30 de nov. de 2015

SAI, ZIKA!


Foto: UW/CIMSS/William Straka III (23/10/2015)
Ventos que sopram de todos os lados sinalizam que a temperatura vai subir, a maré não vai baixar e o mar de lama em que está metido o país tende a se espalhar e invadir outras praias e rios. 

Política poluição corrupção indignação indigna nação Assim mesmo tudo junto e misturado

Sem vírgula nem ponto final.

No Brasil, Cunha na berlinda. Outra vez. Liberalmente. Literalmente.

Na França, Dilma discutindo o clima, enquanto o clima promete fechar por aqui.

Dias de tempestades e fúria, frente fria, quase gelada, pela frente, lá e cá.

O túnel no fim da luz. Realidades invertidas.

Como se não bastasse, o Zika vírus querendo proliferar e o Aedes insistindo em não morrer.

A semana promete. Para uns, como eu, o jeito é se agasalhar, se proteger.

Para outros, só tomando uma. 

Mas com cautela. Afinal, cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém. 

Pelo menos até agora. Vai saber...

Segue a vida que a vida segue.    

26 de nov. de 2015

AMIGO DA ONÇA

Senador Delcídio do Amaral é pego pela Lava a Jato e envolve nomes de magistrados e políticos em gravação sobre atitudes criminosas

Foto: Geraldo Magela/Agência Senado (18/08/2015

Segundo os dicionários, suicídio significa ruína, desgraça procurada espontaneamente ou por falta de juízo. Essa definição representa bem o que Delcidio do Amaral (PT/MS) andava fazendo nos últimos dias: agindo irracionalmente, cavando sua própria sepultura, tramando contra si mesmo e prejudicando alguns dos seus pares.

A prisão do senador na manhã da quarta-feira (25/11) caiu como uma bomba no Congresso Nacional, pôs mais lenha na fogueira ardente da Operação Lava Jato e pode significar o fim de sua carreira política.

Ao contrário do que alguns possam pensar ou afirmar, a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) parece que não teve ares de caça às bruxas ou de inquisição. Foi metódica e cuidadosamente avaliada. Tudo indica que está amplamente apoiada em provas.

Ao subestimar a competência da Lava Jato, no mínimo confiando nas suas prerrogativas de parlamentar, Delcidio se deu mal e ainda envolveu magistrados e outros políticos aos citá-los em conversa com o filho de Nestor Cerveró, ex-diretor da área internacional da Petrobrás já preso por ações ilícitas, negociando propina e rota da fuga.

Venhamos e convenhamos, o senador não só agiu precipitadamente ao tentar dificultar a delação premiada de Cerveró, mas totalmente fora da sanidade mental. Constituiu provas contra si mesmo e afundou um pouco mais a imagem do seu partido em uma crise de desconfiança.

Ao que parece, somente Amaral ainda não se ligou que vivemos em um outro tempo e que finalmente, políticos e afins que possuem o comportamento avesso à ética como ele, estão com os dias contados e a data de validade vencendo.

Que a prisão do parlamentar lhe sirva de lição e de exemplo para todos nós. Que ele, e aqueles que por enquanto ainda não foram pegos em suas falcatruas, deixem de ser espertos e tornem-se inteligentes.

No final das contas, mais cerdo ou mais tarde, os espertinhos sempre se dão mal, pois, como já diziam nossos tataraantepassados, o crime não compensa.

24 de nov. de 2015

NO RITMO DO TANGO


Foto: Site Oficial mauriciomacri.com.ar (23/11/2015)

A eleição, mesmo apertada, de Mauricio Macri não só interrompe o estilo Cristina Kirchner de governar como também deixa o peronismo na Argentina sem um herdeiro de peso. Contudo, as dificuldades que Macri terá pela frente não são fáceis nem poucas. 

Maurício Macri governará, a princípio, sem o apoio da maioria do Congresso e com a economia tomada pela crise e desconfiança.

Nesse sentido, qualquer semelhança com um certo país da América do Sul não é mera coincidência.

Assim como Dilma, o presidente argentino eleito venceu com uma margem pequena de votos, mas ao contrário dela, não tem a figura onipotente de nenhum político a lhe comandar ou a lhe impor quaisquer grandes condições.

Isso é bom ou ruim? Vai depender do jogo de cintura de Macri e de sua habilidade para governar. Contudo, será o primeiro grande teste desse político que não está nem tanto à esquerda e nem tanto à direita.

Admirador do tango, Mauricio Macri vai ter que rebolar muito e dançar no ritmo da música para fazer seu país acertar novamente o passo.

Consenso e negociação serão as palavras chaves e, talvez, o segredo para o fracasso ou o sucesso de Macri e da Argentina.

23 de nov. de 2015

À ESPERA DE UM MILAGRE


Foto: Rogério Alves/TV Senado (19/11/2015)

Aos poucos outra face dura e cruel do maior desastre ambiental brasileiro vai ganhando mais contornos: o destino indefinido dos moradores de Mariana e das outras cidades ao redor.

Homens, mulheres, crianças, famílias inteiras estão devastadas. Por dentro e por fora. 

Como se não bastasse a falta d’água, a ausência de um acompanhamento mais presente e atuante dos governos também é evidente, além do constante desrespeito e afronta à dignidade.

Quem vai pagar os estragos nos bens materiais dessas pessoas? Quem vai dar a elas moradia e abrigo? Onde vão trabalhar? Vão viver do que? Perguntas que ecoam soltas pelo ar à espera de algum corajoso que lhes dê respostas.

Enquanto “representantes legitimamente eleitos pelo povo" limitam-se a sobrevoar de helicópteros áreas atingidas como urubus à espreita vislumbrando a desgraça e prontos para atacar, a solidariedade dos que tem pouco de tão pouco é quem tem salvado esse povo já sofrido.

Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil (07/11/2015)

Populações inteiras seguem o curso do rio assassinado pela ganância e negligência de exploradores mercenários. Muitas, por desespero ou ingenuidade,  ainda acreditam na possibilidade de um milagre ou em um surto de consciência dos senhores políticos que, pelo que tudo indica, dificilmente virá.
Foto: Rogério Alves/TV Senado (19/11/2015)

CAÇA AOS FANTASMAS


Deputado Fausto Pinato (PRB/SP), à esquerda na foto, relatou estar sofrendo ameaças de morte
Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil (19/11/2015)
Impressionante como no Brasil algumas velhas práticas insistem em não querer acabar, principalmente diante da iminência da derrota. Mudam-se as caras, porém as estratégias continuam as mesmas.

A denúncia do deputado federal Fausto Pinato (PRB/SP) de que está sofrendo ameaças em decorrência do processo de investigação por quebra de decoro parlamentar do presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB/RJ) é a demonstração clara de que os antigos coronéis e suas já manjadas ações ainda estão vivos e atuantes no nosso país.

De vez em quando essas múmias saem para tomar sol.

Pinato revelou a deputados que seu motorista foi abordado por um homem que bateu no vidro do carro em que estava. De acordo com o motorista, o suspeito mandou um recado intimidador em que afirma que o deputado deveria ser mais inteligente, pois tem uma família bonita e deveria preservá-la.

Fausto Pinato também disse aos parlamentares que está recebendo “recados” de várias pessoas, inclusive de empresários.

Pelo que tudo indica, as múmias vivas não passam mais a maior parte do tempo morando em municípios do interior do pais ou residindo em alguma cidade distante do nordeste brasileiro. 

Agora elas também habitam as diretorias de empresas e os gabinetes repletos de mordomia do Congresso Nacional.

Covardemente, não mostram suas caras. Continuam se escondendo atrás dos capitães do mato e dos pistoleiros profissionais. 

Dou todo o apoio a decisão correta, e não menos corajosa, do relator Pinato em denuncia-los, mas lamento ele não poder dar nome aos bois.

Que o ministro da Justiça, Jose Eduardo Cardozo, a Polícia Federal e as autoridades competentes cumpram sua obrigação e que a população exija a identificação dos suspeitos sob o risco de vermos outras antigas práticas já sepultadas no Brasil também quererem ressuscitar ou ganhar força.

19 de nov. de 2015

NON SENSE

Foto: Lula Marques/Agência PT (05/11/2015)

As atitudes de Eduardo Cunha para se manter no comando da Câmara são cada vez mais loucas e desesperadas. Dessa vez o peemedebista resolveu usar, ou melhor, abusar, do seu poder de presidente da Casa para impedir a reunião do Conselho de Ética.

Deve ter tomado Rivotril, no mínimo.

Parece uma atitude ousada, mas na verdade é cheia de arrogância e o tiro, além de sair pela culatra, pode ser fatal. 

O feitiço pode virar contra o feiticeiro e a atitude se tornar a gota que faltava para transbordar o copo d’água da impaciência que o Congresso Nacional vive em relação a permanência dele na Câmara.

Esse comportamento pode comprometer não só o próprio Cunha, mas também todos aqueles que por simpatia ou obediência resolvam aprovar mais uma de suas arbitrariedades. Obriga os parlamentares a tomarem uma posição mais clara e ostensiva em relação à situação deles.

Ao abrir a sessão do Plenário inviabilizando o funcionamento de comissões, Eduardo Cunha faltou com respeito e agiu como se ainda tivesse os plenos poderes que acreditava possuir antes.

Pode até ter o apoio de uma meia dúzia de gatos pingados que lhe são fieis, mas abre caminho para que os argumentos de quebra de decoro parlamentar sejam aceitos, além de incentivar a solicitação de uma ação judicial que pode tirá-lo definitivamente da linha de frente do Congresso.

Pelo visto, Cunha está precisando, urgentemente, de um choque de realidade.

Das duas, uma: ou perdeu de vez o senso, ou tem certeza que será absolvido das acusações que pesam sobre ele, livrando-se de uma punição mais rígida por parte do Conselho de Ética da Câmara.

De qualquer forma, atitudes que ultrapassam a lógica ou a razão muitas vezes resultam em consequências funestas. Será que ele também desconhece isso?

18 de nov. de 2015

OS MORDE, MAS ASSOPRA


Foto: José Cruz/Agência Brasil (17/11/2015)

O PMDB divulgou ontem (17/11) um documento intitulado de “Uma ponte para o Futuro”. Nele, o partido não só apresenta as alternativas econômicas que adotaria no caso de um possível impeachment da presidente Dilma, mas se coloca como sendo “a alternativa” em substituição à Dilma e à sua política econômica.

Mais do que o estudo e as ideias em si, chamou a atenção a forma e as circunstâncias como as propostas foram apresentadas. Os peemedebistas aproveitaram a ausência de Dilma (ela está participando do G20 na Turquia) e o momento presidente em exercício de Michel Temer para botar, outra vez, as asinhas de fora.

Sui generis. Coincidência? Nem um pouco, meu caro amigo cara pálida. Tudo aconteceu de forma orquestrada e deliberada mesmo. Dividindo a regência da batuta estavam Temer, Cunha, Renan, Sarney e companhia limitada. Aliás, o PMDB é um partido jurássico. Somando as idades de todos que estavam presentes, regrediríamos até a era da pedra.

O PMDB é, no mínimo, curioso. Melhor: engraçado. Um partido que não se decide, mas que insiste em ficar em cima do muro, mesmo quando decide sair de cima do muro. É realmente um partido que não dá para acreditar nem levar a sério. É Maria vai com as outras e ao mesmo tempo quer ser independente. É o avesso do avesso do avesso do avesso, parafraseando Caetano Veloso.

Seus integrantes parecem as personagens da peça teatral “As três irmãs”, do russo Tchekhov. Querem ir embora, mas fazem de tudo para ficar. O partido Denorex, aquele que parece, mas não é. O Si, pero no mucho!

Enquanto os peemedebistas continuarem adotando o método morde, mas assopra e agindo sorrateiramente, vai ser difícil acreditar neles e em qualquer proposta que eles façam, mesmo ela parecendo ser a melhor possível.

17 de nov. de 2015

À DERIVA


Foto: Reprodução

O mar de lama que se tornou a cidade mineira de Mariana por conta da irresponsabilidade gananciosa da mineradora Samarco S.A. é sintomático. Não por acaso. Na verdade Mariana representa a extensão do mar de lama que se tornou o país nos últimos tempos.

As disputas vergonhosas e mesquinhas que a política brasileira vem protagonizando refletem a UTI em que se transformou o Brasil. Estamos em Estado de coma e o colapso se estende por outras áreas, igual a uma infecção generalizada.

Incrível como por aqui o mal se espalha rapidamente. Quando na economia ou na política, ou nas duas simultaneamente, as coisas dão erradas, parece que o resto também não dá certo: a seleção brasileira de futebol não deslancha, o desemprego cresce, a inadimplência aumenta, o dólar só sobe e bolsa só cai.

A falta de visão e de planejamento em nosso país já se tornaram algo histórico. Impressionante como insistimos em não aprender com os erros. Osmose cíclica.

Certa vez, a não muito conhecida, mas excelente atriz Berta Zemel me contou que uma das coisas que mais impressionava o diretor polonês Ziembinski, um dos incentivadores da renovação do teatro brasileiro, era e o fato do Brasil ter que recomeçar a cada cinco anos.

Incrível! Ziembinski afirmou isso há mais de meio século e, por pior que pareça, a frase é atual e reincidente.

Lamentável constatar que enquanto os nossos “ilustres” políticos insistem em não se entender, ficamos nós à deriva. 

TAPAS E BEIJOS

Foto: Oswaldo Corneti/Fotos Públicas (25/11/2014)

As denúncias de agressão que envolvem o secretário municipal Pedro Paulo Carvalho, preferido do prefeito Eduardo Paes para sucedê-lo na Prefeitura do Rio Janeiro, ainda estão dando o que falar.

Na segunda-feira (16/09), várias lideranças políticas femininas criticaram a atitude do secretário em espancar por duas vezes a ex-esposa Alexandra Marcondes. Elas também se colocaram contrárias a disputa dele ao cargo comandante da capital fluminense.

Contudo, às críticas não foram unânimes e houve quem também saísse em defesa de Pedro Paulo, entre elas a presidente do PMDB Mulher, Fátima Pelaes, que considera a questão superada, segundo reportagem de O Globo.

A crítica mais áspera veio da deputada Jandira Fhegali (PCdoB/RJ). A líder do partidão e Relatora da Lei Maria da Penha na Câmara afirmou que brigas de casais são assuntos que devem ser debatidos pela sociedade, principalmente quando há agressão e devem ser tratadas dentro da lei.

*****

A princípio causou certa estranheza os adversários políticos de Paes não terem se pronunciando abertamente sobre o assunto. O silêncio, entretanto, não é por omissão ou conivência, mas por estratégia.

O fato de Eduardo Paes minimizar a situação ao afirmar que o caso já foi esclarecido e de que a vida particular nem sempre interfere na vida política pode não trazer maiores problemas para o seu já escolhido candidato, agora.  

Com certeza vai ser utilizada em algum momento por seus adversários durante a campanha eleitoral. Afinal de contas, só peru morre na véspera.

INTELIGÊNCIA SUBESTIMADA


Foto: Vicente Gilardi/Fotos Públicas (15/11/2015)
Paris começa a voltar ao normal quatro dias após o massacre que manchou de horror e sangue ruas da cidade e resultou em pelo menos 130 mortos e mais de 350 feridos. O governo francês resolveu agir de uma forma mais contundente e tomou medidas radicais em relação a defesa de seus territórios na possibilidade, sempre iminente, de novos ataques.

Depois do fracasso e da demora dos serviços de inteligência franceses em identificar os responsáveis e evitar a carnificina que chocou o mundo, o presidente François Hollande está isolado. Até agora só recebeu ajuda efetiva da Bélgica, que também falhou em não identificar imediatamente terroristas infiltrados no país e a potencial ameaça de atentado.

A notícia de que o governo do Iraque havia avisado autoridades francesas dos ataques um dia antes fortalece a ideia de que Hollande falhou e subestimou o poder de ação do Estado islâmico.

O Califado está cada vez mais organizado e articulado. A estratégia de recrutar aliados dentro dos próprios países em que realizam seus ataques tem dado certo e invalidado as ações da inteligência internacional.

A máxima de que a melhor defesa é o ataque é ousada, mas no caso da França se torna potencialmente arriscada porque o governo ainda não tem uma completa noção de quantos terroristas franceses existem em seu território nem qual é a medida exata do poder de fogo que esses fundamentalistas possuem.

Os ataques colocam em risco a decisão dos países europeus em receber e abrigar imigrantes fugidos da guerra civil síria. Muitas fronteiras já foram fechadas. 

Não só os países  da Zona do Euro que estão cautelosos em receber as multidões vindo da Síria. Os próprios imigrantes também já estão receosos em entrar na Europa.

Parece que o medo e o terror psicológico, objetivos claramente pretendidos pelo Estado Islâmico, têm surtido efeito. Pelo menos por enquanto.