26 de fev. de 2016

VIOLÊNCIA GRADUADA

Estudo revela as violências que as mulheres ainda sofrem no âmbito das universidades e expõe a falta de preparo das instituições em lidar com o problema

Foto: Fernando Frazão / Agência Brasil (26/11/2015)

Em parceria com o Instituto Avon, o Instituto Data Popular divulgou recentemente levantamento sobre violência contra a mulher no ambiente universitário e apresentou números que compravam a vulnerabilidade, o desrespeito e a insegurança enfrentada por elas nas universidades brasileiras.

A pesquisa foi realizada ao longo de setembro e outubro de 2015 e ouviu de forma qualitativa e quantitativa 1823 universitários dos cursos de graduação e pós-graduação em todo o país. 

Especialistas no assunto também foram consultados em entrevistas de profundidade. Contudo, apesar da gravidade do problema a situação não mudou.

De acordo com o estudo, 10% das mulheres relataram espontaneamente ter sofrido violência de um homem na universidade ou em festas acadêmicas. 

Quando as mesmas perguntas foram feitas de forma estimulada, apresentando uma lista de violências, esse número subiu para 67%.

Os homens também responderam a mesma pergunta, mas somente 2% admitiram espontaneamente ter cometido algum ato de violência contra uma mulher dentro da universidade ou em festas acadêmicas. 

Já quando estimulados, a partir da lista de atos violentos, 38% admitiram ter cometido as violências descritas.


INSEGURANÇA E MEDO


Questionadas sobre a insegurança no âmbito das universidades, 42% das entrevistas afirmaram que já tiveram medo de sofrer violência no ambiente universitário e 36% já deixaram de fazer alguma atividade nessas instituições por receio de sofrer agressão física.

Entre as formas de violência pesquisadas estão o assédio sexual (comentários com apelos sexuais indesejados, cantada ofensiva e abordagem agressiva);

Coerção (ingestão forçada de bebida e/ou drogas, ser obrigada a participar de atividades degradantes como desfiles ou leilões);

Violência sexual (estupro, tentativa de abuso, enquanto efeito do álcool, ser forçada a beijar veterano);

Violência física (ser agredida fisicamente);

Desqualificação intelectual (piadas ofensivas por ser mulher);

Agressão moral e psicológica (Humilhação por professores e alunos, xingadas por rejeitar investidas, ofensa, etc.).

Em relação à agressão moral/psicológica, as imagens repassadas sem autorização ou a classificação em rankings sexuais e de beleza também integraram a lista: 24% das mulheres consultadas foram colocadas nesses rankings sem autorização e 14% delas tiveram fotos ou vídeos repassados sem sua permissão.

Entretanto, 71% de homens e mulheres têm conhecimento desse tipo de caso, 52% delas já sofreram algum deles e 24% dos homens admitiram que já cometeram atos dessa natureza.


NEGAÇÃO MASCULINA


Os estudantes masculinos ainda não reconhecem como violências muitos dos atos apresentados na lista estimulada, sendo que 27% não consideram violência abusar das garotas se elas estiverem alcoolizadas, 35% não consideram violências colocá-las em situações degradantes e 31% não vêem como abuso repassar fotos ou vídeos das colegas sem autorização delas.

Na cabeça do homem tudo isso é visto como consequência natural do comportamento da mulher ou como brincadeiras sem intenção de ofender ou intimidar.

Em relação ao assédio sexual, 73% de homens e mulheres conhecem casos assim, 56% delas já sofreram essa qualidade de violência e 26% dos homens já cometeram esse tipo de abuso.

Quando abordados sobre a coerção, 12% dos homens entrevistados assumiram que forçaram suas colegas a ingerir drogas ou bebidas alcoólicas. 12% das meninas disseram que já foram forçadas a ficarem alcoolizadas ou drogadas, 32% conhecem casos assim e 18% já foram vítimas.

No aspecto desqualificação intelectual, que envolve piadas ofensivas, os números também são altos: 62% de ambos os sexos sabem de casos, 49% delas já sofreram e 19% deles já praticaram.

Quanto a violência física ou agressão sem conotação sexual, a situação não é muito diferente e 62% de mulheres e homens têm conhecimento de casos, 49% das garotas já foram vítimas e 19% dos garotos que praticaram esse tipo de desmando.

Quando o assunto partiu para o lado da violência sexual, o que inclui tentativa de abuso sob efeito do álcool e toque sem permissão, 14% das garotas ouvidas conhecem casos de mulheres estupradas, 11% sofreram abuso quando alcoolizadas e 13% dos homens ouvidos confessaram que já cometeram estupro.


ATITUDE JÁ


Apesar da gravidade dos dados, a maioria das mulheres ainda deixa para lá, sendo que 63% admitem não ter reagido quando sofreram cada uma das violências pesquisadas, porém a maior parte quer uma atitude por parte das universidades.

Todavia, 64% dos homens e 78% das garotas concordam que o tema violência contra a mulher deveria ser incluído nas aulas.

Esse número ainda é maior quando questionados se as universidades deveriam criar meios de punir os agressores por cometer violência contra as mulheres dentro dessas instituições: 88% dos entrevistados responderam que sim e 95% das entrevistadas também concordaram.

Os números são alarmantes. As autoridades têm acesso aos dados, agora é agir. 

Universidades, mulheres, homens e a sociedade precisam tomar uma atitude punitiva urgente para combater e coibir os abusos. Isso é o mínimo que podem e devem fazer. 


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