Os últimos acontecimentos da política nacional e as disputas de ego entre os três poderes para determinar que tem mais força estão levando Brasil a um estado de catalepsia progressiva e aos poucos vão fazendo com o que o país entre em um processo de perdas irreversíveis.

A falta de legitimidade do governo brasileiro é a principal causa de nossa paralisia. 

Governo de um presidente que não foi eleito, mas promovido.

Paralisia que é notadamente resultado de um conjunto desordenado de comportamentos equivocados que só se acentuam e afetam com intensidade cada vez maior nossos movimentos e nossa postura.

Estamos caminhando para um estado de coma induzido, provocado pela irresponsabilidade e inabilidade política dos três poderes, pela incapacidade gritante deles em se respeitarem ou de se colocarem em seus devidos lugares e pelo desespero dos derrotados em não aceitarem a derrota nas urnas.

Já não é mais uma quebra de braço ou uma luta em vários rounds, mas sobreposição de poderes mesmo.

O acavalamento entre Executivo, Legislativo e Judiciário é para lá de inconsequente. Ou pior: de consequências letais. 

Esse estado de coisas só gera confusão, impossibilita a discussão favorável. Não soma nem divide, só subtrai e nos rouba deliberadamente.

Pelo que tudo indica, o clima de vingança instaurado por Eduardo Cunha parece ter feito escola e está sendo mesmo pior do que podia supor nossa vã filosofia.

Disputa entre os três poderes no Brasil, Três Poderes, STF, Senado, Política Brasil, Renan Calheiros, Lava  Jato
Foto: Reprodução Pixabay Public Domain
A guerra entre os poderes, que dizem estarem sólidos e constituídos, limita o debate político à disputa entre o bem e mal, tornando-nos cada vez mais reféns dos humores e das instabilidades emocionais de homens e mulheres trajados de terninhos bem cortados e de capas pretas esvoaçantes.

Homens e mulheres que estão tão próximos da santidade quanto o Brasil de Calbayog, cidade mais distante do nosso páis e que fica nas Filipinas e que está cerca de 20 mil quilômetros longe de nós.

“Casa de ferreiro, espeto de pau” ou “quem com o ferro fere com o ferro será ferido”, definem melhor esses digníssimos senhores e senhoras e suas atitudes.

Não bastasse a irracionalidade visível dos que se dizem racionais, mas que não pensariam duas vezes antes de jogar tudo para o alto, como se o país estivesse atrelado a eles igualmente ao que ocorre em uma relação passional fundamentada em ameaças, cria-se também um ambiente, embora não tranquilo, favorável ao surgimento de um herói nacional.

No estado em que a coisas chegaram, não vai demorar muito para que o salvador da pátria, o político messiânico se apresente e se coloque a postos para nos redimir ou nos condenar a danação total.

É isso o que acontece quando a democracia é assaltada e aviltada como foi a nossa. Resta saber se estamos dispostos a correr um risco tão alto. Espero que não. 

Portanto, recobremos a consciência e a memória o quanto antes, caso contrário estaremos todos definitivamente ferrados por essa disputa de poder entre os dinossauros contaminados de naftalina, e presos por seus egos inflados de orgulho, furor, vento e tempestade.

26 de nov. de 2016

PARA SEMPRE EL COMANDANTE

Fidel Castro, Fidel, El Comandante, Cuba, Revolução, Socialismo, Comunismo
El Comandante e Che Guevera
Fotos: Pixabay

Fidel Castro, líder revolucionário e ex-presidente de Cuba, morto ontem (25), aos 90 anos, afirmou certa vez que se alguém não faz, o tempo todo, tudo aquilo que pode e até mais do que pode, é exatamente como se não fizesse absolutamente nada. 
A frase, dita há mais de duas décadas, hoje não é só autobiográfica, mas define também quem Fidel foi e o que representou para o mundo: um lutador incansável.

Fidel foi chamado de tudo e vários adjetivos foram utilizados para classificá-lo e desclassificá-lo: ditador, inflexível, centralizador, líder, valente, feroz, destemido, generoso. Porém, nenhuma outra expressão o representa melhor do que El Comandante.

Além de simbólica, forte e marcante, a expressão, que ao mesmo tempo é homenagem, reconhecimento e titulo, representa também alguém que sempre fez questão de estar à frente de seu tempo e que nunca fugiu à luta, impossibilitando assim, quase que unanimemente, que alguém possa chama-lo de covarde e vacilante.

Pelo contrário. Ao longo de nove décadas, El Comandante fez justiça ao seu nome: Fidel sempre foi e permaneceu fiel e sincero.

Fidelidade e sinceridade que incomodaram porque Fidel Castro, enquanto revolucionário, não enxergava apenas a parte, mas fazia questão de ver o todo, o comum, o igual, o outro.  

Fidel foi um revolucionário que não se furtou a perder tudo: a família, a liberdade, até a vida. Menos a moral, como também afirmou.

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Fidel Castro: Símbolo da luta e da resistência
Foto: Pixabay


Amado e odiado, temido e respeitado, conciliador e provocador, Fidel Castro também foi considerado por muitos, ao longo de vários anos, o sinônimo e o antônimo de luta, resistência, firmeza, rigidez, inflexibilidade, excesso e ausência de princípios.

Inteligência equilibrada que não dispensava o senso utilitário e comunitário, Fidel Castro sai da vida e entra para a história sem que se tenha tornado uma unanimidade nem para o bem e nem para o mal.

Líder para  uns, vilão para outros, mas exemplo para todos de que o conhecimento sem ação leva à estagnação e à morte dos sonhos. 

Guerrilheiro incansável, estrategista sem igual que colocou a luta à frente da vida, humano e passível de erros como todos nós, Fidel fará falta em um mundo que cada vez mais procura se encerrar em si mesmo e no individualismo desmedido do capitalismo globalizante, selvagem e predador.

Entretanto, a consciência que Fidel possuía de que os homens não moldam seu destino, mas que o destino produz o homem de cada momento; a certeza que os homens passam, mas os povos e as ideias ficam, permanecerão por muito tempo e seguirão contando sua história.  

História que não trai e que, como ele acreditava, o absolverá de qualquer acusação que possam vir a lhe imputar.

RIP, El Comandante!

22 de nov. de 2016

MORRENDO PELA BOCA

Temer, Corrupção, Geddel, Crise, Política, Brasil
Temer: ao pé do ouvido
Foto: Lula Marques/Agência PT - Fotos Públicas (24/11/2016)
Sai governo, entra governo e algumas figurinhas carimbadas da política brasileira insistem em adotar velhas práticas erradas. As bolas da vez agora são novamente o indeciso Michel Temer e seu fiel escudeiro Geddel Vieira Lima.

Titular do (des)governo que faz que vai, mas não vai, e crítico feroz das ações da administração anterior, as quais faz questão de classificar como equivocadas, Temer parece disposto a morrer pela boca ao decidir manter no cargo Geddel, seu ombro amigo, acusado, de novo, de benefício pessoal e barganha política.

O agora homem fraco de Michel, mais do que fritar a si mesmo, vai acabar eletrocutando o presidente, que queimado já está.

Por sua vez, Temer não deixa por menos e insiste em desmentir Temer. Contradizendo-se a si mesmo, o presidente só piora sua imagem tão enfraquecida e erra novamente quando não faz o que diz e quando continua a fazer o que condena.

Porém, o que mais chama a atenção é o silêncio conivente dos que há meses atrás insistiam em fazer barulho e alardear ações corruptas todas as vezes que algum cão (in)fiel do governo anterior, o qual ajudaram a derrubar, cometia travessuras.

O silencio do séquito presidencial é sepulcral.

Situação peculiar, atitude esperada ou eles morreram mesmo e viraram almas penadas?

Não. Eles continuam vivinhos da Silva, mas morrendo de medo de também serem pegos na mentira ou de serem alcançados pelas garras do juiz galã.

Antes eles fizessem o mesmo silêncio dos Maracatus na Noite dos Tambores Silenciosos do Recife. Fariam mais bonito.

Entretanto, preferem agir na surdina, na tocaia, na espreita, que nem assassino de aluguel.

Assim como os ratos e seus atos noturnos, são genuínos malabaristas e possuem múltiplas habilidades físicas, tal e qual o Rattus norvegicus, a popular ratazana: nadam, sobem em lugares altos, equilibram-se em fios, mergulham, abrigam-se em tocas que cavam na terra, terrenos baldios, lixões e sistemas de esgotos. 

10 de nov. de 2016

LONGA JORNADA NOITE ADENTRO

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Donald Trunp, Presidente eleito dos EUA
Foto: pixabay.com
A eleição de Donald Trump como presidente dos EUA, mas do que surpresa, causou decepção. A possibilidade dele obter sucesso na corrida eleitoral sempre foi um risco iminente, embora subestimado pela imprensa mundial. 

A decepção ocorre pelo fato de Trump ter sido eleito em um momento em que a humanidade necessita de homens públicos que tenham valores contrários aos que ele faz questão de demonstrar possuir.

Afirmei em outro artigo e reafirmo agora: Trump é o que é.

Donald Trump não se esconde atrás da máscara do politicamente correto, como fazem a maioria dos norte-americanos. Talvez isso seja o que há de pior e o de melhor nele: sua sinceridade.

A sinceridade de opiniões e as atitudes repletas de sentimentos baixos, mas deliberadamente assumidos, ao mesmo tempo que incomoda e preocupa o mundo, dão a Trump coragem para seguir em frente. Entretanto, da mesma forma que a sinceridade dele hoje é seu sucesso, amanhã poderá ser seu fracasso.

Apesar de tudo, prefiro a sinceridade politicamente incorreta de Trump do que a falsidade travestida de bom mocismo de hipócritas e golpistas. 

Por outro lado, considerando o atual contexto mundial, a realidade norte-americana e a dificuldade do ser humano em eleger qual o melhor caminho seguir, os estadunidenses se viram em um mato sem cachorro.

Se Trump é o sinônimo da antipolítica e o antônimo da diplomacia, Hilary Clinton também não fica para trás. Não me parecia ser o melhor, nem para o povo norte-americano nem para o mundo.

Hilary não é nenhum exemplo de bom estadista nem o suprassumo da quintessência. As atitudes e decisões que tomou durante o governo de Barack Obama falam por ela.

Na verdade, Hilary representava a opção menos pior para os norte-americanos, mas também era um risco.  Pouco evidente, mas nem por isso menor.

Donald Trump, Trump, EUA, Eleições americanas, Hilary Clinton, Hilary, Poder, Mundo
Donald Trump, Presidente eleito dos EUA
Foto: pixabay.com


Outrossim, a política, lá é cá, tem-nos nos dado lições diárias, de modo que, ser eleito é uma coisa, ter legitimidade é outra. O Brasil que o diga.

Entretanto, o discurso nada diplomático e pouco conciliador de Trump ao dizer, depois de confirmada sua vitória, que os EUA só vão se relacionar com quem quer se relacionar com eles, demonstra pouco flexibilidade em dialogar, mas não lhe oferece alternativa: ou Trump se insere na realidade do mundo ou vai ser anulado e engolido por ele.

Nesse caldeirão em constante estado de ebulição, cheio de dúvidas e repleto de impermanência, a única certeza aparente, pelo menos por enquanto, é que com Donald Trump o mundo viverá uma longa jornada noite adentro.

Contudo, é esse mesmo mundo que rejeita Donald Trump que terá pela frente o maior desafio: tentar convencê-lo a se tornar um ser humano melhor.