Essa
situação é um drama que muitos gays e casais homo afetivos vêm enfrentando no
mundo.
Nos
tempos de pós-modernidade, onde a jovialidade, o corpo escultural, o belo e a
força da juventude são cada vez mais valorizados, estão estampados em tudo e
presentes em todos os lugares, envelhecer com dignidade e autoestima é cada vez
mais difícil. Envelhecer com respeito sendo homossexual é quase
que improvável. Um convite à reclusão.
No
Brasil, a realidade em que vivem os gays mais velhos não é diferente. Ser
homossexual e chegar na terceira idade por aqui também é segregador, limitante
e muitas vezes depressivo.
“Somos
vistos e sofremos o que qualquer outra pessoa nessa fase da vida sofre, só que
com um agravante: somos homossexuais e, por isso, triplamente marginalizados.
Por mais que a sociedade finja nos aceitar, ela nunca nos aceita de fato”,
afirma Sebastião Alaíde Lopes, 58 anos e gay assumido.
De
olhar profundo e melancólico, ex-morador de rua e atualmente funcionário
público e advogado, Lopes é testemunha dos frequentes desrespeitos e descasos
que os gays da terceira idade são vítimas. “Tia, maricona, bicha ultrapassada são adjetivos pejorativos comuns na boca tanto de héteros quanto de
homossexuais de todas as idades", revelou.
De
acordo com Lopes, se para o gay jovem é muito difícil viver com dignidade, para
quem passou dos 40 anos é mais dolorido e humilhante. Os requisitos e
exigências que a sociedade impõe são humanamente impossíveis de serem alcançados
pelos homossexuais porque os parâmetros dela exigem que se viva dentro de um
modelo pré-definido e totalmente fora da realidade de ambos os lados.
Diante
desse quadro sobre-humano, esses cidadãos se escondem ou voltam para o armário
para poderem conviver socialmente, já que também sofrem preconceito da própria
comunidade gay, especialmente dos mais jovens.
O temor em se expor é tanto que durante a produção dessa reportagem, muitos
desses homens e mulheres idosos se recusaram a falar sobre o assunto e a gravar
entrevistas.
A
falta de Políticas públicas especificas para a terceira idade homossexual é
outro agravante apontado pelos entrevistados e anônimos que resolveram se
pronunciar. Eles reclamam que as decisões são tomadas sem a participação deles.
De
acordo com Secretaria Nacional dos Direitos Humanos – SDH – a prioridade é
garantir a promoção e acesso aos direitos fundamentais de toda e qualquer
pessoa idosa. Portanto, não há diferenciação ou particularidades tanto para o
heterossexual quanto para o homossexual idoso.
Afetividade
e diversão
Quanto
aos envolvimentos afetivos, segundo Lopes, se as coisas forem vistas sob o
ponto de vista do comercio sexual, é mais provável ter alguém, pois há o
interesse financeiro e o gay mais velho desperta a atenção dos profissionais do
sexo, mas são mais vulneráveis, presas fáceis.
No que diz respeito às coisas do
coração, tudo é infinitamente mais difícil.
Os
relacionamentos são muito mais frágeis porque são geralmente construídos com
base no interesse financeiro ou físicos e isso não se sustenta diante das
adversidades da vida, revelou a maioria dos entrevistados.
O
prazer e o sexo são, e sempre serão, um campo fértil e podem ser conquistados e
satisfeitos de várias formas, mas para que aconteçam basta que se tenha
disponibilidade financeira, admite Lopes.
Constituir
uma família está muito além das possibilidades. Na opinião de Lopes, a família
brasileira está alicerçada em uma plataforma que a Igreja construiu e evoca uma
mensagem de exclusão dos homossexuais.
Apesar
de muitas coisas terem evoluído, o fundamentalismo religioso também cresceu
assustadoramente e muitos encaram essa discussão com um pé atrás e com um ranço
de desconfiança.
Diversão
e lazer também são aspectos altamente valorizadas pelos homossexuais da
terceira idade, mas, da mesma forma que para os heterossexuais, depende da
carteira. “Se você tem dinheiro, o mundo abre todas as possibilidades para
você, independentemente de sua orientação sexual”, afirma o homossexual de 65
anos que não quis se identificar.
Perguntados
sobre qual conselho dariam para os gays mais jovens, foram unânimes: “Nunca
desista dos seus sonhos, estude, trabalhe, construa um futuro seguro para sua
vida porque gay não tem família e relacionamento duradouro é coisa rara”.
E
assim, escondidos, ou sendo obrigados a se esconder, esquecidos ou colocados à margem da
sociedade, esses homens e mulheres, cidadãos que fizeram suas histórias muitas
vezes trabalhando arduamente, vão vivendo, sofrendo e
morrendo todos os dias de uma forma declarada ou anônima, mas sempre na
esperança de um dia conquistarem uma coisa tão simples, porém cada vez mais
rara: Respeito.
Vida
longa a eles!