A inviabilização da volta de Lula a
Presidência da República atingiu seu ponto máximo ontem com a prisão dele em São
Bernardo do Campo, seu berço sindical e político. Porém, o processo de desconstrução
da imagem do maior líder político popular do Brasil e da América Latina nas últimas
décadas deverá seguir seu curso, embora sem muito sucesso.
Impedir que Lula
voltasse a governar o Brasil nunca foi suficiente para seus algozes. Afinal,
apesar dele não ter mais o comando do país em suas mãos, não estava morto.
O fato é que,
mesmo fora da presidência, Lula ainda continuava sendo uma grave ameaça para as
elites que, com o impeachment de Dilma, sequestraram o Brasil.
Depois do
impeachment, Lula passou a ser a possibilidade e o “risco real” de devolver o
Brasil para os brasileiros.
Não bastava
apenas anulá-lo política, moral e judicialmente. Era preciso também isolá-lo, mantê-lo
fora do campo de visão do povo e do país, silenciá-lo, calar a sua voz.
Era preciso
impedir que Lula continuasse a "vociferar" seus brados Brasil afora e dar ouvidos
e voz a quem mais lhe deu atenção e reconhecimento nos últimos tempos: o brasileiro
sofrido, e agora iludido, enganado e assaltado pelas falsas promessas do
impeachment.
Na verdade, a
tentativa de transformar Lula em um fantasma político começou quando esse
nordestino, ex-metalúrgico e semi-analfabeto – como eles sempre fizeram questão
de dizer – ousou pela primeira vez ser presidente do Brasil.
Depois que Lula conseguiu
ser eleito, a vontade de detê-lo se intensificou diariamente de forma sistemática,
na maioria das vezes, é bem verdade, com o apoio e o aval de alguns veículos da
imprensa.
Esse desejo tornou-se
obsessão quando Lula deixou claro para o Brasil e para o mundo, através de suas
ações e projetos sociais, a que veio e para quem veio governar.
O poder de resistência
e de renascimento de Lula também sempre incomodou e impressionou.
Afinal, que cara
esse que, mesmo chicoteado pela chibata da imprensa comercial, corporativa e hegemônica,
açoitado pelas sucessivas negativas de um Judiciário seletivo e abandonado pela
classe política golpista, consegue dar a volta por cima e se manter líder nas
pesquisas? Esse cara é Lula.
Nos últimos dias,
ao verem a tentativa de silenciar Lula seguir seu curso programado, muitos
políticos ficaram surdos, cegos ou se fingiram de mudos. Por um lado pela conivência
com os algozes do ex-presidente. Por outro, por pura inveja.
Eles sabem que
jamais terão o carisma, a popularidade, o dom natural, a genuinidade política para
representar o Povo brasileiro como Luiz Inácio Lula da Silva sempre teve e bem
representou. Fato, aliás, reconhecido e reafirmado nacional e internacionalmente
tanto por seus admiradores quanto por quem o desqualifica.
Quem esteve ontem
em São Bernardo do Campo, ou viu as poucas imagens divulgadas pela mídia, sabe
os reais motivos que levaram conjuntamente os três poderes constituídos do
Brasil a isolar o “animal” político Lula atrás das grades.
Lula deixou claro
em seu discurso horas antes de ser preso que tem o jeito, o cheiro, a alma, a
garra, a sobrevida e o espírito do Povo brasileiro. Ou pelo menos, daqueles que
se consideram Povo.
Deixar de ser um
ser humano para se transformar em uma ideia e assim torna-se igual ao seu Povo, não é
para muitos, mas para Políticos com P maiúsculo como Lula sempre foi.
Não quero aqui fazer de Lula um herói – até mesmo porque não acredito nem confio em heróis - ou negar
seus erros políticos, ações inadequadas, atitudes equivocadas e algumas escolhas
inconvenientes que ele fez. Reconheço-as e acredito que qualquer um é capaz de
enumerá-las.
Contundo, acredito
que Lula também as reconheceu. Sua luta para voltar a todo o custo ao comando
do país é um indicativo de seu arrependimento.
Seus inimigos
também reconhecem e sabem que, voltando ao poder, Lula, arrependido, faria
muito mais e melhor do que fez e para quem fez. Daí a necessidade urgente e
inevitável de encarcerá-lo.
Entretanto, reconheço
também, como os ouros 47% dos brasileiros contrários à sua prisão - segundo
pesquisa realizada pelo Datafolha – Lula como um grande líder político que
soube enxergar seu Povo e as necessidades deles, dando-lhe a dignidade que lhe
fora negada por centenas de anos.
Tenho, portanto, reconhecimento
e gratidão por Lula e por tudo que ele fez pelos menos favorecidos. Só lamento
que não tenha feito em seus dois mandatos a reforma agrária que o Brasil
precisa.
Acredito
sinceramente que não há provas em relação ao dito apartamento, que sequer está
no seu nome - e por isso não foi confiscado como foram seus outros bens - que
justificam sua condenação e prisão, mas respeito a opinião de quem se sentiu
convencido da condenação dele por esse motivo menor.
Não
basta apenas olhar a prisão de Lula sobre o aspecto emocional ou pela tentativa
de santificá-lo ou demonizá-lo. Temos que analisar o que aconteceu ontem,
sobretudo, sob a perspectiva e o olhar da História.
A prisão de Lula é
resultado de um processo histórico que se repete e vai se repetir todas as
vezes que alguém tentar desafiar e incomodar a elite que se acha poderosa e dona
do Brasil. É resultado sim da luta de classes.
Gostem
ou não, uma coisa é inegável, tanto para os que o amam como para os que o odeiam:
o legado de Lula já é histórico. Ninguém jamais vai conseguir apagar.
Lula permanece livre
na mente, na memória, na ideia, no coração e na alma de centenas de milhares de
brasileiros, preso ou em liberdade, absolvido ou condenado.
A estrela de Lula
vai continuar acesa, afinal de contas, só continua a brilhar quem tem luz própria.
Força e resistência,
Presidente Lula!