19 de mai. de 2017

ELEIÇÕES DIRETAS JÁ!

DIRETAS JÁ, CRISE POLÍTICA, TEMER, CONSTITUIÇÃO, BRASIL, POVO BRASILEIRO, GOLPE, CONTRAGOLPE, JBS, MERCADO.
Eleições Diretas: O Brasil de volta para os brasileiros
Foto: Paulo Pinto/AGPT - Fotos Públicas 29/05/2017



O dia seguinte de Michel Temer, após as supostas denúncias de conivência com a compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha e com as ações ilícitas praticadas e sugeridas pelo executivo da JBS, deixou o presidente do país em suspensão e lançou a sorte do Brasil em um mar revolto de incertezas.

O clima de complô, conspiração, tentativa de golpe, acusações, faz que vai, mas não vai, daqui não saio, daqui ninguém me tira, só aprofunda a situação de instabilidade política, deflagra guerra entre os três poderes, deixa a população à deriva.

O resultado da soma das denúncias que, no mínimo, comprometem seriamente Michel Temer e reafirmam a relação promíscua entre o público e o privado, multiplica o ódio, diminui as chances de retomada de crescimento, divide o país. É uma conta que não fecha.

Sabemos que, na visão torta dos maus políticos brasileiros e na concepção desumana do capitalismo de compadres praticado largamente no Brasil, o povo é um mero detalhe.

Porém, o mínimo de respeito e decência, por mais que a população não signifique muito, ainda se fazem necessários, até mesmo porque, ainda, é o voto dessa massa que é vista como insignificante que elege esse bando de inconseqüentes.

A saída de Michel Temer do comando do país, seja por impeachment, cassação de chapa ou renúncia é certo que não vai mudar muito a forma como economia é conduzida e o modo como as reformas estão sendo impostas, mas é inevitável.

Qualquer um que venha substituir Temer por meio de uma das três possibilidades que se apresentam terá que, obrigatoriamente, dar continuidade à agenda política e econômica do atual presidente.

A maneira como uma provável substituição de Temer está sendo tratada faz com que a troca de presidente não dependa da decisão popular. É um pressuposto estabelecido por quem condicionou a chegada Temer ao poder: o mercado.

Se Temer sair, cair ou for derrubado, e a escolha de seu sucessor acontecer por via indireta, será novamente o mercado quem vai determinar quem deve ser o presidente tampão. Basta ver a lista de nomes que estão se cogitados.

As propostas de reforma trabalhista e da Previdência do governo atual estão sendo claramente ditadas pelo mercado.

Isso só ocorre porque não foi o povo, por livre e espontânea vontade expressada através do voto, quem colocou o atual presidente no comando do país. Foram os interesses financeiros.

Somente eleições gerais e o voto popular, processos legitimamente democráticos, podem devolver a paz e a serenidade ao país e condicionar as decisões políticas e econômicas que o novo presidente irá tomar às necessidades e à vontade do povo.

Caso isso não ocorra, um provável presidente eleito pelo Congresso também terá que se submeter incondicionalmente às mesmas vontades do capitalismo de amigos praticado ininterruptamente no país, tornando-se refém das exigências do mercado e de um sistema decadente.

Eleição direta, mas do que nunca no Brasil, significa devolver ao brasileiro o direito que ele sempre teve e que, em hipótese alguma, lhe deve ser negado: o poder de decidir o que é melhor para ele e para o país.

Por mais que se concorde ou se discorde que o brasileiro ultimamente fez escolhas erradas através do voto, a decisão soberana e a responsabilidade pelas escolhas que ele fez, ou que venha a fazer, deve ser inevitável e exclusivamente dele. Sempre.

Enquanto o poder emanar do mercado e em nome dos interesses deles for exercido, dificilmente teremos justiça social, igualdade de direitos e respeito integral no Brasil.

Portanto, a solução para atual crise política do país é rápida, fácil e sem dor: basta que se cumpra a Constituição quando ela diz claramente que todo poder emana do povo e em seu nome deve ser exercido. 

Simples assim.

18 de mai. de 2017

GOTA D'ÁGUA

BRASIL, DEMOCRACIA, DIRETAS JÁ!, TEMER, DISSIMULAÇÃO, CRISE, CONTRAGOLPE, GOLPE, VOLTAIRE, ABRAHAM LINCOLN, LAVA JATO, POLÍTICA, AÉCIO NEVES
É a gota d'água. Chegamos no limite. Não dá mais para segurar
Foto: Pixabay Public Domain

Quando o filósofo francês Voltaire escreveu que a dissimulação é virtude de reis e de camareiras, cometeu uma injustiça. Ele esqueceu de incluir outras duas categorias em seu raciocínio: os políticos e os governantes.

Abraham Lincoln quando tocou no assunto preferiu ser assertivo, invés de irônico.

Lincoln foi além, ao afirmar que alguém pode enganar uma pessoa por muito tempo; algumas por algum tempo; mas não pode enganar todas por todo o tempo.

Michel Temer  e Aécio Neves, por sua vez, podem ter optado por confirmar as máximas, colocando-as em prática:dissimularam até quando puderam. Ou até quando deixaram.

Surpresa apenas para os que foram enganados - ou aceitaram ser; Confirmação do óbvio para quem verdadeiramente conhece Temer e Aécio.  

De uma forma ou de outra, o fato é que ontem a máscara de homem público íntegro, corajoso e competente que Temer usava - antes mesmo de ser nomeado presidente promovido - pode ter sido arrancada a contragolpe, para o bem ou para o mal do Brasil.

Escândalo, para os que sempre fizeram questão de não enxergar quem ele realmente é; O pior do mesmo para os que não pouparam esforços em escancarar o risco que a nomeação de Temer como presidente representaria para a segurança do Brasil.

Diante do caos instaurado, uma coisa não se pode negar: todos - tanto os que têm ouvidos, mas se fizeram de surdos, quanto os que têm olhos e acertadamente enxergaram além - fomos exaustivamente alertados para o perigo do impeachment e suas conseqüências desastrosas.

Apostou que o impeachment era a negação da democracia quem teve bom senso, desacreditou na aposta quem não teve juízo. Deu no que deu.

Contudo, em meio à indefinição em que nos encontramos, nos metemos - ou nos meteram - uma coisa é certa: nunca tivemos em toda nossa história junto, e ao mesmo tempo, a oportunidade mais propícia para reconstruirmos o Brasil e o momento mais favorável para o jogarmos ladeira abaixo.

A gravidade da situação, entretanto, exige coragem, atitude, sinceridade, consciência e, sobretudo, serenidade, afinal de contas, tal e qual ladrão que espera a hora certa para atacar, os velhos e novos dissimulados continuam a agir e não perdem um segundo sequer de tempo.

Eles já estão à espreita armados para nos assaltar com suas falsas promessas, seus desmentidos oficiais, suas soluções infladas de ego e seus discursos infalivelmente prontos.

A confirmação está nos vídeos postados pelos ministros de Temer e a postura vacilante de alguns veículos de comunicação em reconhecer o óbvio e admitir que não dá mais.

A questão já não é mais onde tudo isso vai dar, mas no que deixaremos que dê.

Não temos mais que esperar a hora, temos que fazer acontecer.

Para tanto é imprescindível não se deixar iludir pelos velhos e pelos novos dissimulados, eles continuam a fazer escola.

O momento exige que se tome as ruas e se resgate a democracia que foi roubada. Só assim saberemos se conduziremos ou se continuaremos sendo conduzidos.

Basta!

11 de mai. de 2017

1x1


LULA, MORO, LAVA JATO, 1X1, DEPOIMENTO DE LULA, TRIPLEX, ARENA CURITIBA, FLA-FLU


Nem quente nem fria, absolutamente morna. Foi assim a tão esperada disputa do ano entre o ex-presidente Lula e o juiz Sérgio Moro, realizada ontem em Curitiba.

Lula não disse nada mais do que já tem dito e Moro não perguntou nada além do que já se sabe. 

Meras formalidades sem contrapartidas muito positivas ou negativas para ambos os lados, porém com conseqüências, no médio prazo, boas e ruins tanto para um quanto para o outro.

Todavia, a verdadeira condenação ou absolvição de Lula e de Moro poderá vir muito mais pela força dos que apóiam e condenam cada um dos lados do que necessariamente pela excelência política do experiente ex-presidente ou pela competência jurídica controversa do jovem juiz.

Ao final de cinco horas – que poderiam ter durado muito menos – tanto Lula quanto Moro jogaram pelo empate e a partida acabou em 1x1. 

Fora da Arena Curitiba, os torcedores de ambos os lados também evitaram o embate frontal violento. 

Tanto a arquibancada quanto a cadeira cativa se comportaram com civilidade. Ponto positivo para a democracia.

Apesar de tudo, a bola continuará rolando. Lula seguirá reafirmando que é inocente enquanto que Sérgio Moro permanecerá tentando convencer a todos do contrário, até que apareçam provas que desempatem o jogo e e finalmente determinem qual será o vencedor.

Entretanto, ao julgar pela disputa de ontem e pelo desempenho de cada um dos jogadores, se depender dos dois lados, o resultado final poderá vir por pontos corridos e não mais pelo confronto direto no melhor estilo Fla-Flu. 


9 de mai. de 2017

LUZ, CÂMERA, AÇÃO!

Michel Temer, Reforma da Previdência, Temer, Vale Tudo, Mídia, Globo, Record, Band, SBT, Rede TV!, Luz, Câmera, Ação!
Luz, Câmera, Ação! Tudo pronto para Temer tentar aprovar suas reformas a todo custo
Foto: Pixabay Public Domain



Michel Temer está lutando com todas as forças e tentando de todas as formas garantir a aprovação de sua reforma desigual da Previdência. 

A insistência já não é mais política ou uma necessidade imprescindível para o país, mas questão de honra.

Temer precisa honrar os compromissos que assumiu com o capital financeiro que o fez chegar onde está e, para tanto, está pedindo a benção de Deus e do Diabo, como se fosse possível servir a dois senhores em paz.

Apesar do apoio de setores da mídia – ou dos que aceitaram defender as reformas em troca do aumento da quota de propaganda governamental – outros expedientes ilegítimos, alguns baseados em argumentos inconsistentes desmentidos e contraditos pelas leis do mercado, também não deixam de ser utilizados e vão desde ameaças declaradas à velha e já manjada redistribuição de cargos e benesses.

Porém, o que chama mais atenção, como moeda de troca pelo possível aumento da verba publicitária destinada aos veículos apoiadores do governo, é a alta exposição midiática do presidente nomeado.

Para aprovar as reformas do jeito que estão postas e empurrá-las goela abaixo defendendo o indefensável, Temer está se valendo do vale tudo, desde apelar para a sensibilização forçada até aparecer no Programa do Ratinho.

Para lograr êxito em sua determinação arrogante, não vai demorar muito e logo Temer também estará no Rala e Rola e Casos de Família, do SBT; Master Chef e Terceiro Tempo, da Band; Dr. Hollywood, da Rede TV!; Videocassetadas, Arquivo Confidencial e Malhação, da Globo e, para fechar com chave de ouro, Fala que eu te escuto, da Record.

Na tentativa desesperada de aprovar sua reforma excludente, custe o que custar, e ficar bem na foto melhorando, a qualquer preço, sua imagem com a população, Temer corre o risco de, além de ser derrotado, queimar o filme de quem aceitar posar ao seu lado.

Ainda tem quem aceita e acredita.

Alguém se habilita?

1 de mai. de 2017

CASTELOS DE AREIA

LULA, ELEIÇÕES 2018, PESQUISAS, PSDB, TEMER, REFORMAS, TORRE DE BABEL, CASTELOS DE AREIA, TEMER, PT, IPSOS, DATAFOLHA, LULA DA SILVA, FACHIN, LISTA DE FACHIN
Impeachment, reformas trabalhista e previdenciária, santidade disfarçada:
 castelos de areia que aos poucos vão sendo desfeitos
Foto: Pixabay Public Domain
As pesquisas divulgadas recentemente pelos institutos Ipsos e DataFolha  sobre as preferências da população  em relação as possíveis candidaturas à Presidência da República em 2018 voltaram a confirmar o crescimento de Lula na disputa eleitoral do ano que vem.

Entretanto, ao contrário do que destacou a mídia em geral, o que mais chama a atenção nas estatísticas não é a capacidade de resistência de Lula e seu favoritismo como candidato permanente do PT, mas a falta de articulação e a queda constante nas pesquisas daqueles que poderão ser os prováveis adversários do ex-presidente na disputa.

Enquanto Lula fortalece sua ascendência, os vários candidatos que podem polarizar a briga pela Presidência do Brasil continuam sua trajetória de rejeição crescente. 

Poucos deles isoladamente chegam a obter mais de 10% da preferência da população, ficando atrás de até mesmo de Jair Bolsonaro, personagem político que não ocupa cargo de destaque nem sequer é conhecido em muitos rincões do país.

Os inimigos e concorrentes de Lula da Silva teimam em habitar uma Babel política. Falam línguas diferentes, não conseguem se entender nem se consolidar.

Contrariando o que se supunha ou o que era esperado, nem o impeachment de Dilma Rousseff nem a famigerada Lista de Fachin surtiram o efeito desejado em relação ao ex-presidente. Pelo contrário, o feitiço tem virado contra o feiticeiro. 

Os opositores do petista, aparentemente, estão sendo obrigados a se convencer que remédio que cura também pode matar. 

Temer e seus aliados estão tendo que suar a camisa para se soltarem das armadilhas que criaram.

É aí que Lula tem levado vantagem e está tirando proveito, apesar do ex-presidente também não ser uma unanimidade. 

Contundo, Lula da Silva é o preferido da maioria dos eleitores não pelos olhos azuis, que não possui, mas, ao contrário de Temer, pelo fato de ter conseguido implementar ações que comprovadamente beneficiaram a maioria da população, mesmo tendo seu presente político manchado de denúncias e deslizes.

Por outro lado, Lula também continua crescendo na preferência dos eleitores porque está sendo beneficiado tanto pelas circunstâncias do momento quanto pela falta de articulação de seus adversários.

Em relação às circunstâncias, pela Lista de Fachin. Ela ajudou Lula na medida em que desmentiu a história que foram os petistas quem inventaram corrupção no Brasil, juntamente com o ex-presidente.

A Lista de Fachin comprovou que todos os citados pelos delatores da Odebrecht estão no mesmo nível. 

Colocou partidos de bases ideológicas diferentes - mas com interesses materiais idênticos - no mesmo patamar, igualando-os em sujeira, tal e qual recém-nascido de suíno quanto pisa pela primeira vez em chiqueiro.

Os denunciados por Fachin confirmaram, por si sós e por suas ações espúrias que, se não é uma senhora idosa e não poupa ninguém, a corrupção está agindo há pelo menos 30 anos no país. 

Na verdade, Dona Corrupção está mais para uma pessoa altiva, ativa, ávida, esperta, de olhos e ouvidos abertos, mas que continua sendo seduzida pelos políticos e fazendo história no Brasil.

Em segundo lugar, Lula está sendo favorecido, além da falta de sintonia de seus adversários, também  por uma série de estratégias erradas dos seus opositores e pela insistência cega deles, e de Michel Temer, em nadarem contra a corrente.

Enquanto o governo Temer e seus aliados continuarem a dar braçadas na direção contrária aos interesses do povo, em algum momento irão se cansar. 

Inevitavelmente permanecerão favorecendo Lula e continuarão reforçando a imagem do petista como bom presidente e mantendo viva na memória do povo as ações favoráveis que ele realizou quando esteve no poder. 

Se permanecerem nadando contra a vontade popular, os adversários de Lula fatalmente morrerão na praia, sendo o ex-presidente candidato ou não.

Mais de 70% dos brasileiros são contra as reforma, revelaram as pesquisas Ipsos e DataFolha. Isso é um recado claro.

A população está dizendo que querer aprovar a todo custo e a toque de caixa reformas impopulares e desagregadoras é, no mínimo, falta de inteligência e atestado de inabilidade política. 

Apesar da forte desaprovação, a maioria dos brasileiros rejeita as reformas não porque elas são desnecessárias – precisam realmente serem feitas, até certo ponto - mas porque segregam, diminuem, aumentam a desigualdade, retiram direitos coletivos e conquistas sociais. 

Do jeito que estão sendo propostas, as reformas prejudicam a maioria, independente das pessoas estarem à direita ou à esquerda.

Por outro lado, os cidadãos que apoiaram o impeachment estão se sentindo traídos pelos políticos que se disseram contrários à corrupção e, vendendo-se como santos, provaram que no fundo não passam de impuros, tanto quanto aqueles que acusaram. Sequer eles cumpriram a mínima promessa de melhorar o país em poucos meses.

Em relação à situação política do Brasil, enquanto um cego continuar guiando outro cego, ambos cairão na cova de seu castelo de areia e seguirão sendo rejeitados nas estatísticas eleitorais, embora as pesquisas, em geral, representem apenas uma fotografia - muitas vezes em branco e preto - de um momento específico, ou indiquem uma tendência - que pode ou não se confirmar.

Contudo, quanto mais ruim para os opositores do ex-presidente e pior para a população, melhor para Lula que, tal e qual Madeira que cupim não rói,  até agora, enverga e não quebra, balança, mas não cai.

30 de abr. de 2017

INTENSO E ENIGMÁTICO

BELCHIOR, MORRE BELCHIOR, APENAS UM RAPAZ LATINO AMERICANO, DISCO ALUCINAÇÃO, SOBRAL, CEARÁ.
Artista de criatividade intensa, Belchior morreu aos 70 anos
Foto: Divulgação

De nome comprido e talento de primeira grandeza, o cantor e compositor Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes, o Belchior, morreu hoje (30), aos 70 anos, aparentemente de causas naturais, em Santa Cruz do Sul (RS).

Belchior era o décimo terceiro filho de uma família de 23 irmãos (13 mulheres e 10 homens). A paixão espontânea pela música desabrochou cedo no garoto de Sobral, cidade do interior do Ceará.

O dom, que mais tarde seria reconhecido como criatividade à flor da pele, foi influenciado e amparado pelo talento amador do avô que tocava instrumentos musicais, da mãe que era corista de igreja e de alguns tios, seresteiros e tocadores de violão.

Em 1971, depois de quatro anos cursando medicina, Belchior decidiu transformar todo seu talento artístico e seu conhecimento sobre filosofia, política, religião, ciência, em música de alta qualidade.

Com “A hora do almoço” venceu o Festival Universitário da Canção, em 1971. Em 1972, abandou o curso de medicina da Universidade Federal do Ceará para definitivamente trilhar os caminhos sem volta da música

Belchior considerava sua música contemporânea, nordestina e autobiografica, em determinado nível. Costumava afirmar que procurava com suas letras e canções apresentar uma vertente verbal e visual nova

O aspecto visual do concretismo em suas composições iniciais logo foi adotado, assumido, apoiado, vinculado e misturado à tradição da música nordestina e cearense, em particular.

Artista de grande talento e reconhecimento nacional, Belchior sempre buscou em seu trabalho misturar a novidade com a tradição. Conseguiu, como poucos, fazê-lo com sucesso e propriedade

Cantor e compositor que quase se tornou padre, Belchior, quando criança, tinha o hábito de fugir de casa. A partir de 2007, começou a sair de cena

Em 2008, Belchior resolveu se auto-exilar e fugir definitivamente do campo de visão do cotidiano, do alcance da fama e do sucesso, ao ponto de não comparecer ao sepultamento da mãe.

De comportamento intenso e ao mesmo tempo enigmático, Belchior transformou-se em uma esfinge: todos queriam decifrá-lo, mas ao mesmo tempo tinham respeito por sua decisão e pessoa, talvez por medo de serem devorados por ele.

Autocrítico bem-sucedido de sua geração, Belchior buscou insistentemente o novo, o momento presente da música popular brasileira.

Mesmo ausente do show business por uma decisão consciente, ele sempre foi uma presença marcante na MPB através da suas letras, canções e da história que construiu.

Apesar de sua reclusão determinada e de seu silêncio decidido, Belchior, o rebelde cearense e enigmático rapaz latino-americano, continuará presente no mundo através da intensidade de suas letras, da sonoridade marcante de suas músicas e da força perene e atemporal de suas canções.

RIP, Belchior!

BELCHIOR POR BELCHIOR

“O meu trabalho pretende, gostaria de ser, um objeto poético transformador. Que tende para os interesses da história do homem. Um objeto útil, enfim. Uma arte que sirva, que não seja ornamental. Uma arma na mão do homem para a conquista de si mesmo, do universo e dos espaços esquecidos. Tudo isso, claro, aparece como um universo, novo, jovem e cujo conhecimento só pode ser expresso em palavras novas. É uma utopia paradisíaca, de transformação pelo que é primitivo no homem” (Sobre si mesmo e seu trabalho. Em entrevista à Rádio Universitária FM)

“Essa música fala de uma pessoa do terceiro mundo na esquina do mundo. Na expectativa, dependente do resto do mundo, mas com uma capacidade tremenda de desdobramento, de resistência, de rebeldia de espírito, de novidade, de transformação, de poder novo, enfim. Assume de fato sermos latino-americanos sendo brasileiros, cearenses, e justamente participantes da fraternidade latino-americana. Fala de “desinsular” a cultura, de fazer com que a cultura seja penetrante, troque energias com todos os espaços. Mas, também é uma música irônica, satírica, de humor branco, negro, amarelo e vermelho sobre a situação das pessoas da Latina América”. (Sobre a canção Apenas um rapaz latino-americano. Em entrevista à Rádio Universitária FM)

“O humor cearense está sempre presente na minha música. É uma ironia característica da nossa cultura, mas que também contém uma certa graça. Não quero dizer que minha música contenha naturalmente um humor explícito ou que eu faça uma música satírica do ponto de vista convencional. Todos esses dados aparecem diluídos no meu trabalho de um modo muito fino e sutil, o que aumenta cada vez mais o teor e a carga de ironia. (Sobre o tom humorado de suas letras e canções. Em entrevista à Rádio Universitária FM).

“Foi uma música que estava pronta há mais de um ano esperando a gravação de um artista competente. Foi a que mais marcou a minha vida de artista e cidadão naquele momento. Foi a música que mais simbolizou o movimento espiritual, todo o momento da juventude brasileira naquela circunstância e que também teve a sorte e a felicidade de ser interpretada por Elis, acrescentando ao material por si mesmo rico e complexo, o poder de sugestão da voz de Elis, o poder de invenção da voz de Elis. (Sobre “Como os nossos pais”. Em entrevista à Rádio Universitária FM).

“O meu trabalho tem uma continuidade, no sentido de que a cada disco eu vou tentando completar aquilo que está cantado anteriormente. Naturalmente que tudo isso está acrescido de comportamentos criativos novos, da tentativa de descobrir novas formas de cantar, de dizer,de pensar o ato de fazer música e de apresentar essa nordestinidade nova, de uma “cearensidade” aberta para o mundo. O meu trabalho vem tentado tudo isso de um modo muito amplo, no sentido de abrir uma perspectiva para o mundo todo mesmo, de tal forma que meu trabalho possa ser ouvido e interpretado como um trabalho de plena contemporaneidade”. (Sobre o significado de seu trabalho. Em entrevista à Rádio Universitária FM.).

“O tema básico de minha música é o espírito de minha geração, a vida cotidiana do cidadão comum. É uma tentativa de retratar de um modo bastante característico, individual, pessoal, a vida do homem brasileiro do meu tempo, de tal forma que a fonte de expressão continua sendo a observação direta e imediata da vida mesmo”. (Sobre sua fonte de inspiração. Em entrevista a Josué Mariano.).

“É mais o critério da criatividade, do meu esforço criativo, o momento de liberdade de criação e de expressão. Como não faço um trabalho voltado imediatamente para o sucesso, ou o sucesso imediatista, eu uso como critério para escolha das canções ou para a própria feitura delas, o critério mais artístico, mais expressional e mais poético, desligado do rádio, da televisão e de se a música vai fazer sucesso ou não. Me preocupo realmente com o exercício do meu ofício de artista e de cantor. Se a música fizer sucesso, vem por acréscimo”.  (Sobre o critério que usa para compor suas canções. Em entrevista a Josué Mariano).

“Sou um operário da minha música e estou ligado ao meu trabalho diariamente. (...) Gosto muito do exercício do meu ofício porque ele combina o prazer com o fazer e a criação com o exercício contínuo da vida comum. Tenho uma visão artística ligada mais com o fazer, com o trabalho, do que com uma visão mais brilhante, que me parece mais tola”. (Sobre o seu ofício. Em entrevista a Josué Mariano). 

“Eu gostaria de ter uma mensagem muito concreta, muito direta, que pudesse salvar as pessoas, encaminhá-las, mas eu não tenho essa mensagem sequer para mim, de tal forma que eu acho que não devem me seguir porque eu também estou perdido. Cada um deve fazer ou encontrar seu caminho. Sobretudo, não façam como meu, inventem. Ou melhor, façam como eu: inventem!”. (Sobre qual mensagem deixaria para os fãs. Em entrevista a Josué Mariano).



27 de abr. de 2017

DESCOMPASSOS

Reforma trabalhista, perda de direitos, sindicalistas, oposição, reforma da Previdência, centrais sindicais, movimentos populares, Temer, fora Temer, base aliada.
Combate às reformas deve ter a mesma intensidade e interesse
Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil (15/03/2017)

A Câmara dos Deputados abriu ontem (26) o caminho para que as perdas de direitos e garantias trabalhistas sejam colocadas em prática. A vitória foi parcial, já que a medida ainda precisa ser aprovada no Senado.

O placar final – foram 296 votos a favor e 177 contra – confirma que o governo está conseguindo aprovar suas medidas disfarçadas de modernização mais aos trancos do que aos barrancos.

O resultado de ontem, ainda que aparentemente favorável a Michel Temer, também sinaliza que a aprovação da proposta de reforma da Previdência será mais difícil do que se imaginava a princípio.

Contudo, Temer e sua base de aliados insistem em seguir fortalecidos na contramão dos interesses da população muito mais por descompasso dos movimentos sociais e por falta de organização dos parlamentares oposicionistas.

Parlamentares da oposição, Centrais sindicais e movimentos organizados não estão sabendo aproveitar integralmente a onda de insatisfação geral da população, ao contrário do governo que, explorando as brechas deixadas pelos dois lados, está operando positivamente em favor de si.

Enquanto os oposicionistas se fixam em expressar suas posições contrárias mais intensamente dentro dos limites do Congresso Nacional, os movimentos sociais e sindicalistas investem toda a força e atenção mais na reforma da Previdência, como se as perdas que irão resultar da aprovação de uma fossem mais prejudiciais do que a da outra.

Ambas as reformas são um assalto a mão armada à população. Desfavorecem, diminuem, empobrecem, privam e exploram igualmente, logo, deveriam ser tratadas com a mesma intensidade e interesse.

Ao que tudo indica, a sugestão de acabar com a contribuição sindical obrigatória foi uma ameaça que surtiu efeito nos sindicalistas.

Parlamentares de oposição precisam fortalecer o seu discurso em uníssono com o da população, caso contrário o governo vai continuar falando mais alto, empurrando goela abaixo suas mazelas e saboreando o gosto de suas vitórias.

Os movimentos sociais, os oposicionistas e os sindicalistas têm que ficar mais espertos e saberem aproveitar o vácuo deixado pela situação, caso contrário, verão os vazios provocados por seus vacilos serem preenchidos favoravelmente pelo governo e correrão o risco de serem derrotados em embates futuros. 

Em se tratando de malandragem, qualquer vacilo pode ser fatal, afinal de contas, camarão que dorme na praia a onda leva.

24 de abr. de 2017

QUESTÃO DE VIDA E MORTE

SUICÍDIO ENTRE JOVENS E ADOLESCENTES, JOVENS, AUTOCÍDIO, MAPA DA VIOLÊNCIA, BBC BRASIL, SISTEMA DE MORTALIDADE, MINISTÉRIO DA SAÚDE, BULLYING, VIOLÊNCIA SEXUAL E DOMÉSTICA, ADOLESCENTES, FAIXA ETÁRIA DE 15 A 29 ANOS.
Número de suicídios entre jovens e adolescentes  brasileiros cresceu 27,2% nos últimos 34 anos
Foto: Pixabay Public Domain


“Baleia Azul, jogo que aportou no Brasil na semana passada e tomou conta dos noticiários causando temor e perplexidade em pais e filhos, chamou a atenção para um assunto que ainda é tratado com reservas e sem profundidade em todo o mundo: o suicídio entre jovens e adolescentes.

Para investigar a extensão do Baleia azul e o principal prejuízo que ele pode causar, a BBC Brasil divulgou com exclusividade reportagem com números do Mapa da Violência 2017 sobre suicídios entre jovens e adolescentes brasileiros.

O estudo, realizado a partir de um levantamento feito anualmente pelo Sistema de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, apontou dados preocupantes em relação à quantidade de suicídios na faixa etária adolescente e à forma como eles ainda são desconsiderados no país.

De 1980 a 2014, a quantidade de suicídios envolvendo jovens e adolescentes de 15 a 29 anos por 100 mil habitantes cresceu 27,2%  Em números reais isso equivale a 2.898 casos.

SUICÍDIO ENTRE JOVENS E ADOLESCENTES, JOVENS, AUTOCÍDIO, MAPA DA VIOLÊNCIA, BBC BRASIL, SISTEMA DE MORTALIDADE, MINISTÉRIO DA SAÚDE, BULLYING, VIOLÊNCIA SEXUAL E DOMÉSTICA, ADOLESCENTES, FAIXA ETÁRIA DE 15 A 29 ANOS.
Número de jovens e adolescentes que se matam no Brasil cresce ano após ano
Foto: Pixabay Public Domain

Na população geral, o índice de suicídios chegou aos 60%, nos últimos 34 anos.

Segundo o ranking de suicídios divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil ocupa a oitava colocação em números de autocídios no mundo.

A taxa de suicídios entre os jovens brasileiros está em 4,5, bem abaixo dos 25 por 100 mil habitantes na Rússia, mas é crescente a cada ano no Brasil,de acordo com dados da OMS.

Segundo especialistas ouvidos pela BBC Brasil, depressão, abuso de drogas e álcool, bullying, violências sexuais e domésticas são os fatores mais associados ao suicídio entre jovens e adolescentes.

A competitividade exagerada, a não aceitação das diferenças de gênero, preconceito com a orientação sexual, a cor da pele e peso, também foram listados pelos estudiosos como fatores potenciais que favorecem o autocídio.

O acompanhamento quanto ao uso da internet, não como um monitoramento controlador, mas como uma preocupação amorosa, não foi supervalorizado nem subestimado pelos estudiosos.

Em entrevista  à BBC Brasil a  professora da Universidade Estadual do Rio de JaneiroUerj - e psicóloga, Mariana Bteshe afirmou que “é preciso que a família, mantendo a privacidade do jovem, busque uma forma de contato com ele e abra um espaço de diálogo”.

Enxergar os jovens como eles são, entender e respeitar suas transformações naturais e seu relacionamento com o mundo, juntamente com a interação social diária, presencial e contínua ainda são atitudes que podem melhorar e permitir o bom convívio com a galera jovem, ressaltam psicólogos e pedagogos.

Amor, acompanhamento e empatia é a fórmula elementar para prevenir desvios e tentar evitar que os jovens e adolescentes tomem decisões drásticas ou optem por atalhos fatais como o suicídio.

Quando colocada em prática, essa tríade não impedirá que a estrada que os jovens e adolescentes irão percorrer seja repleta de percalços nem a caminhada desafiadora, porém, permitirá que ela também seja prazerosa, responsável, livresem culpa e com menor número de interrupções abruptas, como deve ser a vida

Simples assim.

22 de abr. de 2017

TEMPO REVERSO

BRASIL, LAVA JATO, DELAÇÕES, FRANÇA, ABRIL, MAIO, TEMPO REI
Foto: Pixabay Public Domain

Mais uma semana se vai e termina na base do pinga fogo. Tumultos, atentados, novas revelações, outras tantas descobertas e a constatação do óbvio foram a tônica dos últimos dias por aqui e no exterior.

O tempo não para, o mês de abril entra na sua última semana e maio bate às portas com seus 31 dias prometendo serem tão agitados como foram os de abril.

No Brasil e no mundo, a nova semana, embora curta por conta da Greve Geral e da proximidade de mais um feriado, começa decisiva e não menos efervescente que a anterior.

Eleições na França, votação do parecer sobre a Reforma Trabalhista e do projeto que revisa a lei de abuso de autoridade, possível paralisação dos Correios e provável instalação da CPI da Previdência no Senado prometem agitar o cenário nacional e internacional.

Ainda sob o impacto das revelações da Lava Jato, acusados e acusadores se defendem e partem para o ataque.

O Brasil é só pressão.

Fachin pressionando Janot, Lula e os outros acusados sendo pressionados pela força das delações, o brasileiro vivendo a expectativa das imposições das Reformas Trabalhista e Previdenciária.

O tempo ruge, a Sapucaí é grande e eu fico com a pureza da resposta das crianças. Porém, deixo alguns ditados populares para reflexão.

Quem jura é quem mais mente.

Quem quer vai, quem não quer manda.

Ignorante é aquele que sabe e se faz de tonto.

Depois de fartos, não faltam pratos.

Segue a vida que a vida segue!



20 de abr. de 2017

TAL E QUAL

ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS NA FRANÇA, FRANÇA, LE PEN, ELEIÇÕES PARA PRESIDENTE 2018, EXTREMA DIREITA, EXTREMA ESQUERDA
Eleições presidenciais na França dividem eleitores entre  extrema esquerda e extrema direita
Foto: Pixabay Public Domain
Imprevisível, mas com possibilidade de resultados surpreendentes. Essa é a expectativa em relação às eleições presidenciais que serão realizadas na França no próximo domingo (23).

O país, que vive a disputa mais polarizada dos últimos 50 anos, poderá ter como novo presidente um radical de direita ou de esquerda.

A única aposta mais provável de se concretizar, por enquanto, é que haverá segundo turno.

Entretanto, as chances dos socialistas e republicanos – tradicionais rivais nas urnas e que se revezavam no comando do país desde 1980 – são mínimas, o que confirma a decisão dos eleitores franceses em radicalizar a disputa, confiando seus votos a políticos de visões extremistas e, até certo ponto, preocupantes.

As propostas dos candidatos radicais de extrema direita e esquerda são parecidas e vão desde o protecionismo exagerado à xenofobia explicita, como a medida anti-imigração que visa reduzir o número de estrangeiros ilegais no país de 200 mil para 10 mil.

Apesar do comportamento dos eleitores da França ser um recado direto aos partidos tradicionais franceses, que durante mais de três décadas se alternaram no comando no país, ele não é um fenômeno apenas local.

O traçado eleitoral da França pode-se estender para a realidade eleitoral brasileira na disputa pela presidência em 2018.

Excluindo-se alguns detalhes, a situação política e econômica da França é tão desfavorável quanto a do Brasil e possui semelhanças com a nossa.

Lá, como aqui, o índice de desemprego está elevado, o crescimento econômico abaixo do desejado e aquém da média mundial, a insegurança e a instabilidade são crescentes e a decepção com os políticos tradicionais é um fato incontestável.

Assim como os franceses disseram aos políticos socialistas e republicanos tradicionais da França que eles não são proprietários do poder, os eleitores brasileiros também podem resolver dizer o mesmo aos dois partidos que polarizam as disputas eleitorais nos últimos 20 anos no país.

Desse modo, as eleições presidenciais na França podem servir de exemplo, ou como um balão de ensaio, para eleições gerais do ano que vem no Brasil.

Aqui como lá, a possibilidade de haver surpresas e reviravoltas no cenário político é grande.

Os eleitores brasileiros, tal e qual os franceses, também podem resolver optar pelo voto de protesto e indignação.

Candidatos com idéias e promessas extremas, tanto à direita quanto à esquerda, também não vão faltar por aqui nas eleições presidenciais do ano que vem.

Aliás, eles já estão por aí, mostrando a cara, afiando os dentes, prontos para dar o bote.

De qualquer forma, a eleição presidencial francesa mais imprevisível dos últimos 50 anos é um fato político internacional importante que deve ser atentamente observado por nós, afinal de contas, o Brasil pode se tornar a França de amanhã.

Bonne chance, France!