31 de mai. de 2016

LEILOEIROS DO BRASIL

Corrupção; Lava Jato; Temer; Brasil; Congresso Nacional; Golpe; BLOG DO JOAQUIM
Foto: Pedro França/Agência Senado (24/03/2015) Fotos Públicas


A divulgação da lista de doações feitas por empresas e pessoas físicas a candidatos que hoje ocupam Ministérios importantes no governo provisório de Michel Temer é a mais pura demonstração de que o financiamento eleitoral privado permanece sendo a moeda de troca mais valorizada pela classe política e que continua a agir livremente no Brasil.

Segundo reportagem de Raphael Kapa, dez dos 23 ministros escolhidos por Temer receberam doações de pessoas jurídicas e físicas que têm interesse nas decisões que eles tomam em seus cargos públicos.

O levantamento foi feito pela Lupa, primeira agência de notícias do Brasil a checar, de forma sistemática e contínua, o grau de veracidade das informações que circula no país.

Os Ministérios dos quais seus comandantes foram agraciados com doações em dinheiro, além de serem estratégicos, também são responsáveis por decisões de interesse público, mas têm se firmado como os preferidos pela iniciativa privada e pelos assaltantes travestidos de altos executivos que agem em favor de si mesmos em nome do capitalismo selvagem.

Dez Ministérios foram institucionalizados como a porta de entrada de ações personalistas que beneficiam, entre outros, empresas já investigadas pela Operação Lava Jato e que têm tudo para continuarem a promover a corrupção sistemática e perversa em curso no Brasil.

Corrupção falsamente combatida pelos legalistas e por aqueles que tomaram de assalto o poder político do país.

O discurso falso moralista, anticorrupção e reformista do governo Temer, como se não fosse suficiente ser semanalmente contradito pelas quedas de ministros de “competência comprovada”, agora também é desmentido pela continuidade das velhas práticas clientelistas e personalistas aplicadas em forma de assalto por empresas ditas e consideradas idôneas, mas que há muito tempo não estão mais acima de qualquer suspeita.

Não bastasse o Congresso Nacional ser um território ocupado por lobistas profissionais disfarçados de políticos, os Ministérios tornaram-se uma extensão do loteamento que é a política nacional, financiada pela iniciativa privada, sempre pronta para leiloar o Brasil.

Enquanto isso o país continua travado à espera de que o governo interino saia da clandestinidade e assuma o motivo para o qual verdadeiramente veio: rifar o Brasil. 


23 de mai. de 2016

DELAÇÃO AZARADA

Braço forte de Temer, Romero Jucá é desmascarado em áudio comprometedor que envolve STF, Aécio Neves e Renan Calheiros e revela os reais motivos do Impeachment de Dilma Rousseff

Romero Jucá; Lava Jato; Corrupção; Golpe; Temer
Romero Jucá foi pego em conversas reveladoras sobre Lava Jato e Impeachment
Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil

A ficha corrida do senador e ministro licenciado do governo interino de Michel Temer, Romero Jucá, ficou um pouco mais suja na manhã de hoje (23) depois que o jornal Folha de S. Paulo divulgou reportagem e trechos de conversas entre ele o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado.

Ao falar abertamente sobre diversos assuntos e jogar no ventilador o lixo, até então escondido debaixo dos tapetes palacianos, e que levou ao afastamento interino de Dilma Rousseff, Jucá deixou um rastro de sujeira e falcatruas que vai dar diretamente no senador Aécio Neves, de quem disse “conhecer o esquema”.

O principal homem de Temer também envolveu o STF e os militares nos diálogos e lambuzou de vez a já manchada e manjada imagem do governo provisório de Michel Temer.

Jucá, que é a temeridade em pessoa e que já passou pelo PT e PSDB, agora notabiliza-se também como a cara e um dos caras do golpe.

Ao ser pego na gravação reveladora, Romero Jucá escancarou os pontos mal suturados pelos defensores vorazes do processo de impedimento de Dilma e, ao tentar estancar “a sangria que a Lava Jato se tornou”, provocou a primeira grande hemorragia do governo combalido de Temer.

Apontado com bom articulador, Jucá revelou-se um grande borra botas.

Muitas perguntas sugeridas pela conversa entreguista entre Jucá e seu comparsa de improbidades acabaram suscitando questionamentos e levantando dúvidas sobre a atuação de outros atores envolvidos na muvuca que se tornou política brasileira e exigem respostas.

Para quem achava que os articuladores do impedimento já tinham descido o bastante, a gravação divulgada hoje mostrou que o buraco é mais embaixo e ainda pode abrigar outros cadáveres políticos além de Eduardo Cunha, dado como morto por Jucá.

O fedor exalado pela podridão do governo do presidente interino Michel Temer evidencia o despreparo dele, a falta de caráter e incompetência de seus aliados em devolver a governabilidade ao país e em restabelecer a prometida e demagógica Ordem e Progresso.

Ao que parece, Romero Jucá, assim tal e qual a árvore de onde se origina o seu nome e que ao amadurecer produz um fruto escuro e chocalhante porque as sementes soltam no seu interior, parece ter apodrecido antes do tempo e minado um pouco mais a confiança no governo temporário de Michel Temer.

19 de mai. de 2016

GUINADA À DIREITA


Temer golpista; Golpe; Temer; Brasil; Corrupção; Lava Jato
Foto: Reprodução


Desde que aterrissou em Brasília há uma semana, o governo interino de Michel Temer já deu amostras suficientes do jogo que pretende jogar, embora ainda não tenha conseguido decolar de vez. 

O avião Temer, vendido como jato supersônico, na verdade está mais para teco-teco.

O presidente interino está perdido em meio aos desejos e artimanhas daqueles que escolheu para lhe ajudar a “restabelecer a ordem e promover o progresso”, lema de sua administração.

Temer ainda se comporta como quem tem dúvidas se veio realmente para ficar. Está vivendo seu day after de forma malsucedida e repleto de recusas. Só para o cargo de secretário da Cultura recebeu cinco.

Sequer consegue ser o mais do mesmo, como disseram que seria.

A propósito, que equipe idônea e notável é essa a do presidente provisório! Além de citados na Lava Jato, também há aqueles que respondem à acusações diversas na justiça.

Um exemplo deles é o Senhor das Sombras, José Serra, alvo de processo de reparação de danos por improbidade administrativa, ou seja, por ação de deslealdade e desonestidade.

Sem falar em Romero Jucá, que responde a dois inquéritos, um deles, pasmem, por crime de responsabilidade por suposto desvio de verbas federais, e outro por falsidade ideológica.

E a imprensa chapa branca e hegemônica continua fazendo o povo acreditar que a corrupção acabou no Brasil. Plim plim pra você!

Temer faz jus ao título de presidente interino. Não age como mandatário de um país. É a própria interinidade em pessoa. Faz afirmações hoje para negá-las amanhã.

Sem falar que é constantemente posto em xeque por conta das declarações nada conciliadoras de seus subordinados. Tornou-se refém de suas escolhas seletivas e excludentes.

Aliás, o slogan de seu governo interino deveria ser Desordem e Retrocesso, já que anda dando para trás. O temido e promissor governo Temer é absolutamente insipido ou o que é pior, não ata, só desata.

Seus aliados, além de já terem promovido o atraso político, insistem em querer promover também o retrocesso econômico e social, revogando conquistas fundamentais com intervenções e possíveis mudanças devastadoras no SUS, suspensão de contratos do Fies, Prouni e Pronatec, extinção do Ministério da Cultura, e por aí vai.

As respostas que o presidente às avessas prometera dá ao mercado e à população continuam mudas, enquanto as vozes quem vêm das ruas, cada vez mais fortes e audíveis.

O próprio mercado ainda não está totalmente seguro e demonstra fé vacilante em relação às possíveis medidas econômicas de Henrique Meireles e companhia. Não demorará muito para os empresários constatarem que compraram um alazão e levaram um pangaré.

O mais preocupante é que esse governo mal começou, nem de fato nem de direito.

Pelo que tudo indica, o tempo vai continuar nublado na capital federal e as nuvens que cobrem o Brasil tão densas e carregadas que, mesmo que consiga decolar, o aviãozinho Temer corre o risco de perder de vez a rota do país ou de colidir em pleno voo em sua guinada à direita.

16 de mai. de 2016

INCOMPARÁVEL


Cauby Peixoto; MPB; Conceição;
Foto: Paulo Pinto/Fotos Públicas (15/05/2016)

Uma pneumonia calou ontem (15/05) para sempre a voz viva e marcante de Cauby Peixoto, ícone e mito musical brasileiro que emocionou gerações por mais de 66 anos, ao longo de 45 álbuns gravados.

Ídolo de um público fiel, Cauby também foi fiel aos seus fãs como se deve ser nos relacionamentos sinceros e duradouros. 

Por mais de seis décadas seus seguidores lotaram as casas de espetáculo onde Cauby se apresentava emocionando multidões de mulheres e homens.

Apesar do reconhecimento e da adoração apaixonada dos fãs, Cauby Peixoto não deixou o sucesso lhe subir à cabeça e manteve-se sempre próximo ao seu público, embora na vida intima fosse bastante reservado.

Filho caçula, Cauby tinha a música no sangue (o pai era professor de violão e mãe tocava violino) e a brasilidade Tupy-guarani no nome. Pertencia a uma família em que a maioria dos irmãos tinha nome indígena. Cauby é uma variação de Caiubi e significa Folhas azuis.

Fluminense de Niterói, há anos escolheu São Paulo como sua morada e foi devidamente aceito por ela. A partir de Sampa fortaleceu e expandiu sua bem sucedida carreira, chegando a lugares distantes do país.

Cauby possuía longevidade na vida e na arte. Do coro da igreja em Niterói aos palcos do mundo, sua voz também alcançou corações além-mar. 

Tentou carreira internacional cheia de idas e vindas e com relativo sucesso, usando como nomes artíticos Ron Coby e Coby Dijon, mas não atingiu o mesmo reconhecimento que conseguiu no Brasil.

Foto: Reprodução
A voz não era o único dom considerado inigualável (comparada somente com a de Frank Sinatra, um dos seus ídolos). Seu estilo e jeito de se vestir também eram sob medida, senão personalizados.

As roupas brilhosas e as perucas chamavam atenção, mas não tiravam o brilho daquele que tinha luz própria.

Fazia questão de ser educado e tratar, quem era ou não seu fã, sem rancor ou distinção, mesmo quando tinha sua orientação sexual posta em dúvida. 

Questionado se era ou não gay, nem confirmava nem negava, simplesmente continuava sendo quem era: Cauby.

A música era seu eterno amor, tanto que certa vez afirmou: “Prefiro cantar do que amar. Casei com a carreira. Sou autossuficiente e me basto”.

Músicas que eram aparentemente bregas ou de gosto duvidoso transformavam-se em canções românticas na interpretação de Cauby. 

Ele cantou do rock (foi o primeiro a gravar uma canção de Rock em português, em 1957) ao Samba-canção com propriedade, mas sempre sem abrir mão do bom gosto nem se render às batidas sensuais ou às letras meladas só para ficar em evidência.

Cauby não era apenas um cantor ou só mais um cantor. Era tradutor do amor e interprete dos corações. 

Sou voz límpida e tecnicamente bem colocada, juntamente com seu estilo incomparável, vão continuar a encantar muitos e permanecerão, como ele, para sempre inigualáveis.

RIP, Cauby! 

12 de mai. de 2016

NOVA VELHA HISTÓRIA


Golpe; Dilma; PT; Corrupção; Brasil; Lava Jato; Lula; Temer
Foto: Roberto Struckert/Instituto Lula (12/05/2016) Fotos Públicas

O afastamento da presidente Dilma Rousseff foi o passo mais ousado da oposição em direção à retomada do comando do país, mas não o último.

A condenação do Partido dos Trabalhadores ao ostracismo e ao exílio político deverá ser a cartada final ou a pá de cal que ainda falta aos opositores na luta pelo poder.

O impeachment fabricado por PSDB, DEM, Eduardo Cunha e demais correligionários e partidos aliados foi a demonstração mais clara da falta de respeito com a democracia e com a eleição direta para presidente do Brasil.

Se o voto antes era apenas uma escada para se chegar ao Palácio do Planalto e estava condicionado aos interesses mesquinhos da maioria dos políticos profissionais do nosso país, hoje foi rebaixado a instrumento figurativo.

Os agora governistas não estão nem aí para os mais de 51% dos votos que elegeram Dilma Rousseff, e seguem em frente na sanha de mudar o sistema político brasileiro em favor deles, de seus interesses e dos interesses das elites brasileiras.

A verdade é que os ardilosos não têm projeto político para país, mas projeto de poder.

A próxima investida é enfraquecer ainda mais o direito de escolha do povo, exercido através do voto, instaurando o parlamentarismo ou o poder do legislativo, concentrando-o na figura do Primeiro-Ministro e atribuindo às outras instâncias democráticas ações meramente decorativas.

No parlamentarismo, a Constituição muitas vezes é mera peça ornamentaria que pode ser alterada de acordo com os humores e as vontades do parlamento, vide Inglaterra, onde sequer há constituição escrita.

O golpe foi o primeiro passo para se eliminar a Constituição, ironicamente, considerando as atuais circunstâncias, chamada de Cidadã e promulgada por muitos que hoje fazem questão de aviltá-la.

A aprovação do afastamento de Dilma Rousseff foi uma condenação política e não um ato de respeito à Carta Magna que rege o país. 


Afastar a presidente porque não cumpriu o que prometeu é no mínimo contraditório quando a maioria dos políticos não passam de mentirosos graduados e contraventores descarados.

Se pedalada fiscal é crime de responsabilidade e justifica o impedimento, vamos derrubar também os 16 governadores que há anos cometem o mesmo "delito"? Duvido.

No país em que grande parte da população é teleguiada pelas informações viciadas da imprensa hegemônica que visa apenas o lucro, impeachment e crime de responsabilidade soam como palavrão nos ouvidos da galera. Expressões demagógicas na boca de oradores oportunistas.

Dois deles são a expressão máxima e representativa do fisiologismo e da democracia de fachada pregada pelos lobos do covil chamado Congresso Nacional: Gilberto Kassab e Marta Suplicy.

Kassab, poucos dias antes votação da admissibilidade do impeachment pela Câmara dos deputados, era ministro do mesmo governo que ajudou a derrubar em nome da pátria, da família, da propriedade, ética e do combate à corrupção. Hoje é ministro de Temer. Belo exemplo da meritocracia tucana.

Marta, até pouco tempo era defensora voraz de um partido que jurou fidelidade, mas que disse ter saído porque foi tomado pela corrupção. Esquece-se, entretanto, que o partido em que está atualmente possui políticos sob suspeita e investigados pela Lava Jato. 

O partido que a senhora está atualmente é tomado por que e por quem, nobre senadora? De certo, por pessoas justas e honestas como a nobre senadora.

Vocês envergonham a política, no sentido mais denotativo e mais amplo que ela possui. Não valem o voto que receberam. Falam demais por não ter nada a dizer.

O pior é que vossas excelências ainda ajoelham e rezam.

Cuidado, senhores! Como diz a canção de um antigo compositor baiano, a vida é real e de viés.

Enquanto Dilma sai do poder pela porta lateral, o PSDB, por enquanto, volta ao poder (ou o toma) pela porta dos fundos. 

Vossas senhorias podem até acreditar, mas a história não é uma lata de lixo. Ela saberá colocar cada um dos senhores em seu devido lugar.

4 de mai. de 2016

VIA CRUCIS


Dilma; Lula; Golpe; Temer: Lava Jato; Corrupção; Brasil; Política
Foto: Lula Marques/Agência PT (17/03/2016) Fotos Públicas

A decisão tomada ontem (03/05) pela Procuradoria Geral da República deixou o inferno astral da presidente Dilma Rousseff e o martírio do ex-presidente Lula longe de terem um final feliz. Na verdade, o calvário de Dilma e Lula só está começando. 

A via crucis deles e do PT passará pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e o tiro de misericórdia poderá ser dado em Curitiba pelas mãos do juiz Sergio Moro e pelos eleitores no pleito de 2016.

A retirada de Dilma do poder, ao que tudo indica, não é suficiente. É preciso inviabilizar também, se não politicamente, pelo menos jurídica e moralmente, a candidatura de Lula em 2018. 

A capacidade do ex-presidente de superar desafios e a facilidade em sair direta ou indiretamente vitorioso dos embates que campeia, sempre foi uma ameaça constante para os seus inimigos.

As justificativas do procurador-geral Rodrigo Janot para pedir a abertura de inquérito da dupla petista e do advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, por suspeita de obstrução da Lava Jato, foram recebidas como fortes e contundentes pela classe política, tanto que deixaram Lula deprimido e chateado, segundo informações da jornalista Mônica Bergamo.

Ao promover a abertura do inquérito Janot pôs na boca da oposição e nas mãos de alguns setores da imprensa os argumentos que queriam, queimando um pouco mais a imagem do ex-presidente e tornando remota a possibilidade dele entrar na disputa de 2018.

Se Lula demonstrava estar um tanto quanto fragilizado e seu futuro político incerto, sua provável candidatura fragmentou-se e deixou a imagem do PT mais pulverizada. 

Mas, antes mesmo do grande teste nas urnas em 2018, o partido terá de enfrentar sua primeira provação pública nas eleições de 2016.  Por enquanto, as perspectivas não estão tranquilas nem favoráveis. Baixas também já começaram a acontecer. 

Preocupados em não terem sua reputação atrelada à imagem de um partido que é acusado de profissionalizar a corrupção no Brasil, 11% dos prefeitos eleitos em 2012 abandonaram recentemente a legenda, segundo reportagem da Folha de S. Paulo.

Enquanto o destino dos líderes petistas estará nas mãos do Supremo Tribunal Federal, o futuro do partido dependerá mais do que nunca do voto dos eleitores. 

Entretanto, o atual horizonte eleitoral acinzentado em que o PT se encontra tende a tornar mais difícil a possibilidade do Partido dos Trabalhadores volta a voar em um céu de brigadeiro. 

Se na justiça divina as coisas acontecem no tempo determinado por Deus, na justiça brasileira as decisões políticas e judiciais acontecem no tempo determinado por Janot, Zavascki, Moro e companhia limitada. 

Se depender deles, o destino se confirmará implacável e a Fênix petista dificilmente ressurgirá tão cedo.


27 de abr. de 2016

PRESIDENTE BIBELÔ


Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil (28/04/2015) Fotos Públicas

As exigências feitas pelo PSDB para apoiar um possível governo Temer são no mínimo indecentes. Mais do que tornar o talvez provável futuro presidente do Brasil em um refém de seus interesses presidenciais maniqueístas, os tucanos querem promover Temer de vice-presidente de fachada para presidente bibelô, o legítimo vaquinha de presépio.

A sanha peessedebista em voltar à presidência do país de forma indireta já se tornou obsessão.

De duas, uma: ou os tucanos querem ferrar o vice-presidente, inviabilizando seu provável mandato presidencial antes mesmo dele acontecer, ou querem ser dispensados por Temer, invés do próprio PSDB se dispensar por si só de um provável governo peemedebista. De uma forma ou de outra, o tucanato dá sinais claros que quer vencer Temer pelo cansaço.

De negociata em negociata, o Brasil vai se notabilizando como uma República de golpistas.

Ao exigir que Michel Temer não concorra à reeleição em 2018 e impedir que o PMDB lance candidatos próprios nas principais cidades do país nas eleições a prefeito desse ano e na dos governos estaduais daqui há dois anos, os tucanos querem algo inédito: fazer com que um partido se torne primeiro-ministro, quando o natural é que um político o seja. 

Agindo assim, FHC, Aécio e companhia ilimitada governariam indiretamente o país e anulariam as possíveis ações temerescas revanchistas e traiçoeiras. O PSDB conhece bem sua presa, sabe que Michel de anjo só tem o nome e que apesar disso não é nada confiável.

Foto: ASCOM/VPR (25/04/2016) Fotos Públicas

A propósito, as ideias de Temer não se realizam na pessoa do vice-presidente do país, muito pelo contrário, são inviabilizadas pelo comportamento e pelas atitudes questionáveis do atual presidente licenciado do PMDB.

Entre quiproquós e trocadilhos, enquanto os pares não se entendem, pesquisa realizada pelo Instituto Ibope Inteligência apontou que somente 14% dos brasileiros de dizem satisfeitos com a democracia, 34% dizem estar poucos satisfeitos e 49% nada satisfeitos.

A desilusão da população com o atual quadro político não para por aí. Só 40% afirmaram que a democracia é preferível a qualquer outra forma de governo, e o que é pior, para 34% dá na mesma se um regime é democrático ou não.

Situação preocupante, já que, de acordo com o estudo, o brasileiro demonstra que pouco se importa com a possibilidade da existência de um regime autoritário.

Nessa briga entre mocinhos e bandidos não vai ser difícil separar o joio do trigo, posto que, nesse balaio que a política nacional se tornou, há excesso de joio e escassez de trigo.

De qualquer forma, acordos entre PSDB e PMDB devem ser registrados em cartório e com firma reconhecida, afinal de contas, vai que...

20 de abr. de 2016

ENTRE O CÉU E O INFERNO


Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil (26/06/2015) Fotos Públicas

Foto: Lula Marques/Agência PT (18/08/2015) Fotos Públicas

O Senado nem sequer acatou formalmente o processo de impedimento da presidente e os futuros apoiadores do provável governo Temer já começam a dar sinais de desentendimento entre si, confirmando que o apoio ao impeachment será a moeda de troca utilizada para o pagamento dos mais de 300 votos contrários à permanência de Dilma no comando do país.

Sim, a fatura chegou mais rápido do que se esperava.

Temer já articula nomes para seu mandato presidencial como se já tivesse sido empossado. Entre recusas e aceitações publicamente não declaradas, o ainda vice-presidente vai efetivando sua chegada ao poder.

A estratégia é escolher nomes que impactem e conquistem a população e agradem o mercado.

Medidas muito ousadas não serão adotadas de início, mas, a julgar pelas propostas contidas no plano de governo divulgadas há meses sob o nome de “Uma ponte para o futuro”, políticas neoliberais serão o destaque e a tônica inevitável do provável futuro presidente do Brasil.

Nesse jogo de cartas marcadas, a guerra de afirmações também já foi declarada, tanto é que a imprensa, em informações oficiosas, já divulga que Temer não pretende acabar com os programas sociais, bandeira vitoriosa da administração petista, mas em atualizar esses programas. O risco é saber qual é o significado de atualizar no dicionário temeresco.

Longe de ser uma unanimidade entre a população, o apoio declarado ao muito provável governo Temer também não está consumado ou garantido por parte de alguns partidos até então alinhados com o vice-presidente em relação a aprovação do impeachment.

É o caso do PSDB que, como sempre, nunca está totalmente afinando nem interna nem externamente entre si.

Enquanto há alguns nomes do partido apoiam que embarque total no barco de Temer, outros são contrários e acreditam que o PSDB estaria entrando em uma canoa furada e defendem um apoio seletivo ao governo do peemedebista, como é o caso do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.

Alckmin não está preocupado com o partido, mas com suas intenções políticas para 2018 ou mais precisamente com a possibilidade do também sempre presidenciável José Serra se tornar ministro de Temer. 

Se Serra aceita e se dá bem, pode levar a melhor na disputa com Aécio e o próprio Alckmin pela indicação do partido como concorrente a presidência nas próximas eleições.

De uma forma ou de outra, o PSDB está em um mato sem cachorro e diante de um dilema político: se apoia Temer e o governo dele emplaca, com que argumentos e moral poderá se contrapor à uma possível, e muito provável, candidatura de Temer à reeleição em 2018?

Se fica de fora e o governo Temer emplaca, quais os argumentos que usará para atacar um governo que deu certo? 

Se aceita e o governo Temer for mal, com que moral poderá criticar ou atacar um governo do qual fez parte e ajudou a colocar no poder? 

Pelo que tudo indica, Temer e o PSDB podem se tornar o céu ou o inferno um do outro. Sem direito a purgatório.

14 de abr. de 2016

CIDADE NEGRA

Haitianos ocupam a cidade, submetem-se ao trabalho informal como mão de obra barata e se tornam a cara da nova onda migratória em São Paulo

Foto: Cido Marques/FCC (18/05/2014) Fotos Públicas

A avenida São João, localizada centro de São Paulo, é um dos cartões postais mais famosos da cidade. No início do século XX era conhecida por sua constante agitação cultural e por abrigar, além de cinemas, teatros e lojas especializadas no comércio de calçados e guarda-chuvas, um grande número de migrantes e de imigrantes. Já foi cantada em verso e prosa por poetas e músicos, como o cantor Caetano Veloso que a imortalizou em Sampa, considerado por alguns um hino à cidade.

Nos últimos dois anos, entretanto, quem passa ao longo da São João percebe que é outro movimento e outros sons, ou mais precisamente, outros sotaques que têm ocupado a avenida e ecoado nas lojas, bares, hotéis e ruas ao redor: Os imigrantes haitianos são os novos habitantes do pedaço.

Segundo dados oficiais. dos 1,7 milhão de estrangeiros de 85 nacionalidades que vieram para o Brasil desde 2011, pelos menos 600 mil vivem na capital paulista e os haitianos são o exemplo mais visível do aumento exponencial do número de estrangeiros que passaram a viver na terra da garoa, recentemente.

A quantidade de haitianos que buscam refúgio ou uma nova oportunidade de vida nas regiões paulistanas passou de 814 em 2011 para 14579 em 2013, população que chega a ser duas vezes maior do que a de muitas cidades do interior de Minas Gerais. 

Vindos de outro sonho infeliz de cidade, são os eles, e não mais os italianos, portugueses, espanhóis, libaneses e nordestinos, os novos moradores da avenida São João que têm aprendido depressa a chamar São Paulo de realidade.

Fugidos ou expulsos de sua terra natal pelo terremoto que devastou o país em 2010, parece até que serviram de inspiração para outra música famosa de Caetano, Haiti, cuja letra e refrão refletem a dor, indignação, desrespeito e sofrimento dos negros brasileiros e que cai como uma luva em ralação à situação que os nativos de Porto Príncipe vêm enfrentando na cidade: “O Haiti é aqui. O Haiti não é aqui”.

Muitos vêm exercendo atividades técnicas e braçais na construção civil. Outros têm sobrevivido como camelôs ou se submetendo a trabalhar em média 14 horas por dia em condições semiescravas e degradantes para ganhar até um salário mínimo, embora possuam um perfil não muito diferente do perfil do brasileiro médio, segundo pesquisa realizada pela PUC-MG que apontou que a maioria tem segundo grau incompleto e faixa etária entre 25 e 34 anos.

Exploração e preconceito

Foto: Fernando Pereira/SECOM (06/05/2014) Fotos Públicas

Os irmãos Rony, 26 anos, e Roniel, 25 anos, são exemplos de imigrantes que viveram a exploração de mão de obra na cidade. Expulsos do Haiti pelo terremoto que devastou o país em 2010, onde perderam os pais e dois irmãos que nunca tiveram os corpos encontrados e identificados, eles estão no Brasil há 18 meses.

Chegaram a trabalhar 16 horas diárias como serventes de pedreiro na construção civil e depois como ajudantes de cozinha em um restaurante Self service. “Trabalhávamos em troca de comida e de um rendimento de R$ 540,00. Como tínhamos que pagar, cada um, R$ 300,00 de aluguel em um quarto de pensão, não sobrava nada”, afirmam chateados. 

Inconformados com o desrespeito, resolveram dar a volta por cima, decretaram a independência e hoje chegam a ganhar até R$ 1000,00 vendendo relógios por R$ 30,00 na região da Praça da República em São Paulo.

Sentem-se beneficiados porque os “rapas” não caem em cima deles. “Pelo fato de não sermos brasileiros, eles não tomam nossos produtos. Acho que têm medo de sofrer alguma punição do governo, da delegacia de imigração”, confessa Jacquet, aliviado, mas um tanto decepcionado com o Brasil por acreditar que iria encontrar um emprego decente com possibilidade de estabilidade financeira em um médio prazo.

As funções subalternas ou de pouca valorização profissional e as péssima condições de trabalho que são oferecidos aos imigrantes não acontece somente no Brasil. É assim também na Europa. 

Segundo o economista e sociólogo José de Almeida Amaral Júnior, o europeu também não bota a mão no trabalho mais pesado. “As antigas colônias migram para as metrópoles para buscar emprego e o emprego que vão ter não é o de professor, mas de lavador de pratos, limpador de banheiro e varredor de chão”, afirma.

Apesar de existirem leis brasileiras rígidas que proíbem a contratação ilegal e a exploração da mão obra imigrante, a fiscalização ainda deixa a desejar e muitos imigrantes acabam cedendo às exigências desrespeitosas de quem pode contratar. 

Vivem o tempo todo na corda bamba e presos a um dilema: não podem voltar aos seus países de origem porque não têm mais dinheiro e não conseguem continuar por aqui sem ter onde morar ou o que comer.

Para Amaral, no Brasil, os haitianos encontram outro problema: o preconceito. “Algumas pessoas reclamam porque eles são haitianos. Porque o cara é negro. Se fosse alemão, italiano francês ou português ou se achassem eles bonitinhos e de olho claro, não tinha erro. Se o cara é negro, haitiano ou angolano, reclama-se. Não pelo desequilíbrio do mercado ou pelo medo do desemprego, mas por preconceito mesmo, porque se o país tem pleno emprego pode absorver todos esses migrantes. ”, sentencia.

Amaral acredita que, por enquanto, a onda de imigração não tem solução, afinal o mundo está em crise e é uma crise séria. Não há perspectivas de uma melhora relativamente rápida. 

Um país ou outro ainda consegue se safar, “mas de um modo geral a economia mundial está devagar no sentido de não poder absorver de uma forma fácil a mão de obra que vem de outro lugar. “Se a economia vai bem e está funcionando, até no deserto os Tuaregs vivem”, conclui.

A exceção e a regra
Foto: Laura Daudén/Conectas.org (29/04/2014) Fotos Públicas

Mas, como toda regra tem exceção, há também quem tem sorte em meio a esse turbilhão de dúvidas e incertezas econômicas. É o caso de Jacques Card Renel, 38 anos. No Brasil há apenas seis meses e Adventista do Sétimo Dia, Renel conseguiu um emprego registrado na Igreja Batista da Liberdade.

Professor de costura e costureiro no Haiti, pai de um casal de filhos que deixou por lá e dos quais morre de saudade, mãos calejadas e olhos marejados de lágrimas, Edi, como é conhecido na igreja, sente-se abençoado e feliz, mesmo trabalhando como auxiliar de serviços gerais.

“No Brasil está difícil até para os brasileiros encontrarem emprego, mas graças a Deus e aos irmãos da igreja consegui um trabalho que me dá um salário bom e que me permite ajudar meus filhos e minha família que ficou em Porto Príncipe, confessa aliviado.

Renel, que fala fluentemente francês, inglês, espanhol, criolo, já “arranha” bem português. Diz estar satisfeito e feliz e confessa que dificilmente volta a morar no Haiti, que o seu maior sonho é conseguir uma residência e trazer a família para o Brasil.

Jacques Renel não tem sido o único abençoado. As igrejas vêm se notabilizando como o lugar onde outros muitos imigrantes têm encontrado conforto espiritual e abrigo.

Católicos e evangélicos dividem a atenção e a preferência dos povos africanos que chegam ao Brasil. É o caso Igreja Adventista do Sétimo Dia Central Paulistana e da Paróquia Nossa Senhora da Paz.

Elas já receberam mais de 10 mil imigrantes de várias nacionalidades, inclusive exilados e refugiados. Oferecem aulas de português, acompanhamento jurídico, social, psicológico, orientação profissional, acompanhamento médico e encaminhamento ao emprego. “A missão principal é o amor ao próximo e o cumprimento do “ide” de Jesus”, afirma o administrador da Liber – Igreja Batista da Liberdade – Francisco Rissato.

Habitantes do novo quilombo de Zumbi que São Paulo se tornou nos últimos anos, os imigrantes só querem é ser feliz. Suas histórias parecidas e realidades semelhantes têm marcado a vida e o dia a dia da não mais túmulo do samba e da não tanto terra da garoa.

São homens e mulheres que, apesar da dor, do banzo e da distância, têm resistido, para mostrar “aos outros quase pretos (e são todos quase pretos) a grandeza épica de um povo em formação”, que há lugar para todos na terra dos mil povos e que dá para viver um sonho feliz de cidade na Pan-America de Áfricas utópicas.

Que o sonho deles seja possível, que todos sejam bem-vindos e que a exceção - aqueles que têm se dado bem - se torne a regra.

O ABC DA IMIGRAÇÃO

IMIGRANTE: Pessoa que imigra ou imigrou, que entra em um país estrangeiro com o objetivo de residir ou trabalhar.

EMIGRANTE: Êxodo de indivíduos ou grupos, considerado do ponto de vista do país de origem. No âmbito sociológico, a emigração consiste no abandono voluntário do seu país de origem, por motivos políticos, econômicos, religiosos etc.

ASILADO: Que recebeu asilo, refúgio.

ASILADO POLÍTICO: Sob proteção ou, em determinadas circunstâncias e sob determinadas condições. É dada no território de um Estado ou de suas missões diplomáticas creditadas no exterior para pessoas perseguidas por suas opiniões políticas, crenças religiosas ou as suas condições étnicas.

EXILADO: Que foi exilado ou se exilou, banido, degredado, deportado, desterrado, expatriado, proscrito, despatriado.

REFUGIADO:  Indivíduo que se mudou para um lugar seguro, buscando proteção. Aquele que foi obrigado a sair de sua terra natal por qualquer tipo de perseguição; quem se refugiou; pessoa que busca escapar de um perigo. Refugiado político. Quem foi obrigado a deixar sua pátria por sofrer perseguição política.

TEMPORÁRIO: É quando uma pessoa vai para um lugar e depois de um tempo volta ou vai e volta depois de um longo tempo.

PERMANENTE: Quem foi autorizado a estabelecer residência fixa em outro país por trabalho permanente ou por ter estabelecido vínculos familiares com pessoas do país em que passou a viver.

COIOTE: Traficante de seres humanos ou que, mediante extorsão e pagamento de dinheiro, abusos físicos, estupro, submetem pessoas às suas vontades em troca de liberdade ou permissão para entrar ou sair de uma região.

Clique aqui e confira também a entrevista com o economista e professor José Amaral.