11 de dez. de 2015

FARINHAS DO MESMO SACO

PSDB e PMDB se unem na surdina, articulam a derrubada de Dilma e decidem fazer de Temer o novo presidente do país

Foto: Igor Estrela /PSDB (Fotos Públicas, 07/07/2014)


Não há mais dúvidas: PSDB E PMDB estão trabalhando juntos para aprovar o impeachment do presidente Dilma.

Tudo ficou decidido e acertado em reunião liderada por Fernando Henrique Cardoso. Não foi à toa que Temer foi almoçar com Geraldo Alckmin.  

O governador de São Paulo era um dos que ainda resistiam a ideia do impedimento. Em nome da unidade, Alckmin resolveu voltar atrás.

O silêncio dos tucanos em relação às arbitrariedades de Cunha também se justifica pelo fato de que qualquer ação contrária ao atual presidente do Congresso poderia irritá-lo e colocar a manobra golpista a perder, haja vista a bipolaridade política emocional do peemedebista.

Temer nega tudo, afinal não quer pagar de traidor outra vez, mas age na surdina e tenta cooptar outros partidos, inclusive da base governista com o apoio do senador José Serra que, em troca, ganharia um cargo de destaque no possível governo do PMDB.

Todas as manobras articulatórias têm a benção e a proteção do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, mentor político de Aécio Neves.

Cardoso, que uniu o PSDB a favor do impeachment, está juntando a fome com a vontade de comer e vingando-se do PT que em 1999 pediu o impeachment dele.

O objetivo é votar o quanto antes o processo de impeachment e retardar a cassação de Eduardo Cunha. Com o PMDB no poder fica mais fácil derrubar a cassação do presidente do Congresso e tudo continuaria como antes no quartel de Abrantes.

Contudo, ainda há duas pedras no meio do caminho: A falta de unidade do PMDB – boa parte do partido está dividida em relação ao impeachment como os ministros Kátia Abreu, da agricultura, e Marcelo Castro, da saúde.

A segunda pedra são o STF (Supremo Tribunal Federal) e a PGR (Procuradoria Geral da República) que podem melar o esquema invalidando o processo de impeachment.

Caso o STF decida barrar o processo de impedimento, os novos aliados de Temer também já têm uma estratégia: vão sair indiretamente em defesa do vice-presidente alegando que não pode haver interferência entre os poderes, tese já defendida por um dos ministros do Supremo, Gilmar Mendes, que destacou a competência política do vice-presidente em evento com empresários hoje em São Paulo.

Coincidência? Nada. Tudo bem planejado e arquitetado.

Aécio desistiu de da ideia de entrar com pedido no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) solicitando a cassação de Temer junto com Dilma. 

O PSDB prefere apoiar Temer agora do que derrubar o vice-presidente junto com Dilma porque tem certeza que colocar a o país novamente nos trilhos não vai ser fácil. Não querem se desgastar.

Sabem que o brasileiro, mais do que nunca, está ansioso por um salvador da pátria. Vão usar Temer de cobaia, caso ele não consiga obter sucesso, a culpa e o ônus serão dele e do PMDB.

Em 2018, com os peemedebistas enfraquecidos e a população no limite da paciência, fica mais fácil para os tucanos ganharem a eleição.

Esquecem, entretanto, que o PSDB não vai ser o único partido a participar da disputa, que em política nada é garantido e, como afirmou o escritor francês Antoine de Rivarol, o povo concede o seu favor, nunca sua confiança.

O brasileiro, se quiser, é quem pode fazer a diferença nessa história, se é que acredita mesmo em honestidade e justiça.

10 de dez. de 2015

FIDELIDADE CANINA


Foto:Reprodução

Já que o deputado Eduardo Cunha não permite que o façam sair por bem da Presidência da Câmara, corre o risco de sair pelas vias da Justiça. O STF e a Procuradoria Geral da República já têm condições suficientes para pedir a cassação o mandato do peemedebista e sinalizam quem podem fazê-lo a qualquer momento.

Pela sexta vez, Cunha manobrou seus aliados marionetes paus mandados e impediu os trabalhos da Comissão de Ética que analisa o pedido de cassação do seu mandato por quebra de decoro parlamentar ao mentir em depoimento à CPI da Petrobrás, dizendo que não tinha conta no exterior.

Dois fatos têm chamado a atenção no caso do parlamentar. A fidelidade canina de alguns deputados irresponsáveis e o silêncio dos dois principais partidos que fazem oposição ao governo: PSDB e DEM.

Quando não demonstram nenhuma reação mais enfática em relação às arbitrariedades do ainda presidente da Câmara, PSDB e DEM pecam por omissão e colocam em dúvida a retórica de que só estão interessados no bem o Brasil. Quando o assunto é o impedimento de Dilma, fazem alarde. Quando se trata de Cunha, ficam caladinhos.

O natural deveria ser agirem da mesma forma em relação a Cunha. Deveria. Mas, quando se trata de assuntos que não vão beneficiá-los no curto prazo, os dois partidos usam a tática do não envolvimento e preferem assistir as atitudes revanchistas de Eduardo Cunha em silêncio. 

Estranho, mas não surpreendente em se tratando de PSDB e DEM, partidos que acreditam que tudo lhes é licito quando tudo lhes convém.

9 de dez. de 2015

MUY AMIGO

Foto: Antônio Cruz / Agência Brasil / Fotos Públicas (18/11/2015)

Ao tentar constranger Dilma Rousseff deixando vazar, para muitos propositadamente, sua carta desabafo na mídia, Temer expôs mais a ele mesmo do que a presidente. Virou motivo de piada e pagou outra vez de traidor.

No fundo do fundo, o vice-presidente estava querendo na verdade, como se diz no popular, tirar o dele da reta. Esqueceu-se de que o mandato presidencial é de ambos, logo, a responsabilidade é compartilhada. 

Nas entrelinhas, afirmou, sem declarar, que não sabia de nada, ou seja, usou a velha e já manjada justificativa dos tolos e de quem tem culpa no cartório.

Ao assumir o papel de vítima, Temer não fez outra coisa senão pagar com a mesma moeda a traição que diz ter sofrido. Demonstrou-se totalmente não confiável. Seus objetivos obscuros ficaram mais reluzentes do que ouro.

Quando joga toda a responsabilidade do que está acontecendo no país nas costas da presidente, Temer age, tal e qual Eduardo Cunha, de forma vingativa e calculista.

Inverossímil. Os argumentos de Cunha são tão firmes quanto geleia. Não se sustentam, não cabem em si, são totalmente sem substância.

O fato é que, tanto ele quanto Dilma, lutam pela mesma coisa: Poder. Ela para se manter onde está, ele para chegar lá sem fazer nenhum esforço, sem ter que passar pelo teste das urnas.

Temer quer receber a presidência de mão beijada, da mesma forma que José Sarney, e Itamar Franco, quando do impeachment de Collor. Sabe que dificilmente subirá a rampa e receberá a faixa presidencial se não for através do oportunismo, característica peculiar do seu partido.


Quer garantir seu lugar ao sol, e na história, na maciota e sem correr riscos. Político esperto, sabe que, em lagoa de piranhas, jacaré que dá bobeira vira bolsa de madame.

8 de dez. de 2015

CARTA MARCADA

Em mensagem de desabafo, Temer lista infidelidades de Dilma e aumenta o risco do impeachment


Foto: Lula Marques / Agência PT / Fotos Públicas (11/08/2015)

Dalva de Oliveira e Herivelto Martins protagonizaram as maiores brigas de amor que o Brasil já conheceu. Os dois foram casados durante 12 anos. Após a separação, consequência das constantes traições por parte dele, começaram uma guerra musical que resultou em clássicos como “Que será”, “Tudo acabado”, “Errei sim”, “Falso amigo”, “Calúnia”, “Palhaço”, entre vários outros hits que marcaram a MPB e serviram de trilha sonora para a dor de cotovelo de muitos ex-casais.

Ontem, Dilma Rousseff e Michel Temer viveram o seu momento Dalva e Herivelto. O vice-presidente enviou uma carta desabafo em que acusa a presidente de nunca confiar nele e lista uma série de desafetos ocorridos durante a relação política entre os dois.

Esse clima de bolero com ares de dramalhão mexicano pode significar o começo do fim da parceria entre o PT e o PMDB e elevar a temperatura em Brasília. A fogueira das vaidades que Dilma e Temer estão vivendo parece ser a faísca que faltava para botar fogo no processo de impeachment.

O vice-presidente deixa claro em suas palavras recheadas de melancolia que Dilma nunca confiou nele nem no PMDB. Que sempre atribuiu a eles uma função decorativa e que só os procurou quando precisava que apagassem incêndios.




Não deixa de ser verdade, em parte. Temer e o PMDB na maioria das vezes foram meros coadjuvantes nos enredos do Planalto. Por outro lado, nunca se demonstraram dignos de confiança, tanto nas ausências quanto na presença de Dilma.

Difícil nessa história é saber quem é o certo e o errado, o traído e o traidor. Na verdade, o PMDB sempre fingiu acreditar em Dilma e no PT, vide Eduardo Cunha, e vice-versa.


Enquanto Dilma parece seguir o conselho do romancista inglês Henry Fielding que certa vez falou “Nunca confie no homem que tem motivos para suspeitar de que você sabe que ele lhe fez mal”, Temer reza pela cartilha do escritor latino da Roma Antiga, Púbio Siro que afirma “Quem perdeu a confiança não tem mais que perder”. Pelo menos é o que deixa claro no final da carta.


Na história do casal MPB, Herivelto Martins levou vantagem. Viveu até os 80 anos. Dalva de Oliveira morreu aos 55. Resta saber se a presidente, exposta como vilã, vai reconhecer sua infidelidade, pedir perdão e implorar para que Temer, que posa de vítima, volte. Disso poderá depender os anos em que ela ainda estará no comando do governo.

7 de dez. de 2015

COLOCANDO AS BARBAS DE MOLHO


Foto: Lula Marques / Agência PT / Fotos Públicas (28/07/2015)



 A decisão sobre qual posicionamento o PMDB vai tomar em relação ao processo de impedimento da presidente Dilma é tão esperada quanto o prosseguimento ou arquivamento do caso.


Os primeiros sinais do partido dão conta de que ele está dividido. Porém, a escolha de qual lado os peemedebistas vão ficar pode, de algum modo, indicar qual direção as outras legendas que apoiam Dilma irão seguir.

De qualquer forma, o processo de impeachment vai forçar o PMDB a sair de cima do muro. Ou vai ou racha.

Quem não perde tempo é o governador Geraldo Alckmin. Virtual candidato a presidente em 2018, o tucano homenageou Michel Temer em almoço com o vice-presidente e empresários.

Bom oportunista como Alckmin, Temer aceitou. A iniciativa deixou tanto governistas quanto o PSDB de orelhas em pé e temerosos.

Alckmin age com um olho no peixe e outro no gato. Sabe que, como disse certa vez Itamar Franco, “a política é como um crochê: não se pode dar ponto errado, sob pena de ter que começar tudo de novo”. Pelo visto, não é só em Minas Gerais que as coisas acontecem assim. Em São Paulo também.

Vai que essa onda pega e outros oposicionistas oportunistas resolvem alimentar o vice-presidente. Ou Temer vai fortalecer suas intenções presidenciais ou, no mínimo, vai ficar uns quilinhos mais gordo.

ARQUEÓLOGO DAS PALAVRAS


Foto: Reprodução
A morte de Wolney de Assis deixa o teatro e as artes outra vez órfãos de mais um grande artista


O teatro perdeu mais um dos seus grandes talentos. O ator, diretor e dramaturgo Wolney de Assis, 78 anos, se despediu da vida no domingo (06/12), em São Paulo, vítima de câncer.

Pouco conhecido do público, mas muito admirado e respeitado pela classe artística, ele foi uma referência intelectual e mestre para várias gerações de atores.

Gaúcho de Porto Alegre, desembarcou em São Paulo nos anos 50 para participar do Festival Amador de Santos e apresentar a peça Egmont, de Goethe. Sua interpretação lhe rendeu o prêmio de melhor ator e chamou a atenção do crítico de teatro Sábato Magaldi que o incentivou a continuar atuando na capital paulista.

Fixou residência em São Paulo e iniciou sua carreira profissional no Teatro Bela Vista, cujos donos eram Sérgio Cardoso e Nydia Lícia. Foi no Oficina e no Arena, entretanto, que encontrou o estilo de teatro com qual se identificava e gostava de atuar.

A partir daí, entrou em contato com o movimento político e começou a atuar também como militante da liberdade em outros fronts. Foi perseguido pela ditadura militar e ficou afastado dos palcos durante 20 anos.

Em 1961, conheceu e casou-se com a atriz Berta Zemel. Ao longo de anos, o casal dedicou-se a formar várias gerações de atores no 7Cênico – Teatro Móvel de São Paulo. 

Durante o tempo em que ele foi perseguido pelos militares, permaneceram fieis à paixão pelo teatro encenando peças pelo país a bordo de uma perua Kombi.

Em 1997, por incentivo de Berta, Wolney voltou a atuar. Dessa vez no cinema. Aceitou o convite do diretor Beto Brant e integrou o elenco do filme Os Matadores. 

O longa foi bem recebido e elogiado pela crítica internacional e Wolney mais uma vez se destacou por sua interpretação marcante. Em 2006 atuou ao lado de Selton Mello em O Cheiro do Ralo, do pernambucano Heitor Dhalia.

Ator apaixonado pelas palavras, Wolney soube valorizá-las ao máximo. 

Era um diretor que, quando os atores achavam que já tinham esgotado todas as possibilidades cênicas e interpretativas, surpreendia com um olhar e um visão que iam e estavam sempre além.

Sabia dissecar um texto como um exímio anatomista e explorava a interpretação dos atores e a palavra com competência arqueológica. Máximo Gorki, Shakespeare, Eugene O'neill, Molière, Tennesse Willians, Fiodor Dostoievski, Plínio Marcos, Fernando Arrabal, Sófocles, Martins Penna, Fernando Pessoa, são testemunhas da verticalidade e da qualidade com que investigava o humano.


Sua voz baixinha, a qual justificava dizendo que era charme, orientou muitos atores e diretores que se tornaram famosos. Amante do bom papo, passava horas conversando de tudo, sobretudo de teatro, sempre acompanhado do café e do cigarro.



Wolney foi um farol que guiou outros amantes da arte como ele. Revolucionário, contestador, provocador e iluminista ao seu modo, manteve viva e acesa a chama do teatro. 

Sua luz, seus ensinamentos e sua sabedoria vão fazer falta para todos nós, apaixonados pela arte de representar, como ele sempre foi.


Gratidão e carinho, mestre!

Meus sentimentos e solidariedade, Berta Zemel.

RIP, Wolney!

5 de dez. de 2015

GRAÇA, TALENTO E LEVEZA


Foto: Ana Paula Oliveira Migliari / TV Brasil EBC /Fotos Públicas (12/06/2012)


A morte de Marília Pêra, hoje, em sua residência do Rio de Janeiro, deixa o teatro e a arte órfãos não só de uma atriz, mas, sobretudo, de uma artista. Porque Marília era isso: Uma grande artista. Cantava, representava, coreografava e dirigia muito bem.

Quem assistiu ao Mistério de Irma Vap, peça em que ela dirigiu Marco Nanini e Ney Latorraca e que ficou 10 anos interruptos em cartaz, sabe do que estou falando.

Marília transitava por todas essas expressões artísticas com vigor, competência, habilidade, desenvoltura, propriedade. Por um simples motivo: fazia tudo com verdade e inteireza.

Sua interpretação não era carregada de urgência nem refém da aprovação dos outros, apesar dela perseguir o perfeccionismo sempre. Porém, até quando o buscava, fazia com sutilezas, de forma leve.

Hoje, mais do que nunca, seu público agradece o carinho da sua presença nos palcos, nas telonas, na telinha e na vida dos que tiveram a felicidade de assisti-la.


RIP, Marília!

TÁ LIGADO?



Foto: Roberto Parizotti / Secom CUT / Fotos Públicas (28/11/2015)

Geraldo Alckmin recua e adia projeto autoritário de reorganização de escolas em São Paulo depois de queda em pesquisa de aprovação

Segundo a Bíblia, em Deus não há sombra de mudança nem variação. Isso significa que o único Todo Poderoso não muda nem volta atrás. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), ousou ser Deus ao tentar impor e empurrar goela abaixo sua reforma educacional sem antes discutir com a sociedade.

Se deu mal. Teve que recuar e rever sua ideia estapafúrdia e sua atitude autoritária.

Segundo ele, por causa das manifestações dos estudantes ou a “voz das ruas”. Em parte é verdade, mas em parte é demagogia e mentira. 

Voltou atrás muito mais pela voz da pesquisa divulgada pelo DataFolha que apontou queda na aprovação do governo tucano e apoio da maioria da população às ações da garotada. Porém, como o estudo expressou a opinião e a vontade da maioria, digamos que ele tenha recuado por conta da voz do povo.

Deve ter doído no fundo da alma de Alckmin, afinal ele, e seu partido, se acham, ou querem ser, mais inexoráveis do que o destino.

Ledo engano, governador. Vossas senhorias são tão corrosivos e estão sujeitos à ferrugem tanto quanto os outros políticos e partidos, apesar de, por enquanto, estarem sendo poupados ou blindados de investigações. O que não significa que não estejam sob suspeita, pelo menos na visão de muitos eleitores.

Atitudes como as de Alckmin, não são novidades. Fazem parte do DNA do PSDB. 

Os tucanos gostam de suavizar e mascarar a verdade, usar de meias palavras, empurrar as sujeiras que eles fazem para debaixo do tapete. Mas, lá no fundo, são oportunistas mesmo.

Para eles, racionamento ou falta de água é rodizio, aumento de tarifas é realinhamento de preços, repressão e cacetada são restabelecimento da ordem. Quanto eufemismo. Conversa para boi dormir.

Já está mais do que na hora dos senhores tucanos acordarem e ficarem espertos, porque o povo não é bobo. Tá ligado? Caso contrário, ainda vão ouvir bastante as vozes das ruas e ter que recuar muito mais vezes.

Parabéns, garotada! É brigando, desde cedo, pelos seus direitos que vocês vão ser exemplo e transformar de verdade a realidade do nosso país. Que a alegria e a força de vocês vire rotina no Brasil.

Sim, vocês podem!

4 de dez. de 2015

SEGUINDO EM FRENTE


Foto: Robert Bennett/Maioral Photography Office/Fotos Públicas (14/06/2014)

Em meio ao preconceito e à decepção, homossexuais da terceira idade só querem respeito para continuarem aproveitando ao máximo a vida
Estudo realizado em setembro de 2015 pela ONG inglesa Stonewall com homens e mulheres maiores de 55 anos da comunidade GLBT britânica revelou que 34% dos gays e bissexuais masculinos têm depressão e 29% deles sofrem de ansiedade, o dobro em relação aos heterossexuais da mesma faixa de idade.

Essa situação é um drama que muitos gays e casais homo afetivos vêm enfrentando no mundo.

Nos tempos de pós-modernidade, onde a jovialidade, o corpo escultural, o belo e a força da juventude são cada vez mais valorizados, estão estampados em tudo e presentes em todos os lugares, envelhecer com dignidade e autoestima é cada vez mais difícil.  Envelhecer com respeito sendo homossexual é quase que improvável. Um convite à reclusão.

No Brasil, a realidade em que vivem os gays mais velhos não é diferente. Ser homossexual e chegar na terceira idade por aqui também é segregador, limitante e muitas vezes depressivo.

“Somos vistos e sofremos o que qualquer outra pessoa nessa fase da vida sofre, só que com um agravante: somos homossexuais e, por isso, triplamente marginalizados. Por mais que a sociedade finja nos aceitar, ela nunca nos aceita de fato”, afirma Sebastião Alaíde Lopes, 58 anos e gay assumido.

De olhar profundo e melancólico, ex-morador de rua e atualmente funcionário público e advogado, Lopes é testemunha dos frequentes desrespeitos e descasos que os gays da terceira idade são vítimas. “Tia, maricona, bicha ultrapassada são adjetivos pejorativos comuns na boca tanto de héteros quanto de homossexuais de todas as idades", revelou.

De acordo com Lopes, se para o gay jovem é muito difícil viver com dignidade, para quem passou dos 40 anos é mais dolorido e humilhante. Os requisitos e exigências que a sociedade impõe são humanamente impossíveis de serem alcançados pelos homossexuais porque os parâmetros dela exigem que se viva dentro de um modelo pré-definido e totalmente fora da realidade de ambos os lados.

Diante desse quadro sobre-humano, esses cidadãos se escondem ou voltam para o armário para poderem conviver socialmente, já que também sofrem preconceito da própria comunidade gay, especialmente dos mais jovens.

O temor em se expor é tanto que durante a produção dessa reportagem, muitos desses homens e mulheres idosos se recusaram a falar sobre o assunto e a gravar entrevistas.

A falta de Políticas públicas especificas para a terceira idade homossexual é outro agravante apontado pelos entrevistados e anônimos que resolveram se pronunciar. Eles reclamam que as decisões são tomadas sem a participação deles.

De acordo com Secretaria Nacional dos Direitos Humanos – SDH – a prioridade é garantir a promoção e acesso aos direitos fundamentais de toda e qualquer pessoa idosa. Portanto, não há diferenciação ou particularidades tanto para o heterossexual quanto para o homossexual idoso.

Afetividade e diversão

Quanto aos envolvimentos afetivos, segundo Lopes, se as coisas forem vistas sob o ponto de vista do comercio sexual, é mais provável ter alguém, pois há o interesse financeiro e o gay mais velho desperta a atenção dos profissionais do sexo, mas são mais vulneráveis, presas fáceis. 

No que diz respeito às coisas do coração, tudo é infinitamente mais difícil.

Os relacionamentos são muito mais frágeis porque são geralmente construídos com base no interesse financeiro ou físicos e isso não se sustenta diante das adversidades da vida, revelou a maioria dos entrevistados. 

O prazer e o sexo são, e sempre serão, um campo fértil e podem ser conquistados e satisfeitos de várias formas, mas para que aconteçam basta que se tenha disponibilidade financeira, admite Lopes.

Constituir uma família está muito além das possibilidades. Na opinião de Lopes, a família brasileira está alicerçada em uma plataforma que a Igreja construiu e evoca uma mensagem de exclusão dos homossexuais. 

Apesar de muitas coisas terem evoluído, o fundamentalismo religioso também cresceu assustadoramente e muitos encaram essa discussão com um pé atrás e com um ranço de desconfiança.

Diversão e lazer também são aspectos altamente valorizadas pelos homossexuais da terceira idade, mas, da mesma forma que para os heterossexuais, depende da carteira. “Se você tem dinheiro, o mundo abre todas as possibilidades para você, independentemente de sua orientação sexual”, afirma o homossexual de 65 anos que não quis se identificar.

Perguntados sobre qual conselho dariam para os gays mais jovens, foram unânimes: “Nunca desista dos seus sonhos, estude, trabalhe, construa um futuro seguro para sua vida porque gay não tem família e relacionamento duradouro é coisa rara”.

E assim, escondidos, ou sendo obrigados a se esconder, esquecidos ou colocados à margem da sociedade, esses homens e mulheres, cidadãos que fizeram suas histórias muitas vezes trabalhando arduamente, vão vivendo, sofrendo e morrendo todos os dias de uma forma declarada ou anônima, mas sempre na esperança de um dia conquistarem uma coisa tão simples, porém cada vez mais rara: Respeito.

Vida longa a eles!

3 de dez. de 2015

O ANTIPOLÍTICO


Foto: Lula Marques/Agência PT/Fotos Públicas (03/12/2015)

Ao autorizar a abertura do processo de impedimento da presidente Dilma, Eduardo Cunha prejudica ainda mais o país, dividi a opinião pública e agrava a crise política
O deputado Federal Eduardo Cunha (PMDB) realizou ontem um dos seus piores e, provavelmente, um dos últimos atos de desespero político.

Ao autorizar a abertura do processo de impeachment de Dilma Rousseff, o futuro não mais presidente do Congresso Nacional não só confirmou sua incompetência política como também revelou outro lado até então apenas latente: o de suicida.

É, no mínimo, patética, a atitude desesperada e sofrível do presidente da Câmara. Isso com o agravante de que além de matar seu passado, presente e futuro político, Cunha também quer assassinar o Brasil.

Cunha se superou. A atitude irresponsável do nosso herói às avessas institucionaliza o clima de instabilidade política reinante no país.

O caráter maléfico e vingativo do peemedebista escancara sua falta de habilidade política e total despreparo psicológico e espiritual em lidar com a derrota e questões difíceis, além de confirmar a incapacidade de enfrentar a realidade e suas adversidades. O fato é que Eduardo Cunha está acuado e cada vez mais isolado.

Ele sabe que não há justificativas jurídicas para o impeachment nem suspeitas que confirmem o envolvimento da presidente em atividades ilícitas. Mas ele é ardiloso.

Seu comportamento é similar ao do antiCristo.  No início pousa de conciliador, bom moço e moralista, mas no meio do seu reinado mostra sua verdadeira face e suas intenções destrutivas.

Cunha tem o comportamento errático daqueles que não querem somar, mas dividir. Não deseja juntar, mas espalhar. Aquele “que vem para confundir e não para explicar”, como afirmou certa vez o velho guerreiro Chacrinha.

Como se não fosse suficiente contribuir para aprofundar a crise política, o vilão quer pagar de mocinho. Ao agir deliberadamente, ao contrário do que ele mesmo prega, o antipolítico Eduardo Cunha não pensou no país e muito menos nos brasileiros. Sua última cartada não melhora sua imagem nem vai impedir o processo de cassação de seu mandato.

O Impeachment não é bom para o Brasil e muitos menos para a Democracia. É atentado e desrespeito a decisão dos eleitores, além de golpe baixo e rasteiro.

A população antes de comemorar, deveria se informar mais sobre procedimentos políticos para não servir de massa de manobra não mãos dos que, em nome da falsa liberdade, querem fazer o povo refém de vontades inconsequentes.

Má administração ou incompetência administrativa não é motivo para impedimento. Serve só para confirmar que o povo deve escolher melhor seus representantes.

Querer o impedimento de um presidente porque não gosta dele ou porque se arrependeu do voto é torcida pelo pior e atestado de ignorância política. Abre espaço apenas para trocar uma laranja podre por outra bichada. O sujo pelo mal lavado.

Enquanto os brasileiros continuarem desejando um herói ou um salvador da pátria, não vão estar fazendo outra coisa senão criar e habilitar vilões e sociopatas políticos, como os muitos que já estão aí. No mais, como afirmou o dramaturgo alemão Bertold Brecht “pobre do povo que precisa de heróis”.

Para finalizar deixo para sua e minha reflexão uma frase do jornalista, filósofo e poeta inglês G. K. Chesterton: “Quando as pessoas deixam de acreditar em alguma coisa, o risco não é de que passem a acreditar em nada, e sim que acreditem em qualquer coisa”. Eu vou além: o maior perigo é que acreditem em qualquer um.

1 de dez. de 2015

COVARDIA!


Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil (01/12/2015)

Quando a gente pensa que o pior já foi anunciado e nada mais no surpreenderá, a imprensa escancara, nas manchetes manchadas de sangue, notícias estarrecedoras, como a barbárie em forma de chacina ocorrida no Rio de Janeiro e que tirou a vida de cinco jovens.

Violência desnecessária, ato irresponsável, ação descabida, massacre indefensável, covardia imperdoável, ação absolutamente exagerada. Quantas palavras mais serão necessárias para definir o injustificável? Talvez tantas quantas forem as próximas chacinas que virão.

Por que virão? Como assim?    

Porque Candelária, Vigário Geral, Carandiru, Eldorado dos Carajás, Osasco, aconteceram e nada mudou, “afinal era tudo bandido mesmo”.

Tudo continua igual na lógica desigual e desumana. 

O mesmo raciocínio equivocado que faz o povo acreditar que bandido bom é bandido morto também leva muitos a crerem que polícia boa é polícia que mata, como se a nossa só matasse bandido. Ou não fosse seletiva.

Foto: Tânia Rego/Agência Brasil (23/07/2015)
A polícia no Brasil escolhe quem matar. É só ver os números. Comparar as estatísticas. Tudo preto, favelado, pobre, miserável. Alvos preferidos. Sempre os mesmos. Já virou lugar comum. Surpreende a mim e alguns. Muitos, porém, já estão anestesiados à espera do próxima edição do jornal sensacionalista ou do programa policial manchado de sangue  para ler ou assistir jantando ou tomando uma. 

É assim que vamos vivendo, vendo e aceitando muitos serem exterminados.

A pergunta já não é mais por quê?  Mas, até quando?

Lamentável. Insuportavelmente inaceitável. Devastadoramente desumano.

Eu digo não à polícia bandida e assassina!