A morte de Wolney de Assis deixa o teatro e as artes outra vez
órfãos de mais um grande artista
O teatro
perdeu mais um dos seus grandes talentos. O ator, diretor e dramaturgo Wolney
de Assis, 78 anos, se despediu da vida no domingo (06/12), em São Paulo, vítima
de câncer.
Pouco conhecido do público, mas muito admirado e respeitado pela classe artística, ele foi uma referência intelectual e mestre para várias gerações de atores.
Pouco conhecido do público, mas muito admirado e respeitado pela classe artística, ele foi uma referência intelectual e mestre para várias gerações de atores.
Gaúcho de Porto
Alegre, desembarcou em São Paulo nos anos 50 para participar do Festival Amador
de Santos e apresentar a peça Egmont, de Goethe. Sua interpretação lhe rendeu o
prêmio de melhor ator e chamou a atenção do crítico de teatro Sábato Magaldi
que o incentivou a continuar atuando na capital paulista.
Fixou residência em
São Paulo e iniciou sua carreira profissional no Teatro Bela Vista, cujos donos
eram Sérgio Cardoso e Nydia Lícia. Foi no Oficina e no Arena, entretanto, que
encontrou o estilo de teatro com qual se identificava e gostava de atuar.
A partir daí, entrou
em contato com o movimento político e começou a atuar também como militante da
liberdade em outros fronts. Foi perseguido pela ditadura militar e ficou
afastado dos palcos durante 20 anos.
Em 1961, conheceu e
casou-se com a atriz Berta Zemel. Ao longo de anos, o casal dedicou-se a formar
várias gerações de atores no 7Cênico – Teatro Móvel de São Paulo.
Durante o tempo em
que ele foi perseguido pelos militares, permaneceram fieis à paixão pelo teatro
encenando peças pelo país a bordo de uma perua Kombi.
Em 1997, por
incentivo de Berta, Wolney voltou a atuar. Dessa vez no cinema. Aceitou o
convite do diretor Beto Brant e integrou o elenco do filme Os Matadores.
O longa foi bem
recebido e elogiado pela crítica internacional e Wolney mais uma vez se
destacou por sua interpretação marcante. Em 2006 atuou ao lado de Selton Mello
em O Cheiro do Ralo, do pernambucano Heitor Dhalia.
Ator apaixonado pelas
palavras, Wolney soube valorizá-las ao máximo.
Era um diretor que,
quando os atores achavam que já tinham esgotado todas as possibilidades cênicas
e interpretativas, surpreendia com um olhar e um visão que iam e estavam sempre
além.
Sabia dissecar um
texto como um exímio anatomista e explorava a interpretação dos atores e a
palavra com competência arqueológica. Máximo Gorki, Shakespeare, Eugene
O'neill, Molière, Tennesse Willians, Fiodor Dostoievski, Plínio Marcos,
Fernando Arrabal, Sófocles, Martins Penna, Fernando Pessoa, são testemunhas da
verticalidade e da qualidade com que investigava o humano.
Sua voz baixinha, a
qual justificava dizendo que era charme, orientou muitos atores e diretores que
se tornaram famosos. Amante do bom papo, passava horas conversando de tudo,
sobretudo de teatro, sempre acompanhado do café e do cigarro.
Wolney foi um farol
que guiou outros amantes da arte como ele. Revolucionário, contestador,
provocador e iluminista ao seu modo, manteve viva e acesa a chama do
teatro.
Sua luz, seus
ensinamentos e sua sabedoria vão fazer falta para todos nós, apaixonados pela
arte de representar, como ele sempre foi.
Gratidão e carinho,
mestre!
Meus sentimentos e
solidariedade, Berta Zemel.
RIP, Wolney!
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