15 de jun. de 2016

ENCUNHALADO

Eduardo Cunha, Crise, Cassação de Eduardo Cunha, Conselho de Ética da Câmara, Congresso Nacional, Crise, Impeachment, PMDB, Corrupção

O jornalista e dramaturgo pernambucano Nelson Rodrigues afirmou certa vez que só o inimigo não trai nunca.

Por mais cruel que pareça, a frase rodrigueana, além de também ser emblemática – serve de exemplo para outras situações - é bastante representativa em relação ao momento atual vivido pelo presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha.

Depois de oito meses de manobras irresponsáveis e pedaladas aéticas e antipolíticas, Cunha bebeu do próprio veneno e sentiu o gosto amargo da traição ao ver sua ascensão política meteórica ser encaminhada para um provável fim antecipado, exatamente por parte de amigos e comparsas até então fieis devotos de sua majestade.

Paradoxalmente admirado e desprezado por correligionários e opositores como um politico ardiloso capaz de agregar pessoas em torno de uma mesma crença e de unificar seguidores sob uma mesma visão corrosiva e devastadora, Cunha foi apunhalado publicamente pela Tia Má Eron (PRB-BA) e pelo Brutus nada solidário Wladimir Costa (SD-PA).
Eduardo Cunha, Crise, Cassação de Eduardo Cunha, Conselho de Ética da Câmara, Congresso Nacional, Crise, Impeachment, PMDB, Corrupção
Conselho de ética da Câmara aprova cassação de Eduardo Cunha
Foto: Lula Marques/AGPT (14/06/2016) Fotos Públicas)

Sem trocadilhos e com todos os trocadilhos, o golpe foi baixo e rasteiro, como os ardis cunhalescos, confirmando a máxima de que quem sai aos seus não degenera.

Entretanto, embora semimorto, Eduardo Cunha ainda respira, e sem ajuda de aparelhos.

Apesar da unanimidade dos que acham que ele já era, Cunha pode surpreender e no limite extenuante de suas forças mover céus e terra antes de seu suspiro final e aprontar mais uma(s).

Aos que torcem por um desfecho mortal para o fundamentalista inconsequente, resta a esperança de que o homem bomba do Câmara dos Deputados tenha um minuto de dignidade e que, em um ato definitivo, cumpra o que o Delcídio do Amaral não cumpriu: leve consigo metade do Congresso Nacional.

Só assim a limpeza, a desinfe(s)tação política será geral e a frase rodrigueana citada no inicio desse artigo não terá sido dita nem reproduzida em vão.

8 de jun. de 2016

(DE)PRESSÃO PÓS GOLPE

Temer, Brasil, Golpe, STF, Política Brasileira, Crise Política
Presidente interino Michel Temer durante cerimônia de posse do Ministro da Transparência
Foto: Lula Marques/Agência PT (2/06/2016) Fotos Públicas

Demorou, mas o mundo de Michel Temer começou a desabar.


De acordo a jornalista da Folha de S. Paulo, Mônica Bergamo, o interino do Brasil está sofrendo de um novo mal que vem atacando a classe política tupiniquim: Exaustão Pós Golpe.

Segundo Mônica, Temer estaria “exaurido” por conta da pressão decorrente de exigências que vem sofrendo dos senadores ainda indecisos sobre o impeachment de Dilma Rousseff.

A vida do presidente provisório não está nada fácil, tanto por ele quanto pelos seus aliados notáveis por excelência.

Temer está exaurido e seu governo desgastado.

Se desgraça pouca é bobagem, barganha em grande quantidade pode provocar sérios danos psicológicos e ser altamente prejudicial à saúde presidencial.

Põe em risco a sobrevivência política e à prova a paciência e a fidelidade devota de amigos e correligionários.

Porém, nem tudo é sofrimento, dor ou chantagem explicita na vida de Temer. Ele tem sido poupado e isentado pela mídia seletiva.

O “prefiro não comentar” substituiu o “eu não sabia de nada” e tornou-se a palavra de ordem no Planalto e nas redações jornalísticas, afinal de contas, em relação ao governo Temer, quando um não quer, a imprensa não briga.

Rodrigo Janot, - espécie de versão melhorada de Sérgio Moro – pelo menos por enquanto - tornou-se também o anti-herói da república. Persona non grata pela unanimidade magistrada e política.

Se bobear, Janot é quem será cassado e preso por abuso de poder, apesar de ter bom diálogo com Temer.

No auge de seu desgaste político e psicológico, Temer corre o risco de ver seu governo provisório definitivamente exaurido e acabar como Dona Maria I: Louco.

A Rainha portuguesa, mãe de Dom João VI, apesar de ter sido intitulada de “A piedosa”, por perdoar conspiradores da Corte, costumava ter crises de alucinações.

Certa vez, ao conclamar que todos voltassem a Portugal, atirou-se ao mar no cais da Praça XV, no Rio de Janeiro, na frente da população. Notabilizou-se pela frase “Maria vai com as outras”.

Que Temer também vá com os seus. Mas antes deixem o Brasil.

4 de jun. de 2016

IMPÁVIDO GIGANTE

Muhammad Ali, Box, Pugilismo, Ali
Robe usado por Muhammad Ali em 1974
Foto: Public.Resource.org, Domínio público,  tirada em 03/11/2004

Após 62 lutas, 57 vitórias – 37 por nocaute – e 5 derrotas nos ringues, ex-boxeador e maior peso pesado da história do pugilismo, Muhammad Ali morreu ontem (03/06), aos 74 anos, nos Estados Unidos, em decorrência de uma infecção generalizada.

Depois de duelar por 32 anos contra o Mal de Parkinson, Ali deixou a vida para entrar definitivamente no hall da história como The Greatest.

Campeão dentro e fora dos ringues, Muhammad Ali nasceu Classius Marcellus Clay Jr. em um sábado de inverno em Lousisville, cidade mais populosa do estado norte-americano de Kentucky.

Descendente de escravos, Ali descobriu aos 12 anos de idade, ao ter sua bicicleta furtada, que não aceitar ser derrotado seria a maior vitória que poderia obter em vida.

Ao longo de sua trajetória como boxer, Ali marcou a história da humanidade como símbolo de resistência ao recusar combater na Guerra do Vietnã, tornando-se ícone do esporte e cidadão do mundo.


Muhammad Ali, The Greatest
Foto: Reprodução

Crente de que o impossível é apenas uma grande palavra usada por gente fraca, que prefere viver no mundo como ele está, ao invés de usar o poder que tem para muda-lo, melhorá-lo, e de que o impossível não existe, que não é um fato, mas uma opinião, Ali foi defensor perpétuo de causas humanitárias.

Viveu, sofreu, combateu o bom combate e sobreviveu por suas convicções.

Era duro e implacável quando se tratava de submissão, racismo e intolerância. Seus golpes rápidos e precisos atingiam em cheio o preconceito, a alienação e o segregacionismo soberbo dos que detinham o poder político e econômico.

Fora dos ringues, suas atitudes eram certeiras; suas palavras, diretas e cortantes, como espada de dois gumes.

“Aquele que vê o mundo aos 50 anos da mesma forma que o via aos 20 anos, desperdiçou 30 anos de sua vida”. “Campeões não são feitos em academias. Campeões são feitos de algo que eles têm dentro de si – um desejo, um sonho, uma visão”, costumava dizer.

Com a certeza de que a força de vontade deve ser mais intensa do que a habilidade, Muhammad Ali não recuava. Mesmo odiando cada minuto dos treinos, dizia para si mesmo: não desista. Sofra agora e viva o resto de sua vida como um vencedor.

Visionário que concretizou seus sonhos, Ali assumiu riscos. Viveu e morreu como campeão. 

Ele, suas lutas e suas lições ficarão para sempre.

RIP, Muhammad Ali!

2 de jun. de 2016

GOL CONTRA

Temer; Golpe; Brasil; Impeachment; Economia; Reajuste dos Servidores; Política; Congresso Nacional; Senado
Foto: Lula Marques/Agência PT (01/06/2016) Fotos Públicas

O presidente provisório Michel Temer, como já se viu, é um mal administrador, mas vem se superando a cada dia. Ao avalizar ontem (02/06) a aprovação do reajuste federal e do Judiciário, Temer deu um gás na sua má performance e confirmou ser também um péssimo jogador: marcou mais um gol contra o Brasil.

O interino da república voltou a se contradizer rasgando seu discurso reformista e descarrilando o trem conduzido por Henrique Meireles que assumiu o Ministério da Fazenda sob a promessa de que recolocaria a economia nos trilhos.

Valor total da travessura? Entre R$ 58 e R$ 100 bilhões nos próximos quatro anos. O teto de reajuste para o funcionalismo passou para R$ 39.293,00.

Michel não tá nem ai pro Brasil. Daqui há quatro anos estará no esquecimento mesmo. Boi sonso é o que arromba o curral, já dizia a vovó.

Para o país, as consequências serão temerescas. Outra vez quem vai pagar o pato não é a Fiesp, mas o povo. Principalmente os mais pobres.

Enquanto os deputados e os senadores - reféns da Lava Jato e rendidos aos caprichos do interino que quer se tornar definitivo - abençoam as maldades econômicas de Michel, o corporativismo deita e rola. 

Isso porque a reforma da previdência e as mudanças no reajuste do salário mínimo ainda nem entraram verdadeiramente na ordem do dia.

O realismo fantástico de Temer e de seu governo provisório subvertem a realidade fiscal do país. Reforma tributária e política para valer nem pensar. Fora de cogitação.

A cara de pau dos congressistas é tanta que os irresponsáveis aprovaram o rombo nas contas do país no mesmo dia em que a imprensa fez alardes sobre o recuo do Produto Interno Bruto.

Inconsequentes! 

Juntam-se as comadres, revelam-se as verdades.

Deixa estar, seus bola fora!

Quem dá as costas para o povo nada mais verá do que a própria sombra. 

31 de mai. de 2016

LEILOEIROS DO BRASIL

Corrupção; Lava Jato; Temer; Brasil; Congresso Nacional; Golpe; BLOG DO JOAQUIM
Foto: Pedro França/Agência Senado (24/03/2015) Fotos Públicas


A divulgação da lista de doações feitas por empresas e pessoas físicas a candidatos que hoje ocupam Ministérios importantes no governo provisório de Michel Temer é a mais pura demonstração de que o financiamento eleitoral privado permanece sendo a moeda de troca mais valorizada pela classe política e que continua a agir livremente no Brasil.

Segundo reportagem de Raphael Kapa, dez dos 23 ministros escolhidos por Temer receberam doações de pessoas jurídicas e físicas que têm interesse nas decisões que eles tomam em seus cargos públicos.

O levantamento foi feito pela Lupa, primeira agência de notícias do Brasil a checar, de forma sistemática e contínua, o grau de veracidade das informações que circula no país.

Os Ministérios dos quais seus comandantes foram agraciados com doações em dinheiro, além de serem estratégicos, também são responsáveis por decisões de interesse público, mas têm se firmado como os preferidos pela iniciativa privada e pelos assaltantes travestidos de altos executivos que agem em favor de si mesmos em nome do capitalismo selvagem.

Dez Ministérios foram institucionalizados como a porta de entrada de ações personalistas que beneficiam, entre outros, empresas já investigadas pela Operação Lava Jato e que têm tudo para continuarem a promover a corrupção sistemática e perversa em curso no Brasil.

Corrupção falsamente combatida pelos legalistas e por aqueles que tomaram de assalto o poder político do país.

O discurso falso moralista, anticorrupção e reformista do governo Temer, como se não fosse suficiente ser semanalmente contradito pelas quedas de ministros de “competência comprovada”, agora também é desmentido pela continuidade das velhas práticas clientelistas e personalistas aplicadas em forma de assalto por empresas ditas e consideradas idôneas, mas que há muito tempo não estão mais acima de qualquer suspeita.

Não bastasse o Congresso Nacional ser um território ocupado por lobistas profissionais disfarçados de políticos, os Ministérios tornaram-se uma extensão do loteamento que é a política nacional, financiada pela iniciativa privada, sempre pronta para leiloar o Brasil.

Enquanto isso o país continua travado à espera de que o governo interino saia da clandestinidade e assuma o motivo para o qual verdadeiramente veio: rifar o Brasil. 


23 de mai. de 2016

DELAÇÃO AZARADA

Braço forte de Temer, Romero Jucá é desmascarado em áudio comprometedor que envolve STF, Aécio Neves e Renan Calheiros e revela os reais motivos do Impeachment de Dilma Rousseff

Romero Jucá; Lava Jato; Corrupção; Golpe; Temer
Romero Jucá foi pego em conversas reveladoras sobre Lava Jato e Impeachment
Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil

A ficha corrida do senador e ministro licenciado do governo interino de Michel Temer, Romero Jucá, ficou um pouco mais suja na manhã de hoje (23) depois que o jornal Folha de S. Paulo divulgou reportagem e trechos de conversas entre ele o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado.

Ao falar abertamente sobre diversos assuntos e jogar no ventilador o lixo, até então escondido debaixo dos tapetes palacianos, e que levou ao afastamento interino de Dilma Rousseff, Jucá deixou um rastro de sujeira e falcatruas que vai dar diretamente no senador Aécio Neves, de quem disse “conhecer o esquema”.

O principal homem de Temer também envolveu o STF e os militares nos diálogos e lambuzou de vez a já manchada e manjada imagem do governo provisório de Michel Temer.

Jucá, que é a temeridade em pessoa e que já passou pelo PT e PSDB, agora notabiliza-se também como a cara e um dos caras do golpe.

Ao ser pego na gravação reveladora, Romero Jucá escancarou os pontos mal suturados pelos defensores vorazes do processo de impedimento de Dilma e, ao tentar estancar “a sangria que a Lava Jato se tornou”, provocou a primeira grande hemorragia do governo combalido de Temer.

Apontado com bom articulador, Jucá revelou-se um grande borra botas.

Muitas perguntas sugeridas pela conversa entreguista entre Jucá e seu comparsa de improbidades acabaram suscitando questionamentos e levantando dúvidas sobre a atuação de outros atores envolvidos na muvuca que se tornou política brasileira e exigem respostas.

Para quem achava que os articuladores do impedimento já tinham descido o bastante, a gravação divulgada hoje mostrou que o buraco é mais embaixo e ainda pode abrigar outros cadáveres políticos além de Eduardo Cunha, dado como morto por Jucá.

O fedor exalado pela podridão do governo do presidente interino Michel Temer evidencia o despreparo dele, a falta de caráter e incompetência de seus aliados em devolver a governabilidade ao país e em restabelecer a prometida e demagógica Ordem e Progresso.

Ao que parece, Romero Jucá, assim tal e qual a árvore de onde se origina o seu nome e que ao amadurecer produz um fruto escuro e chocalhante porque as sementes soltam no seu interior, parece ter apodrecido antes do tempo e minado um pouco mais a confiança no governo temporário de Michel Temer.

19 de mai. de 2016

GUINADA À DIREITA


Temer golpista; Golpe; Temer; Brasil; Corrupção; Lava Jato
Foto: Reprodução


Desde que aterrissou em Brasília há uma semana, o governo interino de Michel Temer já deu amostras suficientes do jogo que pretende jogar, embora ainda não tenha conseguido decolar de vez. 

O avião Temer, vendido como jato supersônico, na verdade está mais para teco-teco.

O presidente interino está perdido em meio aos desejos e artimanhas daqueles que escolheu para lhe ajudar a “restabelecer a ordem e promover o progresso”, lema de sua administração.

Temer ainda se comporta como quem tem dúvidas se veio realmente para ficar. Está vivendo seu day after de forma malsucedida e repleto de recusas. Só para o cargo de secretário da Cultura recebeu cinco.

Sequer consegue ser o mais do mesmo, como disseram que seria.

A propósito, que equipe idônea e notável é essa a do presidente provisório! Além de citados na Lava Jato, também há aqueles que respondem à acusações diversas na justiça.

Um exemplo deles é o Senhor das Sombras, José Serra, alvo de processo de reparação de danos por improbidade administrativa, ou seja, por ação de deslealdade e desonestidade.

Sem falar em Romero Jucá, que responde a dois inquéritos, um deles, pasmem, por crime de responsabilidade por suposto desvio de verbas federais, e outro por falsidade ideológica.

E a imprensa chapa branca e hegemônica continua fazendo o povo acreditar que a corrupção acabou no Brasil. Plim plim pra você!

Temer faz jus ao título de presidente interino. Não age como mandatário de um país. É a própria interinidade em pessoa. Faz afirmações hoje para negá-las amanhã.

Sem falar que é constantemente posto em xeque por conta das declarações nada conciliadoras de seus subordinados. Tornou-se refém de suas escolhas seletivas e excludentes.

Aliás, o slogan de seu governo interino deveria ser Desordem e Retrocesso, já que anda dando para trás. O temido e promissor governo Temer é absolutamente insipido ou o que é pior, não ata, só desata.

Seus aliados, além de já terem promovido o atraso político, insistem em querer promover também o retrocesso econômico e social, revogando conquistas fundamentais com intervenções e possíveis mudanças devastadoras no SUS, suspensão de contratos do Fies, Prouni e Pronatec, extinção do Ministério da Cultura, e por aí vai.

As respostas que o presidente às avessas prometera dá ao mercado e à população continuam mudas, enquanto as vozes quem vêm das ruas, cada vez mais fortes e audíveis.

O próprio mercado ainda não está totalmente seguro e demonstra fé vacilante em relação às possíveis medidas econômicas de Henrique Meireles e companhia. Não demorará muito para os empresários constatarem que compraram um alazão e levaram um pangaré.

O mais preocupante é que esse governo mal começou, nem de fato nem de direito.

Pelo que tudo indica, o tempo vai continuar nublado na capital federal e as nuvens que cobrem o Brasil tão densas e carregadas que, mesmo que consiga decolar, o aviãozinho Temer corre o risco de perder de vez a rota do país ou de colidir em pleno voo em sua guinada à direita.

16 de mai. de 2016

INCOMPARÁVEL


Cauby Peixoto; MPB; Conceição;
Foto: Paulo Pinto/Fotos Públicas (15/05/2016)

Uma pneumonia calou ontem (15/05) para sempre a voz viva e marcante de Cauby Peixoto, ícone e mito musical brasileiro que emocionou gerações por mais de 66 anos, ao longo de 45 álbuns gravados.

Ídolo de um público fiel, Cauby também foi fiel aos seus fãs como se deve ser nos relacionamentos sinceros e duradouros. 

Por mais de seis décadas seus seguidores lotaram as casas de espetáculo onde Cauby se apresentava emocionando multidões de mulheres e homens.

Apesar do reconhecimento e da adoração apaixonada dos fãs, Cauby Peixoto não deixou o sucesso lhe subir à cabeça e manteve-se sempre próximo ao seu público, embora na vida intima fosse bastante reservado.

Filho caçula, Cauby tinha a música no sangue (o pai era professor de violão e mãe tocava violino) e a brasilidade Tupy-guarani no nome. Pertencia a uma família em que a maioria dos irmãos tinha nome indígena. Cauby é uma variação de Caiubi e significa Folhas azuis.

Fluminense de Niterói, há anos escolheu São Paulo como sua morada e foi devidamente aceito por ela. A partir de Sampa fortaleceu e expandiu sua bem sucedida carreira, chegando a lugares distantes do país.

Cauby possuía longevidade na vida e na arte. Do coro da igreja em Niterói aos palcos do mundo, sua voz também alcançou corações além-mar. 

Tentou carreira internacional cheia de idas e vindas e com relativo sucesso, usando como nomes artíticos Ron Coby e Coby Dijon, mas não atingiu o mesmo reconhecimento que conseguiu no Brasil.

Foto: Reprodução
A voz não era o único dom considerado inigualável (comparada somente com a de Frank Sinatra, um dos seus ídolos). Seu estilo e jeito de se vestir também eram sob medida, senão personalizados.

As roupas brilhosas e as perucas chamavam atenção, mas não tiravam o brilho daquele que tinha luz própria.

Fazia questão de ser educado e tratar, quem era ou não seu fã, sem rancor ou distinção, mesmo quando tinha sua orientação sexual posta em dúvida. 

Questionado se era ou não gay, nem confirmava nem negava, simplesmente continuava sendo quem era: Cauby.

A música era seu eterno amor, tanto que certa vez afirmou: “Prefiro cantar do que amar. Casei com a carreira. Sou autossuficiente e me basto”.

Músicas que eram aparentemente bregas ou de gosto duvidoso transformavam-se em canções românticas na interpretação de Cauby. 

Ele cantou do rock (foi o primeiro a gravar uma canção de Rock em português, em 1957) ao Samba-canção com propriedade, mas sempre sem abrir mão do bom gosto nem se render às batidas sensuais ou às letras meladas só para ficar em evidência.

Cauby não era apenas um cantor ou só mais um cantor. Era tradutor do amor e interprete dos corações. 

Sou voz límpida e tecnicamente bem colocada, juntamente com seu estilo incomparável, vão continuar a encantar muitos e permanecerão, como ele, para sempre inigualáveis.

RIP, Cauby! 

12 de mai. de 2016

NOVA VELHA HISTÓRIA


Golpe; Dilma; PT; Corrupção; Brasil; Lava Jato; Lula; Temer
Foto: Roberto Struckert/Instituto Lula (12/05/2016) Fotos Públicas

O afastamento da presidente Dilma Rousseff foi o passo mais ousado da oposição em direção à retomada do comando do país, mas não o último.

A condenação do Partido dos Trabalhadores ao ostracismo e ao exílio político deverá ser a cartada final ou a pá de cal que ainda falta aos opositores na luta pelo poder.

O impeachment fabricado por PSDB, DEM, Eduardo Cunha e demais correligionários e partidos aliados foi a demonstração mais clara da falta de respeito com a democracia e com a eleição direta para presidente do Brasil.

Se o voto antes era apenas uma escada para se chegar ao Palácio do Planalto e estava condicionado aos interesses mesquinhos da maioria dos políticos profissionais do nosso país, hoje foi rebaixado a instrumento figurativo.

Os agora governistas não estão nem aí para os mais de 51% dos votos que elegeram Dilma Rousseff, e seguem em frente na sanha de mudar o sistema político brasileiro em favor deles, de seus interesses e dos interesses das elites brasileiras.

A verdade é que os ardilosos não têm projeto político para país, mas projeto de poder.

A próxima investida é enfraquecer ainda mais o direito de escolha do povo, exercido através do voto, instaurando o parlamentarismo ou o poder do legislativo, concentrando-o na figura do Primeiro-Ministro e atribuindo às outras instâncias democráticas ações meramente decorativas.

No parlamentarismo, a Constituição muitas vezes é mera peça ornamentaria que pode ser alterada de acordo com os humores e as vontades do parlamento, vide Inglaterra, onde sequer há constituição escrita.

O golpe foi o primeiro passo para se eliminar a Constituição, ironicamente, considerando as atuais circunstâncias, chamada de Cidadã e promulgada por muitos que hoje fazem questão de aviltá-la.

A aprovação do afastamento de Dilma Rousseff foi uma condenação política e não um ato de respeito à Carta Magna que rege o país. 


Afastar a presidente porque não cumpriu o que prometeu é no mínimo contraditório quando a maioria dos políticos não passam de mentirosos graduados e contraventores descarados.

Se pedalada fiscal é crime de responsabilidade e justifica o impedimento, vamos derrubar também os 16 governadores que há anos cometem o mesmo "delito"? Duvido.

No país em que grande parte da população é teleguiada pelas informações viciadas da imprensa hegemônica que visa apenas o lucro, impeachment e crime de responsabilidade soam como palavrão nos ouvidos da galera. Expressões demagógicas na boca de oradores oportunistas.

Dois deles são a expressão máxima e representativa do fisiologismo e da democracia de fachada pregada pelos lobos do covil chamado Congresso Nacional: Gilberto Kassab e Marta Suplicy.

Kassab, poucos dias antes votação da admissibilidade do impeachment pela Câmara dos deputados, era ministro do mesmo governo que ajudou a derrubar em nome da pátria, da família, da propriedade, ética e do combate à corrupção. Hoje é ministro de Temer. Belo exemplo da meritocracia tucana.

Marta, até pouco tempo era defensora voraz de um partido que jurou fidelidade, mas que disse ter saído porque foi tomado pela corrupção. Esquece-se, entretanto, que o partido em que está atualmente possui políticos sob suspeita e investigados pela Lava Jato. 

O partido que a senhora está atualmente é tomado por que e por quem, nobre senadora? De certo, por pessoas justas e honestas como a nobre senadora.

Vocês envergonham a política, no sentido mais denotativo e mais amplo que ela possui. Não valem o voto que receberam. Falam demais por não ter nada a dizer.

O pior é que vossas excelências ainda ajoelham e rezam.

Cuidado, senhores! Como diz a canção de um antigo compositor baiano, a vida é real e de viés.

Enquanto Dilma sai do poder pela porta lateral, o PSDB, por enquanto, volta ao poder (ou o toma) pela porta dos fundos. 

Vossas senhorias podem até acreditar, mas a história não é uma lata de lixo. Ela saberá colocar cada um dos senhores em seu devido lugar.

4 de mai. de 2016

VIA CRUCIS


Dilma; Lula; Golpe; Temer: Lava Jato; Corrupção; Brasil; Política
Foto: Lula Marques/Agência PT (17/03/2016) Fotos Públicas

A decisão tomada ontem (03/05) pela Procuradoria Geral da República deixou o inferno astral da presidente Dilma Rousseff e o martírio do ex-presidente Lula longe de terem um final feliz. Na verdade, o calvário de Dilma e Lula só está começando. 

A via crucis deles e do PT passará pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e o tiro de misericórdia poderá ser dado em Curitiba pelas mãos do juiz Sergio Moro e pelos eleitores no pleito de 2016.

A retirada de Dilma do poder, ao que tudo indica, não é suficiente. É preciso inviabilizar também, se não politicamente, pelo menos jurídica e moralmente, a candidatura de Lula em 2018. 

A capacidade do ex-presidente de superar desafios e a facilidade em sair direta ou indiretamente vitorioso dos embates que campeia, sempre foi uma ameaça constante para os seus inimigos.

As justificativas do procurador-geral Rodrigo Janot para pedir a abertura de inquérito da dupla petista e do advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, por suspeita de obstrução da Lava Jato, foram recebidas como fortes e contundentes pela classe política, tanto que deixaram Lula deprimido e chateado, segundo informações da jornalista Mônica Bergamo.

Ao promover a abertura do inquérito Janot pôs na boca da oposição e nas mãos de alguns setores da imprensa os argumentos que queriam, queimando um pouco mais a imagem do ex-presidente e tornando remota a possibilidade dele entrar na disputa de 2018.

Se Lula demonstrava estar um tanto quanto fragilizado e seu futuro político incerto, sua provável candidatura fragmentou-se e deixou a imagem do PT mais pulverizada. 

Mas, antes mesmo do grande teste nas urnas em 2018, o partido terá de enfrentar sua primeira provação pública nas eleições de 2016.  Por enquanto, as perspectivas não estão tranquilas nem favoráveis. Baixas também já começaram a acontecer. 

Preocupados em não terem sua reputação atrelada à imagem de um partido que é acusado de profissionalizar a corrupção no Brasil, 11% dos prefeitos eleitos em 2012 abandonaram recentemente a legenda, segundo reportagem da Folha de S. Paulo.

Enquanto o destino dos líderes petistas estará nas mãos do Supremo Tribunal Federal, o futuro do partido dependerá mais do que nunca do voto dos eleitores. 

Entretanto, o atual horizonte eleitoral acinzentado em que o PT se encontra tende a tornar mais difícil a possibilidade do Partido dos Trabalhadores volta a voar em um céu de brigadeiro. 

Se na justiça divina as coisas acontecem no tempo determinado por Deus, na justiça brasileira as decisões políticas e judiciais acontecem no tempo determinado por Janot, Zavascki, Moro e companhia limitada. 

Se depender deles, o destino se confirmará implacável e a Fênix petista dificilmente ressurgirá tão cedo.